sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Modelos em escombros

Nesta semana foram divulgadas as imagens de um calendário produzido com modelos do Reino Unido: fuzileiros navais após operações em países asiáticos. Perdas físicas são visíveis, apesar do entusiasmo e da determinação aparentemente perseverantes nos guerreiros, em cenas de práticas de esporte e exercícios em academias. O fotógrafo responsável afirmou que a intenção foi mostrar que "há aspectos positivos na guerra".

Na guerra, corpos e mentes saudáveis são lesados pelo aparato desenvolvido para atingir "o inimigo". O "inimigo", como se vê, é qualquer forma de vida acertada pelo arsenal, não importando a que exército pertença. Pessoas de diversas faixas etárias, animais selvagens ou domésticos, lavouras, todos estão sujeitos à ação dos armamentos. Ainda que voltados a determinados segmentos, como o agente laranja, - desfolhante usado no Vietnã, para facilitar a visualização aérea de possíveis alvos - podem ter efeito catastrófico quando em contato com os demais: o agente em questão causou impactos à vida dos humanos que tocou, além de aumentar as chances de má formação em seus descendentes.

Se há algo de positivo nas conseqüências de uma guerra, especialmente para os soldados, talvez seja a percepção de que a destruição não tem farda: afeta tanto quem tenta causá-la quanto quem dela tenta fugir. Há a chance de surgimento de alguma empatia após essa conclusão: o indivíduo ferido de forma física ou emocional (inclusive pela morte de parentes ou companheiros de batalha) pode imaginar um "oponente" na mesma situação. Infelizmente, essa empatia, se não servir de estímulo aos anseios pela paz, é "consolo" para os rancorosos: seu sofrimento seria semelhante ao dos adversários.



O calendário então é uma forma de conscientização: registro da duração de um ano, em toda a sua "densidade", alusão aos desafios diários da vida dos ex-combatentes. Ex-combatentes? Não: presos a uma eterna batalha de superação, dependentes de um arsenal tecnológico e estratégias para o desvio de arrependimentos e péssimas lembranças do confronto. As fotos são o reflexo de que, diante de um confronto armado, mesmo os mais experientes, fortes e treinados são vulneráveis. Foram produzidas na unidade de Hasler, dedicada aos cuidados com os militares feridos. Na delicadeza das mãos de enfermeiros e fisioterapeutas recuperam-se "corpos sarados" incompletos e mentes deprimidas ou ligeiramente doentes.

Quando oficiais são vítimas de percalços, certas autoridades são mais facilmente sensibilizadas, criando instituições para cuidar dessas pessoas. Os mesmos órgãos são acessíveis a pesquisadores e empresas, não necessariamente conterrâneos, que ali desenvolvem soluções para aumentar o conforto e a mobilidade dos indivíduos. As soluções apresentadas tornam-se disponíveis a vários cidadãos acidentados, portadores de deficiência ou algum problema motor. Nesse caso, a interação entre pessoas diferentes, educadas ou não para pensarem da mesma forma, atende interesses convergentes. Daí poderia vir a mensagem de esperança que o calendário quis transmitir. Portanto, mais útil que sua presença na parede dos civis seria sua existência nas mesas dos gabinetes de políticos, para que as conseqüências de uma guerra e da união entre pessoas sejam sempre lembradas.

Fotos usadas no calendário dos fuzileiros ingleses
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/11/111109_fuzileiros_galeria_fn.shtml

Sugestão de filme sobre a "apologia" à guerra:

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Reitoria e mídia ocupadas



A atuação de policiais no campus da USP – Universidade de São Paulo – divide opiniões... Entre os próprios alunos e poucos indivíduos que buscam uma versão dos fatos diferente da relatada pela maioria dos jornais. Várias pessoas não têm divergências de opinião, já que aceitaram a visão pré-fabricada por determinados meios de comunicação: Taxaram de “vagabundos” e “maconheiros” os manifestantes, sem ao menos tentar descobrir as causas dos protestos e confrontos com a polícia. Claro, eu também não estava lá nos dias em que tudo aconteceu, mas creio que seria interessante fazer algumas considerações.

A “incompatibilidade” entre o movimento estudantil e os policiais é antiga, tendo sua maior expressão no período da ditadura militar. A época é referência para o ativismo de hoje, constantemente interpretado como “rebeldia sem causa”, já que aos olhos de muitos a democracia e a liberdade de expressão já estão devidamente estabelecidas e não há razão para ações tão contundentes.

Atitudes nos protestos nem sempre são condizentes com os ideais pregados: a democracia e a liberdade defendidas são “postas à prova” quando ocorre a depredação do patrimônio público ou a “libertinagem” em relação às substâncias consumidas no campus. Ideologias libertárias e propostas de novas políticas quanto à descriminalização das drogas (por exemplo) tornam-se pretexto para que limites de conduta em ambientes públicos sejam testados. Tais excessos, como o vandalismo, podem ser pretexto para ações mais rígidas por parte de administradores e governantes. O anseio por mudanças, se expresso de forma irresponsável, pode lesar conquistas anteriores dos alunos e lesar a liberdade nas dependências do campus: a presença policial, antes com o intuito de evitar furtos e assaltos, pode começar a inibir também debates e conversas potencialmente subversivas, num ambiente que deveria ser livre para qualquer discussão, sob a alegação de que manifestações assolam a estrutura do campus, (financiada por dinheiro público).

A polícia militar (teoricamente) foi direcionada às instalações da universidade para diminuir a violência (incluindo assassinatos, como o de um estudante de economia, em maio deste ano). Segundo alguns alunos, há abusos por parte de policiais, como a abordagem de estudantes deitados nos gramados ou a revista de trabalhadores que “olham feio” para os policiais, ao andarem pelo campus. Professores da instituição também não estão imunes a procedimentos semelhantes.

Professor Luiz Renato Martins apóia a ocupação da USP
http://www.youtube.com/watch?v=8MTAcnr-LaQ&feature=share

Apesar dos excessos cometidos pelos estudantes, seria justo dar-lhes a chance de explicar as causas da revolta, freqüentemente atribuída somente à luta pelo direito de consumir entorpecentes nas dependências da universidade. Além disso, enfrentar a tropa de choque oferece riscos como o contato com sprays de pimenta, balas de borracha e cassetetes. Seria o direito de fumar maconha na USP o suficiente para impelir a permanência no prédio da reitoria? Ou há mais razões para os pedidos de negociação quanto ao policiamento no campus e a substituição da polícia militar por uma “guarda treinada”, sendo a detenção de usuários o “estopim” da revolta?

"O uso de drogas nunca fez parte da pauta do movimento"
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/11/entenda-ocupacao-feita-por-alunos-em-predios-da-usp.html

É pertinente buscar informações em fontes distintas, para que as conclusões não surjam apenas de uma das versões dos fatos. Já dizia a publicidade da Pepsi: questione!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Boca livre

O soteropolitano Gregório de Matos, considerado o maior poeta barroco brasileiro, era chamado "Boca do Inferno", por seus protestos rimados feitos em praça pública. Escárnio inteligente: humor politicamente incorreto no século dezessete.



Muito antes dele, como surgimento do teatro grego, havia peças denominadas comédias. Nelas, tudo poderia ser satirizado e era comum esse tipo de apresentação ter caráter político.



Gregório também viveu séculos antes da ditadura militar, de modo que podia gozar de liberdade de expressão (para gozar de todo o resto). A censura impedia protestos de forma direta, induzindo artistas a "disfarçar" aquilo que queriam dizer. Só os atentos captavam as mensagens que as autoridades deixavam passar na fiscalização. Assim, no período destacaram-se compositores inteligentes, como Chico Buarque, cujo cálice foi afastado com a abertura política, ao fim da década de oitenta.



Geraldo Vandré foi mais direto na canção "Pra Não Dizer que Não Falei das Flores", sendo duramente perseguido.



A censura aos meios de comunicação, no Brasil, teoricamente teve seu fim quando os militares deixaram o poder. Hoje o conteúdo a ser exibido precisa do alvará de editores e patrocinadores dos programas. Há sempre o risco de desagradar pessoas influentes e o problema tende a ser resolvido judicialmente, com aplicação de multas e indenizações.

Foi o que ocorreu com o comediante Rafinha Bastos, durante o "CQC" ("Custe o que Custar", exibido ao vivo, às segundas feiras, na Band). Anteriormente criticado por "apologia" ao estupro, afirmando que "quem estupra mulher feia merece um abraço", em sua última aparição no programa, Rafinha brincou com a gestante Wanessa Camargo, dizendo que "comeria" a cantora e seu bebê. A insinuação foi feita após comentário do jornalista Marcelo Tas, seu companheiro de CQC, de que Wanessa estava muito bonita grávida.

A piada sobre estupro rendeu a Rafinha o dever de se explicar ao Ministério Público, mas nem por isso a emissora excluiu o humorista de seu programa. Já o comentário sobre Wanessa, que em minha interpretação foi que Rafinha teria relação sexual com Wanessa estando grávida (assim transaria com a moça e o bebê simultaneamente), desagradou patrocinadores: Ronaldo Nasário (o "Fenômeno") telefonou à emissora para reclamar do conteúdo. O outro apresentador do CQC, Marco Luque, que tem um contrato com a Claro (sendo colega de Ronaldo) é conhecido de Wanessa e seu marido. Luque, apesar de rir da piada de Bastos ao vivo, publicou nota criticando a piada. Pesquisas com internautas constataram que a brincadeira do comediante foi altamente reprovada. Pela repercussão, é provável que minha interpretação da piada tenha sido muito ingênua ou otimista.



O fato é que, além de ter sido afastado do programa, o apresentador deixou de ter uma de suas matérias exibida, na semana seguinte: era uma conversa com crianças para saber o que pensavam sobre política e economia (foi anunciada em seu twitter). O CQC, sem Rafinha na bancada, não exibiu a reportagem, talvez para não mostrar a imagem do apresentador, "desgastada" após o incidente com a cantora. Já diziam os mafiosos: "abra a boca e a carteira com cautela". Alguns jornais afirmam que Rafinha Bastos pode ter que pagar uma indenização de cem mil reais ao casal, além de poder ser submetido a três anos de reclusão.

Mais reprovável que a atitude do humorista é a de querer punir com cadeia alguém que faz uma brincadeira em um programa ao vivo. Por pior que seja a piada (não só a feita por Bastos), uma suspensão na atração televisiva, o pagamento de uma multa (em valor que não precise chegar a cem mil reais) ou uma retratação seriam suficientes, em minha opinião. Detenção seria uma punição extrema, que além de exagerada para o caso (a meu ver), traria medo a outros profissionais da comunicação e do humor.

A repressão militar teoricamente não afeta mais a mídia. Mas talvez seja útil preservar a "censura do bom senso", medir as palavras quando dirigidas a um grande público. No caso de Rafinha, o humor "politicamente incorreto" é desnecessário, exagerado, chegando a ser grosseiro. O politicamente incorreto poderia ter apenas um caráter ativista, de protesto contra instituições ou líderes (por motivos justificáveis), mas tornou-se "obsessão" de alguns comediantes, possivelmente para atrair mais atenção. Humor inteligente não significa humor grosseiro: pode partir de observações, constatações, um sarcasmo mais leve e sutil. Do mesmo modo, quando desagradar alguém, deve haver negociação. A repressão para profissionais da comunicação também não precisa ser grosseira ou exagerada, como o cárcere. Por mais que se queira evitar a "libertinagem de expressão", deve ser mantida a liberdade de expressão.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O boticário

Dezoito de outubro: dia do médico. É considerado o protagonista da área da saúde, creio que não faltarão homenagens. Portanto, o texto de hoje tratará de um dos "coadjuvantes".. talvez não tão coadjuvantes assim. Por muitas vezes estarem atrás de um balcão, ou distantes do público, em laboratórios e farmácias, podem ter seu trabalho despercebido... o que de modo algum significa que seja menos importante (ou que aquilo que os clientes fazem ou consomem passe despercebido). São os farmacêuticos.

Farmácias estão por todo o lugar, em excesso tantos nas cidades de praias agitadas (oásis da juventude) quanto em comunidades nas quais os idosos predominam. São a primeira opção para obter material para curativos, remédios para compensar os excessos nas comemorações e aqueles materiais que constantemente são esquecidos na hora de arrumarmos as malas, mas que nem por isso são menos importantes: escovas de dente, absorventes, produtos de higiene pessoal e itens comuns em "pit stops" femininos, como maquiagens, escovas de cabelo e materiais para cuidar das unhas... Sem esquecer as lâminas de barbear (muitos homens tiram férias desses objetos quando estão em recesso, mas sempre há aqueles que preferem manter-se sem barba). Farmácias são a primeira alternativa para a compra de vários produtos, se não houver nenhum mercado ou loja de conveniência (de posto de gasolina) por perto. São o parada obrigatória para indivíduos alcoolizados, mães apreensivas com a febre dos filhos e até os que buscam benefícios estéticos, como furar a orelha ou adquirir tinta para os cabelos.

O que passa por suas mãos é visto, anotado... fica registrado no fechamento do caixa.
Podem existir câmeras de segurança. O farmacêutico sabe o que você foi comprar, sendo algo capaz de ser transportado sem constrangimento em carrinhos de supermercado ou de natureza mais sigilosa... aquele tipo de mercadoria que é constantemente embalada em saquinhos plásticos e embrulhos de papel pardo. Talvez haja alguma empatia nisso... Deve ter sido uma prática adotada por saberem como os clientes se sentem "traficando", fugindo da fiscalização, quando obtêm algo do qual outras pessoas não precisam (nem devem) ter conhecimento. Vai ver alguns desenvolvem a mesma ética, em relação aos segredos da clientela, que alguns padres afirmam ter no confessionário.
Compram-se:

Lactase



Métodos contraceptivos



Lubrificantes





Remédios para "adversidades" não muito respeitadas socialmente











Além das vendas, normalmente incluindo descontos, esses profissionais de jaleco também têm a função de produzir novos medicamentos e encontrar soluções com menos efeitos colaterais para a solução de problemas fisiológicos. É preciso estudar vegetais (fitoterápicos) e minerais (além do organismo humano) e conhecer as propriedades da combinação de reagentes (entre si e sua ação no corpo humano). É preciso força para macerar plantas e delicadeza para manusear pipetas. Há o cuidado para evitar contaminações e trocas de exames em procedimentos laboratoriais. Produtos vendidos são continuamente observados, para que prazos de validade sejam respeitados e lotes com algum erro na fabricação sejam recolhidos.

Seria justo mencionar os demais profissionais da área biológica: biólogos, nutricionistas, dentistas (ou cirurgiões dentistas, como preferirem), enfermeiros, auxiliares de enfermagem, agentes de saúde, fisioterapeutas, educadores físicos, psicólogos e os próprios médicos. A todos esses, parabéns pelo papel que exercem e por promoverem a qualidade de vida humana, diminuindo o sofrimento nos momentos em que a fragilidade humana é constatada e evitando que mais pessoas passem por situações semelhantes.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Ciência da vida



Era assim que chamava a matéria que lecionava. Tinha aparência nipônica, apesar de, segundo ele, ser descendente de índios e franceses. As diferenças que caracterizavam esse profissional já começavam por aí.

Natural de Santos - SP, tem um inegável sotaque paulista, que não agrada tanto os cariocas, como eu. Mas era impossível não se deixar hipnotizar pela forma como ministrava suas aulas, interessantes, divertidas e que transbordavam conteúdo. Duravam pouco menos de uma hora, mas nela absorvia-se muito mais do que em muitas aulas de tempo maior em faculdades. Comentários inteligentes e bem humorados completavam aquela odisseia do conhecimento, que preenchia estudantes e lotava salas de aula de cursinhos.

Era possível notar um entusiasmo e uma genuína vontade de viver, num sorriso constante e um olhar determinado. Atencioso, mas afirmava ter uma instabilidade de atenção que o deixava agitado, sendo inclusive motivo para apanhar de sua mãe. É, ele era espontâneo a ponto de falar sobre a própria vida na aula. Talvez por isso nós, alunos, chegávamos a confundi-lo com um colega ou amigo, na relação de afeto que acabávamos desenvolvendo por esse adorável ser humano.

Mas essa proximidade pode ter sido confundida por alguns com o descaso e a intimidade exacerbada. Por alguma razão, o educador foi desafiado pelo comportamento de alguns alunos e foi forçado a abandonar o cargo que exercia.

Desceu do tablado, palco de grandes artistas, que têm a habilidade de manter o olhar do público focado em sua performance, conseguindo a proeza de deixá-lo ansioso pela próxima apresentação. Há de continuar a viajar pelo mundo, nadando com os tubarões (agora só no sentido literal), descobrindo lugares e pessoas. Seguirá aprimorando a própria sabedoria, mas não mais a transmitindo do mesmo modo. A biologia descreve a arte da adaptação e esse profissional vai buscar um novo nicho, possivelmente um novo habitat, para encontrar o equilíbrio e desfrutar da ciência da vida.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Acendendo a discussão



Este ano foi lançado o documentário Quebrando o Tabu, disponível gratuitamente esta semana no site de um famoso provedor de internet. Produção do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (protagonista), do apresentador Luciano Huck e da produtora Spray Filmes.



Baseado em estatísticas e depoimentos de usuários, detentos, policiais e políticos, o filme abre a discussão evitando moralismo e antigos paradigmas, abrangendo aspectos socioculturais (incluindo povos pré-colombianos e a contracultura californiana, nos anos 60). São debatidas a subversão adolescente, o caráter político do uso de drogas para "negar convenções" e as conseqüências da proibição e do uso indiscriminado.

O cenário geopolítico estadunidense, com seus aspectos históricos e as circunstâncias (pertinentes ao assunto) encontradas por Jimmy Carter e Bill Clinton, ao assumirem o governo, são comentados pelos próprios ex-presidentes. Manifestam-se autoridades europeias de Portugal, Suíça e Holanda. França e Itália têm sua situação analisada. Há depoimentos sobre a força do narcotráfico na Colômbia e no México, além de um relato do ator Gael Garcia Bernal sobre o consumo de drogas e sua repercussão.



No Rio de Janeiro, há espaço para presidiários que tiveram algum tipo de envolvimento no tráfico falarem sobre o tema. O doutor Drauzio Varella descreve experiências na penitenciária feminina e o impacto da detenção nas famílias. São ouvidos o líder do projeto comunitário Afroreggae, especialistas em segurança pública e o escritor Paulo Coelho, que fala sobre as próprias vivências relacionadas às substâncias ilícitas.



O assunto constantemente censurado é explorado em conversas com adolescentes em escolas, que falam sobre a curiosidade e os possíveis impactos da venda sem tantas restrições. Visitam-se centros de tratamento de dependentes químicos e laboratórios de uso medicinal da Cannabis sativa. Os responsáveis são entrevistados.



Chega-se à conclusão de que a repressão policial e judicial não surte tanto efeito no controle do tráfico, além de oferecer um maior poder aos traficantes. A reabilitação traz mais benefícios quando desvinculada de aspectos criminais. Nos países em que a questão foi abordada de modo menos proibitivo, com mais alternativas aos que desejam abandonar o vício, houve uma queda no uso de entorpecentes, menor índice de contaminação por HIV e menos mortes por overdose.



É sugerida a descriminalização das drogas, ou seja, a perda da associação entre entorpecentes e o cárcere. Não exclui a chance de punição, desde que o desfecho seja outro: permita recuperação do dependente químico, com assistência médica, sem que ele adquira ficha criminal. Não se cogita a legalização, como na Marcha da Maconha. Legalizar seria permitir, sem objeções, a venda e o consumo.



O documentário não faz apologia ao uso de drogas: propõe meios de redução de danos causados por elas. A responsabilidade penal não é eficiente na diminuição do problema: É preciso pensar em políticas educacionais, informativas e menos violentas para afastar as pessoas (especialmente os jovens) dos riscos da dependência química. É necessário quebrar o tabu e falar sobre o tema.

domingo, 25 de setembro de 2011

O Bom e Velho Rock in Rio

Nasceu no Rio de Janeiro em 1985 e teve como berço a Cidade do Rock, construída em Jacarepaguá para receber o evento. O palco montado era o maior do mundo e a Cidade do Rock abrigava lojas e lanchonetes. Sua repercussão deve-se ao fato de que, antes de sua existência, grandes astros do rock internacional não costumavam vir à América do Sul. A ideia era permitir que o público latino pudesse ver de perto os ídolos e apreciar "o bom e velho rock n' roll". No festival, estiveram a australiana AC/DC, os ingleses de Iron Maiden , Queen , Whitesnake, Yes, Rod Stewart e Ozzy Osbourne. Da Alemanha, vieram os Scorpions e dos Estados Unidos, James Taylor. Os brasileiros participantes foram os cariocas do Barão Vermelho (ainda com Cazuza) e Os Paralamas do Sucesso, além de Ivan Lins e Pepeu Gomes.



Após o festival, o berço do "Woodstock carioca" foi demolido, por ordem do governador vigente, por motivo de reintegração de posse. A segunda edição aconteceu no Maracanã, há vinte anos. Entre artistas do exterior, predominaram os norte-americanos, com a presença de Guns n' Roses, Faith no More, Megadeth , Queensrÿche e a cantora Debbie Gibson. O rock inglês foi representado pelos grupos Judas Priest, Happy Mondays e os cantores Billy Idol e George Michael. Os noruegueses do A-ha e os brasileiros Pepeu Gomes, Moraes Moreira, Lobão somaram-se às bandas Engenheiros do Hawaii, Sepultura e Biquíni Cavadão. Naquela ocasião, a apresentação do New Kids on the Block causou polêmica entre os fãs do "rock de verdade".



Dez anos depois, a terceira gestação do Rock in Rio contou com a construção de uma nova Cidade do Rock, no mesmo espaço em que foi fundada a anterior. Adotou-se o slogan "por um mundo melhor" e surgiu a proposta de apresentações simultâneas, em ambientes distintos, nas tendas "Brasil" (para artistas nacionais), "Eletro" (com música eletrônica), "Raízes" (de música africana) e "Mundo Melhor" (de música internacional). Na abertura do festival houve três minutos de silêncio, representando um pedido de paz mundial. O evento tornou-se fonte de recursos para projetos educacionais da Unesco em comunidades cariocas, além de incentivos ao desenvolvimento de estratégias para a preservação ambiental.

Na terceira edição, a polêmica em relação aos convocados para tocar foi maior, pois integravam a lista Sandy & Júnior, Ivete Sangalo, Britney Spears e Carlinhos Brown (o qual foi alvo de vaias e garrafas d'água).



Este ano, a cantora baiana Claudia Leitte também não foi bem recebida pelos roqueiros. Vaias e gestos obscenos partiram da platéia quando a artista instigava o público a participar de uma coreografia. Talvez alguns perguntem-se: se não estão gostando, por que não se retiram do ambiente próximo ao palco? Simples: por se tratar de um festival, os shows ocorrem em seqüência e a "vaga" próxima ao palco deve ser guardada por quem desejar ver mais de perto o músico que se apresenta no show seguinte. Ausentar-se nas apresentações indesejadas pode ocasionar a perda de um lugar "precioso" para ver o ídolo. Para os menos resistentes, apresentações "desagradáveis" são úteis para ir ao banheiro (cuja fila dura quase um show inteiro) e aos locais de venda de alimentos.

Questiona-se nome do festival, que deveria ter apenas apresentações de rock. Sugere-se a criação de outros festivais, nos quais os músicos "não praticantes do rock" possam tocar. Mas apesar das discussões, a qualidade da performance de artistas consagrados é inegável. Impressionante como mesmo os mais velhinhos mantêm um padrão de agilidade e força na manipulação dos instrumentos musicais. Há artistas como o baixista Flea (da californiana Red Hot Chili Peppers), que além de executar com perfeição as músicas da banda, dançam vigorosamente no palco. Os bons shows com certeza justificam as horas de espera.



O Rock in Rio já ocorreu em Lisboa e na edição deste ano buscou-se um aumento da segurança para os participantes. A organização proibiu a entrada com caixas, isopores, capacetes, skate, patins, guarda-chuva, jornais ou revistas, bandeiras, faixas e bebidas alcoólicas. Não são permitidas câmeras fotográficas profissionais ou equipamentos de filmagem. Recomenda-se o porte de filtro solar, óculos escuros, boné e capa de chuva. Menores de catorze anos devem estar acompanhados dos pais ou responsáveis. Os portões ficam abertos das 14 às 4h e somente nesse período pode-se permanecer no local.

Para os que, como eu, não poderão desfrutar da música ao vivo, cabe assistir ao evento com mais segurança, no conforto do lar, via televisão ou internet (alguns sites realizam a transmissão em tempo real). E torcer não só por um mundo melhor, mas também pelo sucesso do evento e performances memoráveis.