terça-feira, 2 de agosto de 2011

Muro das Lamentações



Iniciou-se o Ramadã, mês de jejum dos muçulmanos, período destinado também a muitas orações e mais atenção às escrituras sagradas (no caso, Alcorão). Mas você, pessoa distinta e culta (obviamente por fontes de conhecimento diferentes deste blog) percebeu que o texto não é relacionado à cultura islâmica, e sim a uma peculiaridade judaica: o muro das lamentações.

Uma breve história do muro: Resto (i)mortal do segundo templo judaico destruído (construído em substituição ao primeiro, literalmente derrubado por opositores, os babilônios). O muro teria "sobrevivido" porque os romanos, sob o comando de Tito, teriam deixado a relíquia como forma de lembrar os judeus da destruição de seu segundo templo. Talvez por sua origem "destinada" a lamentações, o muro tornou-se local de peregrinação para os judeus, que tradicionalmente depositam papéis com pedidos nas fendas entre os tijolos. No local também são realizadas orações.



Lembrando Pink Floyd, em "Another Brick in The Wall", o sistema (não só o educacional) tenta atribuir padrões às pessoas, talvez apenas por questões de registro e organização. Já dizia Raul, "quem não tem papel dá o recado pelo muro" (verso de uma das versões da música "Como Vovó Já Dizia") e "eu também vou reclamar" (é, fui dominada pela vontade de reclamar, sem que isso se torne reclamação de outra pessoa. Logo a reclamação não será feita ao vivo e sim aqui pelo blog mesmo).
Eis que fiz do texto a seguir o meu "muro das lamentações".



O relógio nas mãos de Raulzito, na imagem, já lembra algo incontrolável, porém controlador: o tempo. Claro, poderia me organizar melhor e controlá-lo (ainda que ligeiramente), mas a atividade foge à minha natureza de procrastinação. A primeira reclamação teria a ver com procrastinação, estudos e o posterior arrependimento. Contudo, falar sobre o tempo me lembra de que "não temos tempo a perder". Possivelmente, a pior forma de desperdiçar o tempo é usá-lo para reclamar. Portanto, tal qual o Muro de Berlim, meu muro das lamentações há de ser demolido, ao menos momentaneamente, em meus pensamentos. Sem que sua história desapareça, pois apagar o texto seria ago digno de mais uma (e só minha) lamentação.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Convite à Paralisação em 1º de Agosto de 2011



Há quase dez anos, ocorreu o movimento "Fora Collor", em que a população saiu às ruas para pedir o Impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. As fotos, muitas já em preto e branco, lembram um passado cinza, mas que o Brasil não deve esquecer. Cinzas são o que parece ter restado do empenho de incendiar (pacificamente) as ruas e pôr no "Tribunal do Santo Ofício" os "pecadores da política". A "inquisição" não precisa se valer da violência, mas da demonstração da indignação. Não aquela resumida à tela do computador, mas que seja realmente notável e cause constrangimento (leia-se vergonha ou apreensão) aos que vendem indulgências na campanha eleitoral e, posteriormente, levam o "rebanho" ao purgatório socioeconômico.

Nossa cidadania não deve "passar em branco" em fases negras da política, pois ela esteve presente até para escrever com o vermelho do sangue o fim da ditadura militar.
Talvez seja hora de colorir novamente as ruas (e faces) e reinventar os "Caras Pintadas", que exigiram a retirada de Fernando Collor do poder.



Este ano surgiu a proposta de uma manifestação em todo o Brasil, organizada por meio de redes sociais. A ideia é simples: no dia 1º de Agosto, segunda-feira, os adeptos devem parar suas atividades profissionais e sair às ruas com uma camiseta com a mensagem "hoje eu parei". O movimento tem discussões entre adeptos em diversos blogs e comunidades do Orkut.



O governo deve atender às necessidades do povo e não tornar-se o sustento de seu acúmulo de bens e de anos de corrupção. Melhorias na política são um direito da população jovem e adulta e, possivelmente, a melhor herança aos nossos descendentes. Sejamos ativistas com a participação consciente nas urnas e (quando necessário) nas ruas.

Vídeo da campanha: http://www.youtube.com/watch?v=2Hrn7a6UU9I

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Dia Mundial do Rock

Para mim e tantas outras pessoas, todo dia (ou quase) é dia do rock. Mas a data de hoje é uma alusão há um evento ocorrido em 1985, o Live Aid, organizado por Bob Geldof. O cidadão em questão tinha uma vida "confortável", até que um dia, às vésperas do Natal, assistindo à TV em sua casa, viu um documentário sobre a situação de grande parte do povo africano. Perguntou-se "Do they know it's christmas?" ("Eles sabem que é Natal?"). A partir daí, passou a dedicar-se à causa social, usando o rock como forma de chamar a atenção do público e arrecadar fundos. Com maior repercussão, o evento foi repetido em 2005, denominado Live 8, instituindo em 13 de julho o dia mundial do rock. Convenhamos que um aniversariante de mais de um quarto de século é digno de homenagens.



Bem mais antigo, o rock surgiu no final da década de 40, pós segunda guerra mundial, possivelmente uma resposta agressiva a um sistema ou uma tentativa de politizar e conscientizar os jovens. Influenciada por música clássica, jazz, blues e música country, o rock seria uma forma menos "dramática" (do blues) e mais "dançante" (que o jazz) de expressão de idéias "revolucionárias", ou tradutoras do comportamento e das necessidades dos jovens. Apesar de toda a fama dos Beatles e do título de "rei do rock" de Elvis Presley (perdido em 2007 para Freddie Mercury, vocalista do Queen, em pesquisa realizada pela revista inglesa "Q"), o rock surgiu por meio de artistas (relativamente) pouco conhecidos: Chuck Berry (autor da máxima: "por que os jovens gostam de rock? Porque os pais não gostam, é claro!")...

Chuck Berry - Johnny B. Good
http://www.youtube.com/watch?v=Kew3Xx6e8-I&feature=related

E o ainda menos conhecido Little Richard, que como muitos negros americanos, teve sua iniciação no meio artístico com a música gospel. Era o terceiro de doze filhos e já em sua adolescência começou a se interessar por blues.

Little Richard - Long Tall Sally
http://www.youtube.com/watch?v=QFL047fmsgg

O estilo musical surgiu nos subúrbios estadunidenses. Aliado às questões raciais que permeavam a mentalidade da época, esse foi mais um fator para que o rock não fosse tão bem aceito inicialmente. "Suspicious minds" ("mentes desconfiadas") impediram o sucesso imediato dos artistas e a popularização do ritmo só ocorreu nos anos 50, com a ascensão de Elvis Presley, o "bonitão" polêmico, pois "dançava como negros".

Elvis foi descoberto por acaso. Chegou a atuar no exército e a trabalhar como caminhoneiro. Certa vez, para presentear sua mãe, gravou um compacto em que cantava. O responsável pela gravação interessou-se pelo rapaz e convidou-o para gravar mais músicas, incluindo as dos "pais do rock".

Elvis Presley - Blue Suede Shoes
http://www.youtube.com/watch?v=Bm5HKlQ6nGM



A década seguinte trouxe ao mundo o quarteto mais famoso de Liverpool: The Beatles. Poderia ser uma "boy band" qualquer, não fosse a qualidade de suas músicas, respeitadas até hoje de forma quase unânime. A "beatlemania" chegou a ter mais impacto que o sucesso de Elvis. Os rapazes cantaram por todo o mundo e chegaram a fazer adaptações de suas músicas.

Adaptação de "She Loves You" em alemão ("She Liebt Dich")

http://www.youtube.com/watch?v=Y4WXHpkKkDA&feature=related

Paul McCartney continua ativo, como músico e ativista. Como ele, outros "veteranos do rock" ainda fazem sucesso:

O também inglês e nascido na década de 60, The Rolling Stones.



Apenas Mick Jagger (vocalista) e Keith Richards (guitarrista) são da formação original da banda. "I'm too old for rock 'n roll, but I like it" ("sou muito velho para o rock n' roll, mas gosto", já dizia a letra de "I Like It", da mesma banda).

E os "sobreviventes" do glam rock (do qual fizeram parte os britânicos Mick Hucknall, vocalista do Simply Red, e David Bowie)...





A Banda de hard rock nova-iorquina "KISS".

Talvez mais conhecida pelo visual que pela produção sonora, a banda conseguiu manter o anonimato, apesar do sucesso, devido ao uso de maquiagem "pesada", a qual foi inspirada em preferências e características de cada um dos músicos: Paul Stanley (vocalista, guitarrista rítmico e fundador) desejava ser um astro do rock, portanto adotou uma estrela. Gene Simmons (baixista, vocalista e o outro fundador) gostava de filmes de terror e preferiu uma aparência "assustadora". Os demais integrantes entraram na banda por um "processo seletivo" (entrevistas). Segundo relatos, Ace Frehley tentou furar a fila e estava tão "maltrapilho" que só não foi confundido com um mendigo porque portava uma guitarra. Teve sucesso na entrevista e conseguiu "vaga" como vocalista e guitarrista solo. Por seu comportamento "disperso" e distraído, escolheu "produzir-se" como "Space Man" ("homem do espaço"). O baterista Peter Criss foi aceito por concordar com a proposta de aparecer no show em trajes femininos, se lhe fosse pedido. Por gostar de felinos, escolheu o visual de "homem gato" (Catman). As apresentações do grupo incluem "pirotecnia" e efeitos especiais, além da aparição da língua de Gene Simmons.

No Brasil, bandas como Titãs e Capital Inicial abandonaram seu estilo punk dos anos 80, para uma produção sonora mais "popular" no fim dos anos 90.





A ascensão do rock nacional, nos anos 80, foi uma resposta ao período da ditadura. Oposta aos hits "comportadinhos" da Jovem Guarda, surgiu a cena punk no rock nacional. "Garotos Podres", "Plebe Rude" (com o hit "Até Quando Esperar?"), Vírus 27, Lobotomia, Cólera tornaram-se conhecidos. Houve também o rock menos "underground", que (talvez por não vir tão "de baixo", conseguiu ascensão mais rápida) teve maior aceitação do público, composto por Ultraje a Rigor, Barão Vermelho (com Cazuza), Legião Urbana e Os Paralamas do Sucesso.

E como disse Ozzy Osbourne, "enquanto houver jovens revoltados, haverá rock". Seja ele punk, hard, progressivo ou de outra vertente. Happy rock? Esse eu prefiro não chamar de rock, pois é destituído do caráter subversivo e de politização do gênero. "Tocar Raul" ou tentar driblar "something in the way" ("algo no caminho") para ouvir Nirvana pode ser uma alternativa. Mas para não "viver do passado", é preciso buscar inspiração e "novidades sonoras", como tão bem fizeram Little Richard e Chuck Berry.

sábado, 9 de julho de 2011

Formato FastA dos Pensamentos



FastA é uma forma de representação de sequências de nucleotídeos ou peptídeos, em formato de texto, usada na bioinformática. O texto de hoje não é sobre bioinformática, mas sobre uma a forma de arte que combina a capacidade de abstração à de expressão, sem a necessidade de cálculos ou representações matemáticas. Envolve transcrição e um mensageiro, mas não o RNA. Trata-se da escrita, que posterior às pinturas rupestres e ao desenvolvimento da fala, tornou-se forma significativa de acúmulo e transmissão de conhecimentos, tão vitais à ciência e (até mesmo) às áreas do conhecimento "rivais da literatura": engenharia e matemática.


Estima-se que a escrita tenha surgido em 3500 a.C., para o uso da matemática "financeira" e da contabilidade: era usada para registrar pagamentos de impostos e quantidades de mercadorias. Adquiriu diferentes conformações e complexidades, com diferenças em símbolos gráficos utilizados por diversos povos e o surgimento da pontuação, entre outras modificações. Pode-se dizer que se tornou mais complexa... principalmente no "declínio" da caligrafia, ligeiramente acentuada pela disseminação da máquina de escrever e da informática. Caligrafia é uma palavra de origem grega. "Cali" significa "bonito" e "grafia" representa "escrita" ou "registro". Mesmo assim, a palavra é usada tendo o mesmo sentido de "grafia", para representar um padrão de letras bonito ou feio (talvez este devesse se chamar "cacografia", pois "caco" significa "feio" em grego). A teoria mais aceita para o fato de escrevermos da esquerda para a direita é a que assim evitaríamos passar a mão sobre aquilo que escrevemos, "danificando" a escrita. Para não dizer que esquecemos os canhotos, vale lembrar que as escritas chinesa, japonesa, árabe e hebraica (usada pelos judeus) são feitas da direita para a esquerda.

Como qualquer forma de expressão ou de ciência, há aqueles que dela se utilizam com maior habilidade: escritores. É sobre alguns desses artistas (e suas obras) que falarei hoje.

Diria que alfabetização foi a maior herança deixada a mim pela educação básica. Fazer contas não foi algo tão marcante, nem sei dizer se aprendi antes ou depois de escrever. Aliás, dizer que aprendi pode ser demasiadamente otimista, se observar minha atual (falta de) habilidade para cálculos. Comecei a gostar de ler com histórias em quadrinho, mais especificamente da Turma da Mônica. Ganhei com elas alguma fluência e parti para os livros. Não lembro qual foi o primeiro livro que li, mas acredito que tenha sido um desta série:



Seria injusto não citar os de conteúdo mais denso (e que realmente fizeram a minha cabeça) e vieram depois, com os das séries do "Castelo Ra-tim-bum",



"Onde está Wally?",



Manuais da Turma da Mônica...



"Salve-se Quem Puder" e "Bruxa Onilda".



Falando em "bruxa", há outro livro bem interessante (inteligente e divertido), chamado "Manual Prático de Buxaria - em 11 lições", de Malcolm Bird. Foi um presente da minha mãe, quando fomos a uma livraria no Shopping Recreio, no Rio. O livro é tão bom quanto a lembrança que tenho daquele momento.



Posteriormente fui apresentada ao “Diário de um Adolescente Hipocondríaco"...



E o de sua irmã, Susie. Vieram a série “Obrigado Esparro”, de vários autores...



E os dois volumes de "Diário de um Magro", de Mário Prata, cujo título é um trocadilho com "O Diário de um Mago" (na época, desconhecido por mim), de Paulo Coelho.



O politicamente incorreto, como “Vizinho”, de Castelo, aliado a obras de humor ligeiramente sarcástico, como “Caçando Príncipes e Engolindo Sapos” (e a versão masculina, “Procurando Princesas e Encontrando Bruxas”), foram predominantes nesse período. Eram livros para adultos ou adolescentes, divertidos e de linguagem leve e simplificada. Parecia a melhor opção na época, já que não havia, como hoje, tantos livros voltados ao público entre nove e dez anos. Mas, voltando às origens, vieram este ano “A Vida Sexual da Mulher Feia” e “Dez(quase) Amores”, de Claudia Tajes (foto abaixo), de estilo semelhante aos comentados acima.



Aos onze, veio a série “Harry Potter”, de J.K.Rowling, “viciante”, se comparada às obras literárias que conheci anteriormente.



Gostei de "Depois Daquela Viagem", de Valéria Piazza Polizzi, que conheci na época.


Nesse período, tive o primeiro contato com os livros de Luis Fernando Veríssimo, em “Comédias para se Ler na Escola”.



O “Veríssimo pai” (Érico, à esquerda na imagem acima) surgiu em minha vida anos depois, na preparação para um vestibular, em que li “Incidente em Antares”. Ambos os “Veríssimos” escrevem de forma divertida e inteligente, mas sendo mais velho, Érico exige de seus leitores também mais “experiência de vida”, para compreender sua linguagem complexa e as alusões à história (Getúlio Vargas e até artistas como Hieronymus Bosch), além de mais “maturidade” para ler até o fim um livro consideravelmente mais extenso. E talvez por isso, mais marcante.

O vestibular também foi importante na transição de obras “adolescentes” para as “mais sérias”, como narrativas envolvendo problemas sociais. Houve exceções, como “Brasileiros Pocotó”, de Luciano Pires, que li aos quinze. Mas só o vestibular nos obriga a ler obras de teor “depressivo” como “Homens e Algas” (Othon D’Eça) e “A Vitrina de Luzbel” (Aulo Sanford de Vasconcelos). “Relatos Escolhidos” (Silveira de Souza) é um livro bastante deprimente, mas ainda pode ser “salvo” por um de seus contos, denominado “O Olho de Deus”. “O Guarda-roupa Alemão”, de Lausimar Laus, pode não ser tão “trágico”, mas também não pode ser descrito (por mim) como algo digno do tempo necessário para ser lido.



Vale citar o sofrível Macunaíma, de Mário de Andrade.
Apesar de muito bem falado, “Eles Não Usam Black-tie” (de Gianfrancesco Guarnieri) não me agradou muito.



Nunca tinha lido um livro inteiro de poesia, mas o vestibular instigou a leitura de “Quintana de Bolso” e de “O Código das Águas” (agradou-me bem menos que o Quintana, na imagem acima), de Lindolf Bell. Apesar das belas frases encontradas em alguns dos poemas, é uma obra bastante subjetiva (quase surrealista em alguns momentos). Vinícius de Moraes foi um dos poetas que tiveram livros nessa lista, anos antes, mas não li sua “Antologia Poética”.



Mas apesar das obrigações, as obras literárias do vestibular (especialmente as da Universidade Federal de Santa Catarina) trouxeram também prazer e uma transição “mais leve” que a supracitada para livros mais “adultos”. Entre os livros que gostei, podem ser citados “Relatos de Sonhos e Lutas” (de Amílcar Neves), “Encontro de Abismos” (Júlio de Queiroz), “O Pagador de Promessas” (Dias Gomes) e "A Mulher que Escreveu a Bíblia", de Moacyr Scliar (abaixo).



Também não posso reclamar de "Menino de Engenho", de José Lins do Rego.



Ariano Suassuna é o autor de “O Auto da Compadecida”, que despertou minha curiosidade quando assisti ao o filme homônimo. Mas só fui ter contato com seus textos quando “O Santo e a Porca” foi tema de vestibular.





“Dois Irmãos”, de Milton Hatoum (foto acima), relata a vida de descendentes de imigrantes libaneses no Amazonas, de forma cativante e interessante. Aliás, o verbo “cativar” traz à tona a citação “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, da obra de Antoine de Saint-Exupéry: O Pequeno Príncipe. Apesar de saber que é curto e considerado excelente, nunca o li. Talvez por nunca ter sido parte de lista de livros para o vestibular...



Após a transição, os quadrinhos fizeram nova aparição, com o sarcástico “Vida de Estagiário”, de Allan Sieber. Os marcantes "Marley e Eu" surgiram e "O Diário de Anne Frank" (abaixo) chegaram às minhas mãos.



Vieram”Quem Somos Nós?” (vários autores), muito esclarecedor e otimista quanto às possibilidades de interferência e mudança na própria vida, e dissertações de pensadores como Nietzsche (“Ecce Homo”) e Freud, com “O Mal-estar na Cultura” e “O Futuro de Uma Ilusão”. Seguindo a linha de mudança de paradigmas, chegou a mim, por recomendação e empréstimo, “Deus – Um Delírio”, de Richard Dawkins, o qual ainda estou lendo.



Diria que ler é uma das melhores formas de ter novas perspectivas e aprender sobre determinados assuntos, conhecer correntes filosóficas e mentalidades vigentes em determinados períodos da humanidade. Surgem novas visões de mundo e de situações específicas. Pode ajudar na formação de uma personalidade mais reflexiva e justa, influenciando até na maturidade. Ganhar vocabulário ou mais fluência em uso de pontuação é só uma conseqüência. Desse ganho surge a possibilidade (ou o prazer de) escrever. Possivelmente a necessidade de continuar escrevendo e o desejo de fazer da “engenharia das palavras” um meio de construir a própria felicidade. Escrever é a chance de ser conhecido por suas idéias antes de ser julgado por aparência.

Apesar da fama de suas obras, o escritor normalmente goza do privilégio de manter o anonimato e a privacidade na multidão. Características essenciais ao seu posto de observador atento e discreto, para que possa refletir e fazer das letras um meio de projeção e registro da própria consciência. Que nem todos vão ler, visto que é preciso haver o “processamento” adequado das informações. Às vezes laborioso e lento, mas não impossíveis de alinhar a semelhanças no próprio banco de dados. E assim moldar pensamentos divergentes, homólogos ou análogos.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Arte Extraordinária

Extremófilos, decompositores, humanos. Humanos que diariamente suportam condições extremas e participam de atividades relacionadas à reciclagem de produtos, muitos deles (embalagens) provenientes da cadeia alimentar. Adaptam-se ao meio para suprir suas necessidades, sem perder o bom humor e a esperança em uma realidade mais gratificante. São esses os personagens do documentário, além dos artistas participantes. Lixo Extraordinário, feito em conjunto entre Inglaterra e Brasil, uniu arte ao cotidiano de catadores do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, membros da ACAMJG (Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho). A organização foi fundada por Tião (vulgo Zumbi) e busca, entre outros objetivos, a divulgação da coleta seletiva e a valorização dos trabalhadores envolvidos.

O artista plástico brasileiro Vik Muniz, cuja obra é mais conhecida no exterior, interessou-se pelos catadores do Jardim Gramacho e viu na arte uma possibilidade de inclusão. Reuniu-se com Zumbi e, posteriormente, outros membros da associação, que foram convidados a separar materiais recicláveis para a composição de obras de arte, a serem fotografadas e leiloadas.



Em entrevistas, os catadores demonstram coragem para expressar seu caráter, de honestidade e humildade, diante de ofertas de participação no crime ou outras formas de obtenção de renda. Há também o caráter para ter coragem, já que o sustento "mais rápido" e "menos laborioso" é incompatível com a forma de pensar desses indivíduos, que optam por trabalhar diariamente em meio a resíduos industriais, domésticos e oriundos dos mais variados locais e situações.



Em dois anos de produção, o documentário registra acontecimentos referentes aos trabalhadores e à ACAMJG. O envolvimento com o projeto tem impactos na renda e na autoestima dos catadores. Artistas participantes, tanto do trabalho com os catadores quanto da produção cinematográfica resultante, também são beneficiados.



A produção cinematográfica teve excelente repercussão e foi premiada. Mas talvez a maior recompensa seja conclusão de vários projetos pessoais dos personagens,
registrados no final do documentário, baseadas nas transformações consequentes do projeto.

domingo, 26 de junho de 2011

Visão do Escafandro


Ressaca cultural, novamente, desta vez causada por algo francês. Inebriante, de fino gosto, que exige algumas atividades sensoriais, mas principalmente a sensibilidade psicológica. Trata-se de um filme: O Escafandro e a Borboleta (Le Scaphandre et le Papillon, no título original, em francês), do cineasta e pintor nova-iorquino Julian Schnabel, digníssimo dos prêmios que recebeu por sua atuação como diretor do filme.
O Escafandro nos convida à imersão na história real do jornalista Jean-Dominique Bauby, ou "Jean-Do", como chamavam-lhe os amigos. "Bon-vivant", editor da revista Elle (de moda, francesa), pai de três filhos, sofre um acidente vascular cerebral (AVC) aos quarenta e três anos. Três semanas depois, mais ou menos, sai do coma e começa uma dramática tentativa de recuperação.

Ao acordar, movendo apenas seu olho esquerdo, Jean-Do percebe a incapacidade de se expressar por meio da fala. É diagnosticado pelos médicos como portador da "síndrome locked-in", ou "síndrome do encarceramento". Sua fonoaudióloga (representada na foto acima) desenvolve um método em que as letras mais usadas na comunicação (no idioma francês) eram sequenciadas e ditas ao paciente. Ele deveria piscar uma vez para escolher a letra, quando fosse dita pela fonoaudióloga. Em perguntas cujas respostas deveriam ser "sim" ou "não", ele deveria piscar uma vez para dizer "sim" e duas para dizer "não". O mesmo gesto de piscar duas vezes seguidas deveria ser usado como espaçamento (como o de um teclado) entre uma palavra e outra, quando ele estivesse escolhendo as letras soletradas.



Jean-Do, pouco antes do acidente, pretendia escrever um livro. Durante a estadia no hospital, decide executar seu projeto, usando o meio de expressão desenvolvido pela fonoaudióloga. A editora envia uma responsável por registrar as palavras de Jean e dessa forma, todo o livro é escrito. O protagonista descreve sua sensação de aprisionamento no próprio corpo como o uso de um escafandro, do qual ele poderia ver sua borboleta (a redatora do livro, por quem o jornalista desenvolveu grande afeto).



Do mesmo modo que a borboleta inspirava o prisioneiro de um "casulo", a imaginação e as memórias mantinham no jornalista alguns traços da liberdade da qual anteriormente desfrutava. A empatia e o altruísmo, dos funcionários do hospital e dos amigos e parentes de Jean, preenchem a trama de forma intensa e mostram-se determinantes para a diminuição do desconforto vivido pelo protagonista. Talvez um longa-metragem obrigatório aos estudantes e profissionais da área da saúde.



Indicado a qualquer pessoa disposta a ter novas perspectivas, também proporcionadas por ângulos de filmagem e percepção bastante originais.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Seis cordas bambas

E foi assim que começou, como disse em texto anterior.
http://demielina.blogspot.com/2011/03/ha-quinze-anos-minha-primeira-banda.html



A paixão surgiu cedo, muito antes da coordenação motora necessária ou do tamanho de mãos mais propício à arte de (tentar) tocar. Parecia muito mais fácil, ao ver meus heróis tocando. Mas não era tão simples: envolvia paciência e dedicação, coisas que sempre (ou quase sempre) me faltaram. As aulas de guitarra, orgulhosamente inciadas aos nove anos de idade, eram divertidas e interessantes. Mas não eram o suficiente para que eu, sem ao menos praticar o que me era pedido, aprendesse a harmonizar os barulhinhos desconexos emitidos pelo instrumento, a partir de mãos e ouvidos inexperientes. Era preciso mais. Era preciso empenho.



E por falta dele, parei. Uma vez, aos onze. Aos catorze, quis voltar. Veio o primeiro violão, depois a primeira guitarra. Paga à vista, com minhas economias de mesada. E em uma escola de música próxima à minha casa, conheci quem passaria ao menos dois anos tentando me ensinar a emitir sons dignos de guitarra, e mais do que isso: estimular -me a praticar o que se deveria aprender, fora das aulas.
Mas não. Se a paciência e a dedicação diária não faziam parte da infância, seriam ainda mais escassas na adolescência. As aulas eram apenas diversão, troca de idéias e a passagem (inconformada) de exercícios e músicas pelo meu instrutor, que sempre me recomendava estudos.
O tempo passou e sua disponibilidade diminuiu. Houve novos objetivos, estudos de vestibular (tanto meus quanto do professor). Ele ingressou na faculdade de música, em outra cidade. Anos depois, me mudei pelo mesmo motivo: graduação (no meu caso, não concluída). Houve novas mudanças, até que eu parasse na terra do cavalo crioulo, onde pagode e músicas sertaneja e gaúcha são predominantes. E com o afastamento da cidade anterior, do rock e de tudo o que permeava minhas influências sonoras e positivas, veio a vontade de trazer de volta o que causava saudades.
Decidi voltar a tocar. Melhor dizendo: aprender mesmo a tocar. Missão ainda não cumprida, perfeitamente, mas já razoavelmente encaminhada. A ignorância quase total foi substituída pela memorização de cifras (algo que ainda não tinha realmente despertado meu interesse). Aos poucos, surgiram movimentos mais cadenciados, ruídos menos desagradáveis e um prazer viciante. Algo que se faz sozinho, mas no qual parece haver harmonia com uma realidade maior. Uma meditação, ausência momentânea de pensamentos (incessantes em vários momentos do dia). Exercício, terapia e a idéia de estar evoluindo, desenvolvendo uma nova habilidade. Tão simples que se torna complexo descrever em palavras.
Não tão complexo quanto o equilíbrio na corda bamba. Até porque as cinco cordas a ela somadas trazem conforto e tranqüilidade. É a arte que faz espetáculos, mas que pode aos poucos ser aprendida, sem dor, apenas para o entretenimento individual.