segunda-feira, 27 de junho de 2011

Arte Extraordinária

Extremófilos, decompositores, humanos. Humanos que diariamente suportam condições extremas e participam de atividades relacionadas à reciclagem de produtos, muitos deles (embalagens) provenientes da cadeia alimentar. Adaptam-se ao meio para suprir suas necessidades, sem perder o bom humor e a esperança em uma realidade mais gratificante. São esses os personagens do documentário, além dos artistas participantes. Lixo Extraordinário, feito em conjunto entre Inglaterra e Brasil, uniu arte ao cotidiano de catadores do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, membros da ACAMJG (Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho). A organização foi fundada por Tião (vulgo Zumbi) e busca, entre outros objetivos, a divulgação da coleta seletiva e a valorização dos trabalhadores envolvidos.

O artista plástico brasileiro Vik Muniz, cuja obra é mais conhecida no exterior, interessou-se pelos catadores do Jardim Gramacho e viu na arte uma possibilidade de inclusão. Reuniu-se com Zumbi e, posteriormente, outros membros da associação, que foram convidados a separar materiais recicláveis para a composição de obras de arte, a serem fotografadas e leiloadas.



Em entrevistas, os catadores demonstram coragem para expressar seu caráter, de honestidade e humildade, diante de ofertas de participação no crime ou outras formas de obtenção de renda. Há também o caráter para ter coragem, já que o sustento "mais rápido" e "menos laborioso" é incompatível com a forma de pensar desses indivíduos, que optam por trabalhar diariamente em meio a resíduos industriais, domésticos e oriundos dos mais variados locais e situações.



Em dois anos de produção, o documentário registra acontecimentos referentes aos trabalhadores e à ACAMJG. O envolvimento com o projeto tem impactos na renda e na autoestima dos catadores. Artistas participantes, tanto do trabalho com os catadores quanto da produção cinematográfica resultante, também são beneficiados.



A produção cinematográfica teve excelente repercussão e foi premiada. Mas talvez a maior recompensa seja conclusão de vários projetos pessoais dos personagens,
registrados no final do documentário, baseadas nas transformações consequentes do projeto.

domingo, 26 de junho de 2011

Visão do Escafandro


Ressaca cultural, novamente, desta vez causada por algo francês. Inebriante, de fino gosto, que exige algumas atividades sensoriais, mas principalmente a sensibilidade psicológica. Trata-se de um filme: O Escafandro e a Borboleta (Le Scaphandre et le Papillon, no título original, em francês), do cineasta e pintor nova-iorquino Julian Schnabel, digníssimo dos prêmios que recebeu por sua atuação como diretor do filme.
O Escafandro nos convida à imersão na história real do jornalista Jean-Dominique Bauby, ou "Jean-Do", como chamavam-lhe os amigos. "Bon-vivant", editor da revista Elle (de moda, francesa), pai de três filhos, sofre um acidente vascular cerebral (AVC) aos quarenta e três anos. Três semanas depois, mais ou menos, sai do coma e começa uma dramática tentativa de recuperação.

Ao acordar, movendo apenas seu olho esquerdo, Jean-Do percebe a incapacidade de se expressar por meio da fala. É diagnosticado pelos médicos como portador da "síndrome locked-in", ou "síndrome do encarceramento". Sua fonoaudióloga (representada na foto acima) desenvolve um método em que as letras mais usadas na comunicação (no idioma francês) eram sequenciadas e ditas ao paciente. Ele deveria piscar uma vez para escolher a letra, quando fosse dita pela fonoaudióloga. Em perguntas cujas respostas deveriam ser "sim" ou "não", ele deveria piscar uma vez para dizer "sim" e duas para dizer "não". O mesmo gesto de piscar duas vezes seguidas deveria ser usado como espaçamento (como o de um teclado) entre uma palavra e outra, quando ele estivesse escolhendo as letras soletradas.



Jean-Do, pouco antes do acidente, pretendia escrever um livro. Durante a estadia no hospital, decide executar seu projeto, usando o meio de expressão desenvolvido pela fonoaudióloga. A editora envia uma responsável por registrar as palavras de Jean e dessa forma, todo o livro é escrito. O protagonista descreve sua sensação de aprisionamento no próprio corpo como o uso de um escafandro, do qual ele poderia ver sua borboleta (a redatora do livro, por quem o jornalista desenvolveu grande afeto).



Do mesmo modo que a borboleta inspirava o prisioneiro de um "casulo", a imaginação e as memórias mantinham no jornalista alguns traços da liberdade da qual anteriormente desfrutava. A empatia e o altruísmo, dos funcionários do hospital e dos amigos e parentes de Jean, preenchem a trama de forma intensa e mostram-se determinantes para a diminuição do desconforto vivido pelo protagonista. Talvez um longa-metragem obrigatório aos estudantes e profissionais da área da saúde.



Indicado a qualquer pessoa disposta a ter novas perspectivas, também proporcionadas por ângulos de filmagem e percepção bastante originais.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Seis cordas bambas

E foi assim que começou, como disse em texto anterior.
http://demielina.blogspot.com/2011/03/ha-quinze-anos-minha-primeira-banda.html



A paixão surgiu cedo, muito antes da coordenação motora necessária ou do tamanho de mãos mais propício à arte de (tentar) tocar. Parecia muito mais fácil, ao ver meus heróis tocando. Mas não era tão simples: envolvia paciência e dedicação, coisas que sempre (ou quase sempre) me faltaram. As aulas de guitarra, orgulhosamente inciadas aos nove anos de idade, eram divertidas e interessantes. Mas não eram o suficiente para que eu, sem ao menos praticar o que me era pedido, aprendesse a harmonizar os barulhinhos desconexos emitidos pelo instrumento, a partir de mãos e ouvidos inexperientes. Era preciso mais. Era preciso empenho.



E por falta dele, parei. Uma vez, aos onze. Aos catorze, quis voltar. Veio o primeiro violão, depois a primeira guitarra. Paga à vista, com minhas economias de mesada. E em uma escola de música próxima à minha casa, conheci quem passaria ao menos dois anos tentando me ensinar a emitir sons dignos de guitarra, e mais do que isso: estimular -me a praticar o que se deveria aprender, fora das aulas.
Mas não. Se a paciência e a dedicação diária não faziam parte da infância, seriam ainda mais escassas na adolescência. As aulas eram apenas diversão, troca de idéias e a passagem (inconformada) de exercícios e músicas pelo meu instrutor, que sempre me recomendava estudos.
O tempo passou e sua disponibilidade diminuiu. Houve novos objetivos, estudos de vestibular (tanto meus quanto do professor). Ele ingressou na faculdade de música, em outra cidade. Anos depois, me mudei pelo mesmo motivo: graduação (no meu caso, não concluída). Houve novas mudanças, até que eu parasse na terra do cavalo crioulo, onde pagode e músicas sertaneja e gaúcha são predominantes. E com o afastamento da cidade anterior, do rock e de tudo o que permeava minhas influências sonoras e positivas, veio a vontade de trazer de volta o que causava saudades.
Decidi voltar a tocar. Melhor dizendo: aprender mesmo a tocar. Missão ainda não cumprida, perfeitamente, mas já razoavelmente encaminhada. A ignorância quase total foi substituída pela memorização de cifras (algo que ainda não tinha realmente despertado meu interesse). Aos poucos, surgiram movimentos mais cadenciados, ruídos menos desagradáveis e um prazer viciante. Algo que se faz sozinho, mas no qual parece haver harmonia com uma realidade maior. Uma meditação, ausência momentânea de pensamentos (incessantes em vários momentos do dia). Exercício, terapia e a idéia de estar evoluindo, desenvolvendo uma nova habilidade. Tão simples que se torna complexo descrever em palavras.
Não tão complexo quanto o equilíbrio na corda bamba. Até porque as cinco cordas a ela somadas trazem conforto e tranqüilidade. É a arte que faz espetáculos, mas que pode aos poucos ser aprendida, sem dor, apenas para o entretenimento individual.

sábado, 28 de maio de 2011

Por Quem os Sinos Dobram


Ontem o "fechamento" da RCTV, na Venezuela, completou quatro anos. O fato representou o autoritarismo de um representante e a repressão da liberdade de expressão.


Vídeo: alunos na reitoria da UFPel.
http://www.youtube.com/watch?v=_3zFLKkCuDk&feature=related

O último dia de ocupação da reitoria da UFPel também foi ontem. Eu estava lá. As reivindicações eram muitas, mas não tiveram a devida atenção antes da "invasão do espaço improdutivo". Ali ficamos e conversamos, durante muito tempo. A imprensa e alguns funcionários vieram nos visitar. Um advogado também, avisando que um mandado de reintegração de posse nos orientava a deixar voluntariamente a reitoria em meia hora, antes que os policiais nos convidassem a sair.

Vídeo: "resumo" de ontem à tarde e à noite, reitoria da UFPel.

Lá fora havia muitos policiais. Em número visivelmente maior que o de estudantes. Havia um cachorro da raça Rottweiller presente, provavelmente a trabalho. Sabíamos que em pouco tempo estaríamos junto a eles, do lado de fora do prédio da reitoria. Era mais digno sairmos "com as próprias pernas", sem a necessidade de sermos "tocados" por policiais."Dizem pra você obedecer, dizem pra você compreender, dizem pra você cooperar, dizem pra você respeitar". Convenhamos que nem é preciso dizer... a classe trabalhadora em questão não precisa de palavras para se impor. "Fala com as mãos"... e o que traz nelas. "Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer". Optamos pela manutenção de nossa integridade física e saímos do prédio.
Alguns pais, pagadores de impostos - não tão visivelmente aproveitados no ensino público, mas suficientes para fornecer o armamento a ser usado contra seus filhos - veriam que um filho seu não foge a luta, se a eles fosse dada a igualdade de condições na competição com os policiais. Não necessariamente uma igualdade em conflito armado. Apenas uma oportunidade de diálogo com as autoridades na certeza de que não haveria agressão física. Autoridades que nem sempre puderam escolher a carreira que preferissem, pela falta de oportunidades. Por não haver a chance de estar na universidade. Possivelmente, a imagem que tinham de nós era a de "herdeiros da burguesia", favorecidos pelo Estado, tendo a chance de estudar de graça e ainda assim incomodados e incomodando. Parte significativa dessa mesma "burguesia" só se sobressaiu pela própria determinação, trabalhando e estudando.
A universidade, que a todos deveria pertencer, é um importante meio de transformação e ascensão social. Além disso, pode promover um aproveitamento mais adequado do espaço urbano e do meio ambiente, desenvolvimento de vacinas e novas tecnologias. Mesmo equipamentos e medicamentos a serem usados por policiais são fruto do desenvolvimento tecnológico. Não necessariamente na universidade, é claro. Mas ela poderia trazer novas perspectivas até mesmo aos familiares desses policiais, por meio de projetos de extensão e o ensino regular, disponível até por cotas àqueles (teoricamente) sem iguais condições de competição, pela "falta de base". A educação está diretamente relacionada à qualidade de vida de um povo. Merece atenção, nem que seja à base de intervenções, como essa na reitoria.
Ao deixarmos o prédio e encontrar policiais do lado de fora, ouvimos lamentações (irônicas) quanto à nossa saída. Possível tentativa de "exaltar" nosso medo do contato físico com eles. Ou não, já que parte do treinamento a eles oferecido é destinado ao cumprimento de missões como essa e talvez seja lamentável perder essa oportunidade de pôr tudo em prática.

Vídeo: estudantes desocupando a reitoria, na noite de ontem.

Covardes, os estudantes (desarmados) que optaram por não confrontar policiais treinados, armados e protegidos por porretes, escudos e projéteis de borracha? Em número muito maior que o de estudantes? Não. Mas possivelmente aqueles que seriam capazes de usar o arsenal contra pessoas desarmadas e sem preparo para enfrentar aquela situação, e um representante que se propõe a usufruir dos benefícios do cargo, sem ao menos demonstrar interesse em saber as reivindicações de quem representa.
O diálogo com os demais membros da universidade poderia ser fonte de soluções para os problemas apresentados (e não só de "transtorno", como pode pensar o "magnífico"). Melhorias na educação beneficiam toda a comunidade, ao menos é assim que deveria ser. "Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz. Coragem, coragem, eu sei que você pode mais".

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Dias Sem Carne



Dia 20 foi o dia mundial sem carne, lançado nos Estados Unidos em 1985, pela FARM (Farm Animal Reform Movement). Nele há uma tentativa de sensibilizar a população para uma alimentação mais ética e saudável.



Além de um dia específico no ano, há a idéia de reservar um dia na semana à alimentação sem carne. Nos Estados Unidos, em 2003, surgiu a campanha "Meat Free Monday" (Segunda-feira Sem Carne). Em 2009, em Gant, na Bélgica, surgiu a "Quinta-feira Sem Carne", em que restaurantes tentavam estimular o consumo de comida vegetariana.
Na Inglaterra, o músico Paul McCartney, após ter acessos a informações divulgadas pela FAO (United Nations Food and Agricultural Organization), em 2006, decidiu tentar conscientizar os britânicos quanto aos impactos ambientais da produção de carne. Em 2009, surgiu no Reino Unido a campanha "Meat Free Monday", com o objetivo de convencer a população a consumir menos carne, e mostrá-la que, ao deixar de comer carne em um só dia da semana, já estariam contribuindo com a redução de danos ao ambiente. A idéia não é formar novos vegetarianos, apenas consumidores um pouco menos assíduos de carne.

No mesmo ano, a idéia chegou ao Brasil, na capital paulista. Posteriormente, foi lançada em Curitiba e Florianópolis.
Niterói recentemente aderiu à campanha, que será lançada pela Sociedade Vegetariana Brasileira, em parceria com a Prefeitura de Niterói, no Museu de Arte Contemporânea, amanhã, às 19h30m.

Em visita ao Brasil, os músicos Ziggy Marley e Moby mostraram-se a favor da campanha.

















Rajendra Pachauri é presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU (desde 2002) e diretor do Instituto de Recursos Naturais e Energia - TERI, na Índia. Venceu o Nobel da Paz em 2007 e também apóia a iniciativa.





Que diferença faz um dia sem carne?
http://www.youtube.com/watch?v=Je1MezUAEQw&feature=player_embedded


Site oficial da Segunda-feira Sem Carne:
http://www.meatfreemondays.com/index.cfm


E se for mais de um dia? Que tal uma semana?



Desde 1992, promovida pela Vegetarian Society (Sociedade Vegetariana), ocorre a National Vegetarian Week ("Semana Nacional Vegetariana") na Inglaterra. Escolas, organizações comunitárias e indivíduos em geral são estimulados a aderir à dieta vegetariana. Este ano, o evento teve início hoje e acontece até o domingo, dia 29.



Há divulgação de receitas e até uma competição entre chefs vegetarianos. A "Semana Nacional Vegetariana" acontece também na Austrália, de primeiro a sete de outubro.




Site Oficial (Reino Unido)
www.nationalvegetarianweek.org/

Informações pertinentes: Blog Comer Animais

Sociedade Vegetarina Brasileira

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Baratas



Eis que, procurando imagens de baratas, encontrei as imagens acima. Mas não é do adjetivo "barata" ou "barato" e assuntos relacionados que o post se trata (Aliás, surgiu uma curiosidade sobre a origem da expressão). O texto é dedicado àquelas que (infelizmente) conosco dividem a intimidade do lar, sem contribuir com o aluguel ou com tarefas domésticas, e que teoricamente são capazes de sobreviver à ação de bombas nucleares: baratas.

Surgiram há aproximadamente 300 milhões de anos. Preferem lugares quentes e úmidos. As urbanas constituem o maior grupo e são de hábitos noturnos. Podem sobreviver a três sem água e dois meses sem comida. Além dos humanos, têm como inimigos lagartixas e aranhas, além de serem sensíveis à ação de alguns microorganismos. Participam da cadeia alimentar como saprófagos e podem ter simbiose com bactérias ou protozoários. Algumas são capazes de se alimentar de celulose.


Medo e fobia



Apesar de estar até em letra de música infantil (La Cucaracha), sua presença é no mínimo indesejável e comumente causa apreensão. Catsaridafobia ("Katsaridafobia") é a fobia relacionada às baratas, sendo uma das mais comuns no mundo, principalmente entre as mulheres: há de oito a nove mulheres catsaridafóbicas para cada homem com o mesmo problema. Nem sempre o medo corresponde à fobia: fobias são caracterizadas por ansiedade e interferência relevante na vida de um indivíduo, que busca ao máximo evitar situações em que possa se expor ao problema. É um "medo excessivo" e deve ser tratado com especialistas.

Talvez não tanto por medo, mas por nojo demonstrado pela maioria das pessoas (só as normais), há um segmento na prestação de serviços destinado ao combate das baratas. Segundo o "Banco de Idéias de Negócios", disponível no site do SEBRAE de Santa Catarina, a maior dificuldade na área é a concorrência e atualmente as "soluções" administradas pelos funcionários já não são tão tóxicas (ao homem) quanto as de antigamente. O investimento inicial é estimado em 27 mil reais e o faturamento mensal bruto em oito mil reais.

Além do arsenal fornecido às dedetizadoras, as indústrias oferecem ao consumidor produtos menos agressivos (teoricamente), disponíveis nas prateleiras, não só em forma de sprays. A criatividade trouxe ao mercado, além das clássicas armadilhas de canto (as pretas, de plástico, em formato triangular), casinhas (atire a primeira isca quem nunca teve vontade de comprar uma só para ver montada), adesivos e outras tecnologias.




Biodiversidade



Le Blatte

A barata francesa, também chamada de barata-loira, barata-alemã, baratinha e outros "apelidos", cujo nome científico é Blatella germanica, é oriunda da região oriental da África. Mede de dez a quinze milímetros e convive há muito tempo com o homem, sendo altamente resistente a diversos tipos de inseticida. É considerada a espécie mais difícil de ser controlada. As demais espécies mais comuns no ambiente urbano também são originárias da África (americana, oriental e de faixa marrom, presentes na imagem acima).

Arte



Além das simpáticas baratas artesanais acima (gringas, já que a imagem foi encontrada com o título de "cafard", um dos nomes franceses para a barata), baratas já foram devidamente "homenageadas" e citadas nas mais diversas manifestações da arte. Além da presença no cordel abaixo, há outra aparição desses seres na literatura brasileira:





Clarice Lispector, em seu conto "A Quinta História", comenta e ensina métodos para matar baratas. Um deles é baseado na ingestão de gesso, que o animal comeria, atraído por farinha e açúcar a ele misturados.

A música Bichos Escrotos, da banda de rock paulistana Titãs, foi um dos sucessos do grupo nos anos oitenta. Aparece em uma antiga coletânea da banda, além da curta participação no álbum acústico MTV.



Vale citar também a banda de rock catarinense "Baratas Albinas"...



E a norte-americana "Papa Roach" ("papai barata"), cujo primeiro álbum tem nome sugestivo: "Infest" ("infestar").



É dela também o CD em que há um bebê roqueiro (álbum Love Hate Trategy, de 2002)


Imitação do álbum "Ainda é só o Começo", lançado em 1995?



No cinema, além de participações notáveis em filmes de terror, baratas foram coadjuvantes na "comédia" "Joe e as Baratas", que chegou às vídeolocadoras brasileiras nos anos 90.






A relação entre baratas e alimentação humana não é restrita à sua invasão de cozinhas e a busca por alimentos humanos e seus restos. Apesar de causarem asco à maioria das pessoas (ocidentais), há aqueles que se mostram capazes de ingeri-las (voluntariamente). É o que ocorre em alguns territórios orientais e até mesmo em algumas competições e promoções realizadas nos Estados Unidos: a rede de parques temáticos Six Flags ofereceu vantagens aos clientes que comessem baratas Madagascar vivas, como a entrada gratuita. A organização People for the Ethical Treatment of Animals (PETA) recebeu denúncias e se opôs. Houve quem tentasse quebrar o recorde de ingestão de 36 baratas Madagascar em um minuto, marca de um cidadão inglês em 2001.

Proezas na vida real



Além de prolíficas e onívoras, sendo algumas capazes de voar, teoricamente sobrevivem à explosão nuclear, desde que estejam distantes do centro de ação da bomba (e assim menos expostas à radiação). Se estiverem próximas, o calor gerado na explosão impede sua sobrevivência. O corpo achatado e de dimensões reduzidas permite que elas protejam da radiação com maior facilidade. Mas há divergências e alguns acreditam que as baratas são mais suscetíveis à radiação que outros insetos. A "lenda" de que as baratas seriam capazes de sobreviver às explosões nucleares passou a ser disseminada após os eventos em Hiroshima e Nagasaki, em que baratas teriam sobrevivido.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Minha Fama de Mau


"Toda forma de conduta se transforma numa luta armada", já disseram os Engenheiros do Hawaii. Portanto, às vezes é preciso contrariar o Ahimsa (princípio da "não-violência", que fez muitos praticantes de yoga abandonarem o consumo de carne) e defender o vegetarianismo e outras ideologias "pacíficas" de uma forma às vezes contundente, como é a divulgação de informações, imagens e vídeos relacionados ao assunto.
O amor aos animais começa cedo (como prega uma das campanhas feitas pelo Instituto Nina Rosa). Crianças gostam de animais e quando não têm ao menos um animal doméstico, possuem os "de pelúcia" e desenvolvem com eles relações de afeto. Mesmo os meninos: todo bebê tem algum animal "artificial" para brincar. À medida que o tempo passa, surgem as visitas ao zoológico, o contato com cães e gatos e a admiração pelos animais presentes em desenhos animados e filmes infantis. Têm-se noção de seu habitat e de que (ao menos as aves e mamíferos) têm relações "familiares" entre si.
Desenvolve-se também um respeito à natureza e ao "meio-ambiente", com conversas sobre preservação e a importância de se jogar lixo no lugar adequado. Aprende-se que é errado mentir e que não se deve roubar ou agredir os coleguinhas. Mas quase sempre tudo isso se perde, na "selva de pedra" em que crescemos.
Fernando Sabino afirma em sua crônica "Uma Vez Escoteiro": "...a verdade é que um dia descobri, perplexo, que o mundo adulto não tolerava minha disposição escoteira de ser alegre e sorrir nas dificuldades, de ser bom para os animais e as plantas, de ter uma só palavra e minha honra valer mais que a própria vida, como ordenava o nosso Código."
Enquanto as crianças choram e os adolescentes reclamam e se rebelam quando algo os desagrada, os "adultos" simplesmente tentam ignorar o que não parece certo. A vida aos poucos vai exigindo que valores e ideiais sejam ocultados, se não esquecidos, para a manutenção da "ordem" vigente."Homem não chora" e "a vida é mesmo assim".
Amadurecer é se tornar "insensível" (ou parecer) e tentar ignorar qualquer realidade que não afete diretamente a sua vida.
Então, cria-se, ainda na adolescência, quando se busca de forma mais obstinada a imitação do comportamento adulto, uma cultura de subversão aos "valores infantis".
E para ter o respeito de seus semelhantes, é preciso construir uma "fama de mau": é preciso "não se importar" com política, meio ambiente, os animais e até mesmo outras pessoas. Que cada um "se vire", como puder. E claro, é mais fácil procurar culpados no passado que tentar "consertar" o presente.
Todos têm o direito de escolher o que parece melhor para si e defender ou disseminar o que acreditam. Porém, não acredito que criticar o que não se conhece possa trazer algo válido à sociedade. Ou ainda, criticar o que se acha justo pelo simples motivo de não querer aderir, pela negação ao próprio conforto e à manutenção de antigos hábitos. Assim, surgem comentários ácidos sobre vegetarianos, pacifistas, manifestantes de qualquer natureza e pessoas "certinhas": os que fazem dieta e exercícios, os que estudam muito, os que não bebem, não fumam, não usam drogas ilícitas. Ou os que aderem a práticas religiosas.
Será que só os vegetarianos são contra a criação de animais em confinamento, sob condições de estresse, para depois ter um prazer à mais à mesa? Só os pacifistas preferem um mundo sem violência? Só aqueles que comparecem às passeatas para evitar o aumento do valor da passagem de ônibus ou do salário dos parlamentares (como ocorreu em São Paulo, na qual não foram vistos mais de vinte manifestantes) são contra os aumentos?
Quanto ao último episódio citado, ocorreu um fato intrigante: Danilo Gentili, um dos integrantes do CQC, ridicularizou Tico Santa Cruz, vocalista do Detonautas Roque Clube, que organizou o protesto, devido ao pequeno número de pessoas presentes. O comediante que é visto como "herói" de um povo que prefere assistir do sofá à revolução que tem preguiça de fazer, criticou no twitter a tentativa do músico de manifestar seu descontentamento com a decisão dos parlamentares de ganharem ainda mais, às custas de quem trabalha para pagar impostos. Danilo deve saber que o povo gosta de CQC porque satiriza e incomoda os "representantes do povo", o que muitos brasileiros gostariam de fazer. Mas que valor tem a sátira se ela apenas evidencia a má situação em que se vive, sem despertar o interesse em mudá-la?
Portanto, acomode-se, se for essa a sua preferência. Mas não se oponha aos que tentam mudar o que lhes parece injusto ou desnecessário, ou apenas tentam preservar sua saúde e o ambiente, ou melhorar a sociedade em que vivem.
Talvez amadurecer não seja parecer inerte, mas aprender a ser proativo e conviver com as diferenças.