quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Quem espera sempre...



Cansa! A espera é quase uma irmã siamesa do tédio e raras são as situações em que estes componentes do lado negro da força estão desvinculados. A demora instiga a ansiedade, para que ela termine e o que aguardamos resolver chegue logo ao fim. Vem quase sempre acompanhada de incertezas do porvir(incluindo quanto tempo ela há de durar) e se regada ao medo, é desesperadora. Aliás, o medo só existe durante a espera: pelo fim ou pela chegada de um problema. O medo é reflexo de se conhecer a chance do sofrimento surgir ou se perpetuar.



Um banco de reservas é uma boa representação dos sentimentos de espera. Pode-se deduzir pelos lábios mordidos e cenhos contraídos que atleta nenhum prefere estar ali, nem mesmo num momento da partida em que a derrota seja inevitável. Sente-se impotente diante dos erros do time e dos acertos do adversário. Quer melhorar o placar. Os olhares fazem o que o todo o corpo deseja fazer: entrar em campo/quadra. Creio que em cada ocupante dos bancos haja sensação de que algo mais poderia ser feito pela equipe e esse algo poderia vir de si mesmo. Aliada à vitória, a espera acumulada é o combustível para que os jogadores se levantem apressadamente no final de uma partida, correndo ao encontro dos companheiros que participaram ativamente da competição.

A espera é algo tão assustador que filmes de suspense baseiam-se amplamente nesse recurso, com seus enquadramentos de expressões faciais de tensão quanto ao perigo iminente. A cena que causa mais medo ao espectador não é necessariamente aquela em que o assassino aparece armado e começa a atacar a vítima: muitas vezes é aquela em que os "inocentes" tentam fugir e ficam olhando ao redor, prevendo o desfecho daquela perseguição. A espera também ocorrer por pouquíssimo tempo, no intervalo em que o algoz é visto por sua presa. Com opções restritas, ela opta por gritar até o início do contato físico, ou até que gritar ainda lhe seja possível.

Uma imagem digna de capa de CD de banda de rock "agressivo", para mostrar o quanto seus integrantes "conhecem a dor", sendo então roqueiros mais respeitáveis... (tese defendida pelo cantor Lobão, que participando de um programa na TV, afirmou: "quanto mais adereços soturnos e ameaçadores, mais roqueiro você vai aparecer diante do seu meio social.") Se esquecida pelas bandas de metal ou rock progressivo, a "passividade inquietante" foi devidamente reconhecida pelo grupo carioca O Rappa, como um bom nome para um álbum com músicas de caráter reflexivo sobre as mazelas da sociedade: "O silêncio que precede o esporro".



O tema seria igualmente bem aproveitado com as imponentes sentenças "os minutos antes de apresentar seminário", "a véspera divulgação da lista de aprovados no vestibular", "as horas anteriores ao teste de autoescola" e outras frases de conteúdo sádico, possivelmente censuradas pelas gravadoras ou produtoras de filmes de terror para que mentes mais sensíveis pudessem continuar saudáveis.

Infelizmente, o "repouso forçado" não pertence somente aos filmes de Hithcock ou aos intervalos comerciais de programas que tragam alguma notícia (aquela mesmo, que todos querem assistir e que sempre vão passar no próximo bloco, mas só aparecem no fim do programa). A vida nos impõe muitos bancos de reserva: torcida pelo abandono de vagas dos que passaram em concursos (para que existam vagas remanescentes e outros candidatos possam ocupá-las), a chamada para uma conversa séria, o período que passamos sentados à procura avisos para embarque ou desembarque. Ainda que, sabendo da efemeridade da própria existência, o ser humano tente arduamente abreviar a espera e desenvolva as mais variadas tecnologias para apressar o ritmo dos acontecimentos.

Depois de algum tempo, a calmaria deixa entediado até o viajante sobrevivente de tempestades e condições ambientais extenuantes. O desconforto da espera, se não vem da dúvida ou do medo do sofrimento, vem da certeza de que o tempo corre (algemada ao punho ou permeando pensamentos diários) e de que não viveremos para sempre: temos medo de desperdiçar o tempo e pressa para experimentar o que suas frações têm a oferecer.