quinta-feira, 10 de março de 2011

Comendo Mamonas



Era um pouco mais velha quando os conheci:



Há quinze anos, minha primeira banda favorita teve seu fim. Não por overdose, disputas internas ou ostracismo e insucesso. O barulhento e irreverente grupo paulista silenciou em seu auge, em 1996, durante uma turnê que incluía Portugal.
Justamente quando tinham o "money" para comprar o apartamento no Guarujá ou gastar no Chopis Centis e cada um parecia ter encontrado sua "mina", de cabelos da hora e corpão violão ("arlindas mulheres"), a jornada do grupo acabou.
Para os mais novos, que talvez não tenham conhecido a banda ou saibam muito pouco sobre ela, talvez o link a seguir seja útil: trata-se do especial da Rede Globo, Por Toda a Minha Vida, que contou um pouco da trajetória da banda.
http://www.youtube.com/watch?v=-2YAu2cmlPA

"Rock n'Roll não se aprende nem se ensina", disse Marcelo Nova. Sendo assim, talvez baste um primeiro contato para que alguém se torne adepto. Comigo pode ter sido assim. Ou não. O fato é que foi descobrindo os Mamonas Assassinas que aprendi a gostar de rock. Não me lembro de como os conheci, mas me lembro bem do despertar do interesse por guitarra e por saber os nomes dos integrantes, além de decorar as letras das músicas. Lembro-me de uma vez em que eu e meu irmão fomos na casa de uma amiga de minha mãe e enquanto brincávamos com seus filhos, o garoto me perguntou: "é você a menina que sabe as letras de todas as músicas dos Mamonas Assassinas?" Respondi que sim. Era verdade. Entendo que isso não tenha nada de especial, mas lembrei agora e resolvi comentar. O fato é que eu gostava mesmo da banda. Meu irmão tinha um álbum de figurinhas dos Mamonas, que passava a maior parte do tempo comigo (eu catava no quarto dele, sem pedir, na maior cara-de-pau). Meu irmão fez uma festa de aniversário deles. Quando chegou meu aniversário, quis imitar. Minha mãe, por motivos óbvios, vetou.


Estampa de uma camiseta que minha mãe me deu. Na época, eram comum lojas com uma prensa, para se estampar camisetas. Escolhi a estampa e pude vê-la surgir na camiseta.

Eles viraram moda em minha escola e mesmo meus colegas mais velhos (da quarta-série, turma do meu irmão na época) colecionavam as figurinhas do álbum e cantavam as músicas do grupo. Eu gostava de desenhar e muitas vezes desenhava os cinco. A parte em que eu mais demorava era a de Bento Hinoto, o guitarrista. Achava o baterista Sérgio Reoli o integrante mais bonito, mas o meu favorito era nipodescendente que tocava guitarra. Não por ele, mas pelo instrumento mesmo.





Lembro-me de minha mãe comentando que achava legal o penteado dele: "um japonês de trancinhas". Eu não gostava (hoje acho gosto) e só não achava mais estranho que visual do baixista Samuel Reoli.



Não me lembro de ter visto nenhum outro oriental ou descendente com os cabelos assim.
Imagino que, na época, Bento tenha atraído bastante atenção e se diferenciado dos outros "sanseis" dos anos noventa. Anos depois, ouvindo novamente sucessos da banda, percebi que ele se destacava não só pelos cabelos: era um excelente guitarrista, talvez o mais talentoso da banda e um dos melhores do cenário nacional. A quem pensa que estou exagerando, ou concorda e deseja rever, pode-se ver um solo do artista pelo link abaixo:
http://www.youtube.com/watch?ov=AxG4wDABGfc

Para não excluir os outros: Júlio Rasec, que tocava teclado e fazia a voz da Maria, na música O Vira. Há uma gravação em que o músico conta ter sonhado com um desastre aéreo antes do acidente.



E Dinho, o vocalista. Mas, do pouco que soube sobre ele, o que mais me surpreendeu foi a declaração "colada" nesta imagem:



As letras de música eram muito mais irreverentes que o visual do grupo e para desespero de muitos pais e avós (incluindo os meus), criancinhas cantavam músicas com palavrões e conteúdo "inadequado para menores". Talvez até mais polêmicas que a "arte" desta capa de CD:



Como se isso não bastasse, havia uma inquietação para um melhor entendimento e apreciação de obras tão singulares. Uma colega minha (já na faculdade) afirmou que chegou a perguntar à sua mãe por que comer tatu dava dor nas costas e sua mãe deu a melhor resposta que imaginava poder dar naquela situação: "não sei". Eu, criança, havia perguntado o mesmo à minha mãe. A resposta foi outra: "não é comer de 'comer' mesmo". Obviamente, surgiu outra pergunta: "como assim?". Mas para essa, não houve resposta.
Havia também aquelas músicas de teor aparentemente inocente para as crianças, como Boys Don't Cry (ah, sim, havia muitos trocadilhos também) e as "non-sense", como Cabeça de Bagre II. Creio que não eram adeptos do naturismo e o trecho que dá nome à Pelados em Santos refere-se à simulação da reprodução humana. Eis o videoclipe, que por incrível que pareça, não tem nada obsceno, além da música, é claro:
http://www.youtube.com/watch?v=rmMj8UC5Mig

Em uma declaração sobre o sucesso da banda entre as crianças, Bento Hinoto afirma que os Mamonas não imaginavam que fariam sucesso entre as crianças e que se as músicas fossem direcionadas a elas, não teriam palavrões nem temas "adultos".

Mas ainda que eu não entendesse boa parte do que estava cantando e achasse estranho adultos usando fantasias para cantar em programas de auditório, é impossível não lembrá-los com carinho quando vejo uma brasília amarela (não tão comum, mas de vez em quando aparece uma) ou ouço algum rock "non-sense" ou cômico. Quase dez anos depois de ter doado o cd cuja capa aparece nessa postagem, ganhei (por ter pedido) um cd mais recente da banda, de capa mais "comportadinha" e sucessos gravados ao vivo. Inclui o tema da pantera e alguns comentários feitos durante o show.



A imagem pode ser uma tentativa de consolar os fãs e fazer os menos céticos
desejarem que os músicos estejam bem, felizes como crianças aprendendo a gostar de música. Talvez em uma nova turnê, em outra dimensão ou lugar do universo.

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