domingo, 29 de abril de 2012

Focando o olhar desviado


"Olhe nos meus Olhos" trata-se de uma oportunidade de perscrutar o mundo a partir da sensibilidade e percepção de um portador da síndrome de Asperger. Frustrações da infância e dificuldades no entendimento de sutilezas (determinantes) no mundo corporativo são descritas por John Elder Robison, que só aos 40 anos foi diagnosticado como Asperger.

Morador de uma pequena cidade estadunidense, o menino John tinha pouca interação com outras crianças, que preferiam não brincar com ele. Os adultos não o consideravam menos estranho e o jovem foi constantemente reprimido por seu comportamento inadequado. A falta de entendimento das questões humanas não se mostrava no relacionamento com as máquinas e as habilidades para consertos e aprimoramentos tornaram-se convites para a prestação de serviços. John foi contratado e reconhecido por seu talento e determinação, ocupando diferentes cargos em ramos distintos.

Crises no âmbito familiar permearam sua adolescência e parte da vida adulta, aliando-se à rejeição de um mundo externo desconhecedor das peculiaridades de pessoas como John. A capacidade de resiliência do autor é notável e o diagnóstico tardio fez com que ele, já mais experiente, pudesse compreender e explicar seu comportamento (além de sensações e pensamentos) em episódios anteriores.
Entrevista recente do autor: (em inglês)
http://www.thetowerlight.com/2012/04/qa-with-author-john-elder-robison/

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Quem espera sempre...



Cansa! A espera é quase uma irmã siamesa do tédio e raras são as situações em que estes componentes do lado negro da força estão desvinculados. A demora instiga a ansiedade, para que ela termine e o que aguardamos resolver chegue logo ao fim. Vem quase sempre acompanhada de incertezas do porvir(incluindo quanto tempo ela há de durar) e se regada ao medo, é desesperadora. Aliás, o medo só existe durante a espera: pelo fim ou pela chegada de um problema. O medo é reflexo de se conhecer a chance do sofrimento surgir ou se perpetuar.



Um banco de reservas é uma boa representação dos sentimentos de espera. Pode-se deduzir pelos lábios mordidos e cenhos contraídos que atleta nenhum prefere estar ali, nem mesmo num momento da partida em que a derrota seja inevitável. Sente-se impotente diante dos erros do time e dos acertos do adversário. Quer melhorar o placar. Os olhares fazem o que o todo o corpo deseja fazer: entrar em campo/quadra. Creio que em cada ocupante dos bancos haja sensação de que algo mais poderia ser feito pela equipe e esse algo poderia vir de si mesmo. Aliada à vitória, a espera acumulada é o combustível para que os jogadores se levantem apressadamente no final de uma partida, correndo ao encontro dos companheiros que participaram ativamente da competição.

A espera é algo tão assustador que filmes de suspense baseiam-se amplamente nesse recurso, com seus enquadramentos de expressões faciais de tensão quanto ao perigo iminente. A cena que causa mais medo ao espectador não é necessariamente aquela em que o assassino aparece armado e começa a atacar a vítima: muitas vezes é aquela em que os "inocentes" tentam fugir e ficam olhando ao redor, prevendo o desfecho daquela perseguição. A espera também ocorrer por pouquíssimo tempo, no intervalo em que o algoz é visto por sua presa. Com opções restritas, ela opta por gritar até o início do contato físico, ou até que gritar ainda lhe seja possível.

Uma imagem digna de capa de CD de banda de rock "agressivo", para mostrar o quanto seus integrantes "conhecem a dor", sendo então roqueiros mais respeitáveis... (tese defendida pelo cantor Lobão, que participando de um programa na TV, afirmou: "quanto mais adereços soturnos e ameaçadores, mais roqueiro você vai aparecer diante do seu meio social.") Se esquecida pelas bandas de metal ou rock progressivo, a "passividade inquietante" foi devidamente reconhecida pelo grupo carioca O Rappa, como um bom nome para um álbum com músicas de caráter reflexivo sobre as mazelas da sociedade: "O silêncio que precede o esporro".



O tema seria igualmente bem aproveitado com as imponentes sentenças "os minutos antes de apresentar seminário", "a véspera divulgação da lista de aprovados no vestibular", "as horas anteriores ao teste de autoescola" e outras frases de conteúdo sádico, possivelmente censuradas pelas gravadoras ou produtoras de filmes de terror para que mentes mais sensíveis pudessem continuar saudáveis.

Infelizmente, o "repouso forçado" não pertence somente aos filmes de Hithcock ou aos intervalos comerciais de programas que tragam alguma notícia (aquela mesmo, que todos querem assistir e que sempre vão passar no próximo bloco, mas só aparecem no fim do programa). A vida nos impõe muitos bancos de reserva: torcida pelo abandono de vagas dos que passaram em concursos (para que existam vagas remanescentes e outros candidatos possam ocupá-las), a chamada para uma conversa séria, o período que passamos sentados à procura avisos para embarque ou desembarque. Ainda que, sabendo da efemeridade da própria existência, o ser humano tente arduamente abreviar a espera e desenvolva as mais variadas tecnologias para apressar o ritmo dos acontecimentos.

Depois de algum tempo, a calmaria deixa entediado até o viajante sobrevivente de tempestades e condições ambientais extenuantes. O desconforto da espera, se não vem da dúvida ou do medo do sofrimento, vem da certeza de que o tempo corre (algemada ao punho ou permeando pensamentos diários) e de que não viveremos para sempre: temos medo de desperdiçar o tempo e pressa para experimentar o que suas frações têm a oferecer.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Escritores do próprio destino

A atriz Hillary Swank, após as atuações em "Menina de Ouro" e "P.S.: Eu te Amo", mais uma vez protagonizou um relato comovente: a história real de uma professora disposta a incentivar os alunos a melhorar a escrita do próprio destino.

A palavra "caligrafia" vem do grego. "Cali" significa bonito(a) e "grafia" é o mesmo que escrita ou registro. Portanto, pode-se dizer que a "grafia" tornou-se "caligrafia", após a intervenção da profissional, que tinha como objetivo fazer seus alunos enxergarem seus dilemas e desejos, enquanto contavam-nos aos demais: cada aluno foi convidado a escrever um diário, cujo conteúdo poderia ser compartilhado.

Num ambiente em que as diferenças étnicas e o preconceito ditavam o comportamento hostil dos alunos, atividades como uma dinâmica em que semelhanças foram apontadas serviram para estabelecer uma relação de respeito (e posteriormente amizade) entre a turma.



A dedicação e o trabalho árduo da educadora apresentaram resultados muito além dos esperados. Os jovens passaram de excluídos a empreendedores (quando arrecadaram dinheiro para um de seus projetos) e administradores de sua vida.

"Escritores da Liberdade" traz uma visão otimista e inspiradora da capacidade que cada indivíduo tem de aliar conhecimento a transformação. Motivador para qualquer educador, não só os profissionais da educação: somos todos educadores, já que nossas atitudes tornam-se exemplos (bons ou ruins) e nossa conduta dita as respostas dos indivíduos que conosco convivem. Indiretamente, interferimos no comportamento alheio.



O judoca Flávio Canto, ao comentar um projeto social no qual trabalha, disse que "passado não é destino". O filme, resumidamente, demonstra o processo que deu o nome à ONG de Flávio Canto: reação.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Olhar desbotado

O filme nacional "Olhos Azuis" traz um olhar nada celeste sobre as barreiras à imigração legal.



Imigrantes latinos são retidos na Alfândega do aeroporto JFK, para que Marshall, chefe do Departamento de Imigração, possa fazer sua "festa de despedida", antes da aposentadoria. O sarcasmo do chefe inicialmente diverte os colegas Sandra e Bob, que disputam o cargo a ser deixado por Marshall.

O brasileiro na alfândega:



Nonato graduou-se em História pela Universidade Federal de Pernambuco e teve dificuldades em se sustentar como professor. Pai da menina Luiza (não aquela que foi ao Canadá), decidiu trabalhar no exterior para conseguir mais dinheiro e enviar para a família no Brasil. Obteve sucesso como empreendedor, fornecendo refeições para trabalhadores noturnos.

Foi ao Brasil visitar sua família e teve surpresas ao passar pela alfândega, ao tentar retornar aos Estados Unidos. Como historiador e imigrante legal, critica a "recepção" norte-americana e as situações pelas quais precisa passar para viver no exterior. Torna-se porta-voz de todos aqueles que buscam uma vida melhor fora do país de origem. Considerações interessantes também são apresentadas por uma bailarina cubana, que vai aos EUA a convite de uma companhia de dança, e pela brasileira Bia, que ajuda Marshall em sua jornada pelo Brasil, determinada por um trágico incidente.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Letrinhas da SOPA

"Old pirates, yes they rob I" ("piratas antigos, sim, roubaram-me"), disse Bob Marley referindo-se aos que lucraram com antigas colônias de exploração (países como a Jamaica, terra natal de Bob). Pois agora, os "piratas" em questão (ou corsários, já que contam com o apoio governamental) desejam proteger a fortuna (financeira e cultural) que construíram e saquear a liberdade de compartilhamento de conteúdo na internet.

A internet é um recurso interessante para que todos tenham acesso à informação de modo rápido e gratuito. Torna inexistentes distâncias intercontinentais e fronteiras, dispensando também aduanas e uma fiscalização mais rigorosa. Não há revistas, nem cota de importações. Um imenso Duty Free livra consumidores não só dos impostos, mas também de taxas de aquisição dos produtos. Estes preenchem a bagagem cultural dos usuários, podem instigar-lhe reflexões e o entendimento da realidade de outras nações: comparações importantes para que tomemos atitude, seja ela a de imitação ou ações para que o demonstrado não se repita onde vivemos. Sensibilização, empatia e ativismo podem partir do material disponibilizado.

Sites de "distribuição" de informações (de todo o tipo, não apenas as "eruditas") são uma ferramenta de mídia em que qualquer pessoa pode atuar: não há a passividade exigida pela televisão, da qual somente recebemos conteúdo. Internautas têm o poder de criticar, elogiar e questionar um material, discuti-lo em fóruns, falar diretamente com o autor da publicação. Qualquer cidadão pode postar um vídeo registrando problemas em sua comunidade, divergências entre a realidade e o discurso de representantes. Todos são livres para falar a um grande público, mostrar sua criatividade, divulgar o que desejarem. Dividir boas experiências... inclusive músicas, seriados e filmes.



Aí estaria o problema: o milagre da multiplicação do material "protegido" por direitos autorais. A propriedade intelectual deixou de ser "propriedade": é distribuída sem restrições. O beneficiado não precisou pagar pelo que recebeu, mas o mesmo não ocorreu com produtores de filmes, músicas, livros e softwares: artistas, editores e todos os envolvidos num processo de criação deixam de receber por parte do que produziram: Livros, CDs e DVDs que seriam comprados são simplesmente obtidos por download. Profissionais envolvidos perdem o dinheiro útil para quitar dívidas de produções anteriores e na realização de novas produções. Sabemos o quanto é difícil viver de arte ou apostar na ideia de um novo produto a ser lançado, como fez Steve Jobs (aquele mesmo, da Apple). É preciso buscar patrocinadores e honrar compromissos, convencer os demais de que aquilo em que se acredita trará resultados positivos, sendo então digno de confiança e investimentos. Ninguém, nem mesmo os criadores, têm a certeza de que a empreitada dará certo. Corajosamente arriscam ao pensar nas possibilidades. Portanto, é justo oferecermos mais que o aplauso e a admiração, pagando pelo serviço prestado.

Apesar de interessante para os produtores como publicidade de um trabalho executado (para que muitos conheçam as obras e passem a acompanhar seus idealizadores), o compartilhamento sem tarifas tem as mesmas conseqüências da pirataria. Assim, autoridades dos Estados Unidos propuseram a SOPA (Stop Online Piracy Act - "Paralisação da pirataria na internet") e o PIPA (Protect IP Act - "Ato de proteção à propriedade intelectual"). As medidas favorecem produtores, mas assolam a liberdade de disseminação de conteúdo na internet. Preveem rigorosas punições aos "Robbin Hoods" da internet, além do fechamento de sites de compartilhamento (como YouTube) e download (Megaupload - já fora do ar - Rapidshare, 4Shared e Pirate Bay). O Google terá restrições e pode ser punido se um site de compartilhamento aparecer como resultado da pesquisa efetuada. Estima-se que 70% dos resultados de busca no Google seriam omitidos.

Entre opositores estão Tim Berners-Lee (inventor do World Wide Web - WWW), Mark Zuckerberg (do Facebook) e os responsáveis por organizações como Twitter, Google, Yahoo!, LinkedIn, Mozilla, Zynga, Wikimedia, Amazon e eBay.

A rede televisiva CBS, a produtora Walt Disney, Universal Music Group, Toshiba e Wal-Mart são favoráveis às medidas. A Eletronic Arts (criadora de jogos como The Sims e Simcity) e Sony retiraram seu apoio após protestos, que também foram suficientes para suspender a votação das propostas.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Animado Natal

"Então é Natal"... E se trocarmos a música? Prefiro o rock às versões em cavaquinho ou a voz da Simone (já gostei, mas ouvi até enjoar).



"Presentes":

Jingle Bell rock, com Skid Row;
http://www.youtube.com/watch?v=hQjINiDA1n0

Santa Claus is comming to town, por Alice Cooper;
http://www.youtube.com/watch?v=In3sApWlY1s

Ramones retratam festinha de Natal;
http://www.youtube.com/watch?v=4Y5GtaTrPHM&feature=related




Para os fãs de música eletrônica: Jingle Bell remixada;
http://www.youtube.com/watch?v=HXyWZq70_CU&feature=related

Jingle Bell por Basshunter.
http://www.youtube.com/watch?v=fEyV_GfRVuw&feature=related

Uma ótima noite a todos! Que o ritual seja cumprido em harmonia e, se possível, com inovações! Troque presentes, abraços, cartões... palavras! Expresse os melhores sentimentos pelos demais. Que a gratidão se faça presente e a árvore de plástico renda bons frutos!

Que tal fazer uma doação e tornar mais feliz o Natal alheio? Doe um comentário na caixa de texto abaixo! Obrigada.

A todos, um feliz e animado Natal!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Hipervergonha



“Xingaria muito no twitter”, mas 140 caracteres seriam poucos para o que quero dizer. Fui hoje ao Big e comprei alguns livros. Alguns deles tinham aquela etiqueta em alto relevo, com um código de barras. Paguei, obviamente. Ao sair, os biombos apitaram. Todos que passavam ali perto pararam o que estavam fazendo e ficaram olhando. Voltei e falei com a moça do caixa. Resposta: “Ah, é assim mesmo, é normal. Acontece às vezes.” Fiquei p***, mas não quis “armar barraco”. Fui embora. Ao sair, passei novamente pelos biombos, que mais uma vez apitaram. Um casal ficou olhando para mim de modo mais “agressivo” que outras pessoas, na primeira vez em que as máquinas apitaram.

Creio que dificilmente alguém furtaria algo e passaria pelos biombos, sabendo que um alarme iria soar. É muito mais fácil passar “do lado”, apesar de ser um caminho menos espaçoso. Ou levantar os braços, para que o produto passe acima dos detectores. Passar pelas máquinas com o produto roubado seria muita falta de “noção”. Além disso, como qualquer equipamento, os detectores poderiam apresentar problemas em seu funcionamento. Mais um motivo para que as pessoas pelo menos disfarçassem quando estivessem me condenando.



Conclusão: quando for ao Big e comprar algo com a etiqueta em alto relevo, exija que ela seja removida no caixa. Um bom argumento? "ah, então eu nem vou pagar: quando eu sair vai apitar de qualquer jeito.. é melhor roubar que comprar."
E se você estiver no mercado e os detectores apitarem para alguém, não fique “encarando” a pessoa: talvez ela não esteja roubando.