sábado, 24 de dezembro de 2011

Animado Natal

"Então é Natal"... E se trocarmos a música? Prefiro o rock às versões em cavaquinho ou a voz da Simone (já gostei, mas ouvi até enjoar).



"Presentes":

Jingle Bell rock, com Skid Row;
http://www.youtube.com/watch?v=hQjINiDA1n0

Santa Claus is comming to town, por Alice Cooper;
http://www.youtube.com/watch?v=In3sApWlY1s

Ramones retratam festinha de Natal;
http://www.youtube.com/watch?v=4Y5GtaTrPHM&feature=related




Para os fãs de música eletrônica: Jingle Bell remixada;
http://www.youtube.com/watch?v=HXyWZq70_CU&feature=related

Jingle Bell por Basshunter.
http://www.youtube.com/watch?v=fEyV_GfRVuw&feature=related

Uma ótima noite a todos! Que o ritual seja cumprido em harmonia e, se possível, com inovações! Troque presentes, abraços, cartões... palavras! Expresse os melhores sentimentos pelos demais. Que a gratidão se faça presente e a árvore de plástico renda bons frutos!

Que tal fazer uma doação e tornar mais feliz o Natal alheio? Doe um comentário na caixa de texto abaixo! Obrigada.

A todos, um feliz e animado Natal!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Hipervergonha



“Xingaria muito no twitter”, mas 140 caracteres seriam poucos para o que quero dizer. Fui hoje ao Big e comprei alguns livros. Alguns deles tinham aquela etiqueta em alto relevo, com um código de barras. Paguei, obviamente. Ao sair, os biombos apitaram. Todos que passavam ali perto pararam o que estavam fazendo e ficaram olhando. Voltei e falei com a moça do caixa. Resposta: “Ah, é assim mesmo, é normal. Acontece às vezes.” Fiquei p***, mas não quis “armar barraco”. Fui embora. Ao sair, passei novamente pelos biombos, que mais uma vez apitaram. Um casal ficou olhando para mim de modo mais “agressivo” que outras pessoas, na primeira vez em que as máquinas apitaram.

Creio que dificilmente alguém furtaria algo e passaria pelos biombos, sabendo que um alarme iria soar. É muito mais fácil passar “do lado”, apesar de ser um caminho menos espaçoso. Ou levantar os braços, para que o produto passe acima dos detectores. Passar pelas máquinas com o produto roubado seria muita falta de “noção”. Além disso, como qualquer equipamento, os detectores poderiam apresentar problemas em seu funcionamento. Mais um motivo para que as pessoas pelo menos disfarçassem quando estivessem me condenando.



Conclusão: quando for ao Big e comprar algo com a etiqueta em alto relevo, exija que ela seja removida no caixa. Um bom argumento? "ah, então eu nem vou pagar: quando eu sair vai apitar de qualquer jeito.. é melhor roubar que comprar."
E se você estiver no mercado e os detectores apitarem para alguém, não fique “encarando” a pessoa: talvez ela não esteja roubando.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Sinais de fumaça

Em resposta à tentativa de "compra" da terra ocupada por índios da tribo Suquamish, o chefe Seatle escreveu uma carta ao presidente Franklin Pierce. As palavras do chefe tribal ficaram famosas e a carta, redigida em 1854, foi considerada o primeiro documento ambiental.

Trechos: "... O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda vida que mantém."



Não sei se procede, pois apesar de descendente dos "homens vermelhos", pelos meus hábitos sou considerada "branca". Ainda assim, posso dizer que sinto o cheiro das cinzas que tornam a pele amarelada: cigarro. Sim, os índios eram conhecedores do tabaco, mas este fazia parte de rituais e não era consumido "o tempo todo". Além disso, não era misturado à nicotina e outras substâncias componentes do cigarro. Provavelmente Seatle concordaria que a fumaça em questão faz parte do "mau cheiro" que o homem branco ignora.

Festinhas de fim de ano, viagens em transporte coletivo e a ocupação de áreas “improdutivas” (destinadas especialmente ao ócio) estão por vir e o presente texto não se trata de mais palavras de esperança e nostalgia associadas ao fim do ano: As linhas a seguir trazem palavras contundentes, sem ternura, numa crítica ácida aos “sinais de fumaça”. Portanto, para garantir o bom humor no resto do dia, pare por aqui! Peço desculpas aos que prosseguirem a leitura e se sentirem agredidos, mas veio a mim um impulso de tratar do tema e talvez mais pessoas tenham o mesmo protesto a fazer.

A decisão de iniciar gradativamente a própria cremação, carbonizando principalmente as vias aéreas, cabe a cada um. Mas vale lembrar que não são só familiares e amigos que lamentam as conseqüências: além dos gastos na área da saúde, pagos inclusive com impostos dos não fumantes, aqueles que convivem (ainda que raramente) com a fumaça, o mau hálito e o odor (agravados quando são consumidos os cigarros “pirateados”) são demasiadamente incomodados.

Viagens de ônibus, por muitas horas, não são das mais confortáveis (exceto em leitos). Certamente pioram se o cheiro de quem está próximo for muito forte. Claro, há fedores e fedores, mas trataremos apenas dos de cigarro. Um de marca conhecidíssima, no “sabor” tarja vermelha, é dito até por amigos fumantes que “fede horrores”. Concordo, mas seria injusto não citar concorrentes à altura (em minha opinião, até mais “socialmente venenosos”): os falsificados, cujo odor chega a causar náuseas. Não é exagero: já viajei por mais de sete horas ao lado de alguém que havia fumado, em seqüência, alguns destes. Foi revoltante e desesperador. Porém, lembrando um princípio de educação e empatia, de modo algum trataria mal a pessoa ao meu lado. Guardei para mim o desconforto daquela ocasião e tentei não ser muito lacônica ao ouvir suas histórias, embora uma reflexão não pudesse deixar de ocorrer: eu estaria mais feliz se existissem lugares reservados aos fumantes nos ônibus, mesmo com a proibição de fumar em seu interior. Assim, a respiração fluiria naturalmente, sem se tornar motivo de estresse.

Praias são ambientes de descanso e diversão, o refúgio após exaustivos meses de trabalho ou estudos. Todos merecem aproveitá-la da melhor forma e entendo que os fumantes tenham o desejo de fumar na praia. Mas é muito desagradável quando, após peregrinar para encontrar um espaço livre para guarda-sol e cadeiras, você se instala e alguém nas proximidades, logo depois, acende um cigarro e o vento leva a fumaça até você. Simultaneamente ao consolo de que o cigarro da pessoa já está no fim, vem à mente o padrão de consumo de cigarros: dificilmente alguém fuma só um cigarro durante um período na praia e por todo o tempo em que cigarros forem acesos, o vento provavelmente não mudará de direção. É realmente irritante, pois ao contrário de um lugar público em que você possa se afastar ou trocar de mesa, a praia tem altíssima densidade demográfica e pouco território disponível para migrações. Além disso, um novo esforço para se fixar o guarda-sol na areia seria feito e não há garantia alguma de que o novo lugar estará livre da fumaça.



Já dizia o pai do cineasta André Abujamra: “ a vida é sua, estrague-a como quiser”. Contudo, afetamos sutilmente a vida alheia a cada escolha que fazemos. Não cabe a mim questionar os motivos que levaram qualquer indivíduo a começar a fumar ou julgar os que não pararam de fumar. Da mesma forma que não fumantes não querem “sua praia invadida”, os fumantes às vezes querem apenas o direito de manter um hábito “em paz”. Cabe a cada ser vivo determinar as concessões que fará para conviver sociedade, mas cada um é dono da própria saúde e não é justo prejudicar os demais por nossos hábitos. Portanto, ao acender um cigarro, lembre-se de há mais seres vivos para inalar a fumaça ao redor.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Liberdade Engarrafada

O recipiente é minuciosamente moldado para que o conteúdo seja mais atraente, um rótulo que descreve a composição das substâncias sem mencionar as conseqüências de sua ingestão. Ao contrário da exigência aos fabricantes de cigarros, dos alertas na embalagem, a indústria da bebida só precisa acrescentar o “beba com moderação”, ao fim de seus anúncios.

O etanol (álcool usado em bebidas) é considerado uma droga lícita, associada à alegria e comemorações (assim como as ilícitas, para os usuários). Seduz por sua publicidade e por ser consumido por boa parte da população. Os rituais de iniciação e “passagem para a vida ‘adulta’” normalmente ocorrem na adolescência e quem não aderir pode sentir-se excluído. Se a descoberta não acontecer nesse período, provavelmente surgirá com a entrada na faculdade, em que é comum jovens saírem de casa e gozarem de mais liberdade para experimentar novas sensações. A ansiedade por aceitação do grupo de convívio não é menor: longe da família e dos amigos, é preciso suprir a necessidade de afeto com pessoas antes desconhecidas.

Aos mais “carentes”, pode ser difícil negar a participação em certas “brincadeiras” ou manter-se inibido em festas, diante da vontade de dançar ou aproximar-se de um candidato (ou candidata) a um relacionamento amoroso.
Creio que à maioria beber não é grande problema: socialmente, entre amigos, as conseqüências mais comuns são ressaca, vômitos e relatos que farão parte do anedotário da turma. Pode haver algum efeito mais grave, como um coma alcoólico, uma briga violenta ou acidente de trânsito. Nesses casos, um deslize momentâneo pode trazer efeitos irreversíveis e sofrimento, inclusive às famílias dos envolvidos. Porém, apesar de não ser inteligente “dar chance ao azar”, conhecer novas sensações e testar os próprios limites faz parte do amadurecimento. Mas ainda que o acaso não faça vítimas instantâneas, existem indivíduos mais sensíveis à ingestão do álcool etílico, passíveis de desenvolver doenças como a cirrose hepática ou a dependência.

Alguém fantástico que se perdeu:
http://www.goal.com/br/news/619/especiais/2011/12/04/2787649/nunca-haver%C3%A1-igual-a-trajet%C3%B3ria-do-doutor-s%C3%B3crates-1954-2011

O composto engarrafado cria a ilusão de que não há limites para as vontades humanas. O mundo se torna mais bonito e atraente, a vida faz mais sentido naquelas horas em que mergulha na “felicidade”. Alguns nem se lembram do que viveram inebriados. A dependência é expressa tanto em manifestações corpóreas quanto na depressão ao “acordar do transe”. Frágeis como um copo de vidro tornam-se a auto-estima e as relações sociais dos dependentes. Aos fortes, vem a disposição para emergir do álcool e deixar de castigar o próprio corpo e as pessoas com quem convivem.

Estes passam a combater os desejos mais ardentes de voltar ao universo dos sonhos, para não comprometer a própria realidade. Ignorar os persistentes comerciais de cerveja e seu incentivo ao consumo excessivo do produto, além de sua proteção (se necessário) com a própria vida, ao salvá-lo de tubarões e desastres naturais.

Cerveja e terremoto
http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&NR=1&v=wD6-QeagcAE

Aliás, aquele da Skol, do pára-quedas, é plágio da Budweiser:
http://www.youtube.com/watch?v=TdTeBwtUmkI


Enfrentam a publicidade de uísque e outras bebidas, além das implicações sociais de não tomar vinho ou champanhe (especialmente nas festas de fim de ano). Convivem com preconceito, privações e a batalha de reconstituição das relações sociais assoladas pelo alcoolismo. Nada mais justo que lembrá-los, ao menos um dia no ano: Nove de dezembro, dia do alcoólico recuperado.

Drinks sem álcool: http://www.youtube.com/watch?v=D3kotColQhw&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=eZaogIWhW4o&feature=related

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O paradoxo do machismo

Cultua-se aquilo que se admira, um motivo de inspiração. Pode ser por desejo de "posse" ou modelo a ser seguido. Mas se o indivíduo cresce, tornando-se o que admirava e não deixa de cultuar os modelos a serem seguidos, o que resta é o desejo de posse.

A crença de que o homem é superior à mulher só seria pertinente, partindo de um homem, se este admirasse outros homens mais do que as mulheres. A crença, além de pretexto para que ordens sejam dadas sem empatia, pode ser motivo para todo tipo de agressão.

Agressão não se resume a atos físicos: pode ser verbal ou partir de atitudes direcionadas ao constrangimento alheio. Portanto, pode ser causada por humilhação, traição e ameaças.

Razões da violência? Possivelmente a frustração com o padrão de heteronormatividade e de ter de parecer heterossexual (por isso ser casado). O cônjuge passa a detestar a esposa e tenta encontrar prazer "experimentando" várias mulheres, às vezes simultaneamente. Mesmo assim não se sente realizado. Passa a odiar as mulheres em geral e decide maltratá-las. Resta à esposa conviver com um homem contundente, que agride não só a ela, mas aos filhos e qualquer um que assista às cenas de maus tratos. Os braços fortes que deveriam proteger a família passam a atacá-la. Um homem que poderia ser exemplo para seus filhos torna-se seu maior inimigo e motivo de vergonha.

Em pesquisas realizadas, constatou-se que a maioria das mulheres suporta a violência doméstica por questões financeiras. As dificuldades para conseguir o próprio sustento e o dos filhos impõem a permanência na mesma casa do agressor. Mas há aquelas que, apesar de tudo, não perdem a capacidade de amar e têm a esperança de que o marido mude. Não mudará. A diferença será visível apenas nos filhos, que terão sempre memórias do convívio familiar e poderão perder muitas das melhores coisas da vida, inclusive a capacidade de acreditar no amor.

domingo, 20 de novembro de 2011

Melanina cultural

A escravidão foi parte da cultura de diversos povos, que assim puniam devedores e prisioneiros de guerra. Em relações ecológicas, algumas espécies praticam o esclavagismo, como ocorre quando formigas aprisionam um pulgão. No Brasil, apesar da persistência do trabalho escravo em algumas circunstâncias (mesmo com a proibição legal), o exemplo mais marcante da prática foram os trabalhos forçados dos africanos que aqui chegaram. Muitos não aceitavam as condições impostas, tentando a fuga daquela situação até por meio de suicídio. Os que conseguiam escapar "com vida" mudavam-se para os quilombos.

Em 20 de novembro de 1695, foi morto nas proximidades de Recife o líder quilombola mais famoso da história brasileira: Zumbi dos Palmares. A data tornou-se o dia da consciência negra. Ao contrário do que muitos pensam, Zumbi não foi o fundador do Quilombo dos Palmares: a comunidade teria surgido com o líder Ganga Zumba. Sua liderança foi passada à Zumbi quando os integrantes recusaram-se a aceitar um "acordo de paz" com a coroa portuguesa, ao qual Ganga Zumba quis aderir. Zumbi discordou e seus colegas o escolheram para comandar o quilombo.

Alguns historiadores afirmam que no quilombo todos eram livres, estando entre eles índios e brancos de baixa renda. Outros dizem que havia escravos no próprio quilombo, sendo Zumbi resistente apenas à própria escravidão, tendo perseguido negros que se recusavam a permanecer no quilombo. Mas a maioria concorda quanto à sua atuação contra as constantes investidas militares na região, sendo o líder figura fundamental para a preservação daquela comunidade. Portanto, tornou-se símbolo da resistência negra e da luta pela liberdade.


Monumento em homenagem a Zumbi, no Rio de Janeiro.

Quase um século após a morte de Zumbi ocorreu a Revolução Haitiana, que determinou a independência e (conseqüentemente) a abolição da escravidão no Haiti, pois a população era predominantemente escrava. A batalha na colônia de Saint-Domingue, que culminou no rompimento com a coroa francesa (metrópole), fez do Haiti o primeiro país governado por afrodescendentes.



Quase cem anos depois, em 1888, o Brasil decretou o fim do trabalho escravo. Leis anteriores surtiram pouco efeito, pois eram incoerentes com a realidade vivida pelos negros: a Lei do Ventre Livre, de 1871, libertava recém-nascidos, mas mantinha seus pais escravos. A Lei dos Sexagenários, de 1885, libertava escravos com mais de 60 anos. Pouquíssimos atingiam a faixa etária e se atingissem, não teriam condições físicas de trabalhar pelo próprio sustento. O Brasil foi a última nação ocidental a abolir a escravidão.

Mesmo após a libertação dos negros, havia políticas que tratavam-nos como pessoas inferiores. A Revolta da Chibata, ao final de 1910, partiu de afrodescendentes da marinha brasileira, contra castigos corporais. Em 1948, foi adotado na África do Sul o Apartheid, que negava aos não caucasianos a presença em determinadas escolas e hospitais, além de dividir o espaço público entre áreas para brancos ou negros (Lei de Reserva dos Benefícios Sociais). Surgiram também leis de proibição de casamentos mistos (inter-raciais), áreas de agrupamento (definia locais em que determinadas etnias poderiam fixar-se). Criou-se a classificação dos afrodescendentes como "bantus", eliminando sua cidadania sul-africana e oferecendo-lhes um sistema educacional diferenciado (incentivo ao trabalho braçal).

Nelson Mandela foi ativista contra o Apartheid. Foi condenado à prisão perpétua, por recusar-se a abandonar suas reivindicações. Foi liberado após 28 anos de reclusão, por pressão da internacional. Foi convidado a integrar o Congresso Nacional Africado e posteriormente eleito o primeiro presidente negro sul-africano.



Contemporânea a Mandela foi a costureira Rosa Parks, negra que se recusou a ceder seu lugar no ônibus para um homem branco, em dezembro de 1955, nos Estados Unidos. O episódio teve grande repercussão e foi o ponto de partida para o manifestações anti-segregacionistas. O pastor Martin Luther King Jr concordou com a atitude de Rosa e passou a pregar, em seus sermões, o amor ao próximo e a não violência como formas de inclusão étnica. É freqüentemente lembrado por este discurso:

http://www.youtube.com/watch?v=yCLCyvF9p7g&feature=player_embedded

Ainda que não inteiramente realizado, seu sonho foi base para a recente realidade de muitos. Em constante transformação, como as células humanas, incluindo os melanócitos (produtores de melanina, pigmento que escurece a pele para protegê-la da ação de raios solares). A secreção em questão torna-se visível externamente, ao contrário de muitas no organismo, que teriam muito mais motivos para serem alvos de atenção. Tão insignificante nas relações humanas, não deveria ser a causa de tanto sangue e lágrimas derramadas. Somos todos da mesma espécie. Mas alguns se mostram mais evoluídos, por sua coragem de superar obstáculos impostos pela ignorância e a falta de altruísmo.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Modelos em escombros

Nesta semana foram divulgadas as imagens de um calendário produzido com modelos do Reino Unido: fuzileiros navais após operações em países asiáticos. Perdas físicas são visíveis, apesar do entusiasmo e da determinação aparentemente perseverantes nos guerreiros, em cenas de práticas de esporte e exercícios em academias. O fotógrafo responsável afirmou que a intenção foi mostrar que "há aspectos positivos na guerra".

Na guerra, corpos e mentes saudáveis são lesados pelo aparato desenvolvido para atingir "o inimigo". O "inimigo", como se vê, é qualquer forma de vida acertada pelo arsenal, não importando a que exército pertença. Pessoas de diversas faixas etárias, animais selvagens ou domésticos, lavouras, todos estão sujeitos à ação dos armamentos. Ainda que voltados a determinados segmentos, como o agente laranja, - desfolhante usado no Vietnã, para facilitar a visualização aérea de possíveis alvos - podem ter efeito catastrófico quando em contato com os demais: o agente em questão causou impactos à vida dos humanos que tocou, além de aumentar as chances de má formação em seus descendentes.

Se há algo de positivo nas conseqüências de uma guerra, especialmente para os soldados, talvez seja a percepção de que a destruição não tem farda: afeta tanto quem tenta causá-la quanto quem dela tenta fugir. Há a chance de surgimento de alguma empatia após essa conclusão: o indivíduo ferido de forma física ou emocional (inclusive pela morte de parentes ou companheiros de batalha) pode imaginar um "oponente" na mesma situação. Infelizmente, essa empatia, se não servir de estímulo aos anseios pela paz, é "consolo" para os rancorosos: seu sofrimento seria semelhante ao dos adversários.



O calendário então é uma forma de conscientização: registro da duração de um ano, em toda a sua "densidade", alusão aos desafios diários da vida dos ex-combatentes. Ex-combatentes? Não: presos a uma eterna batalha de superação, dependentes de um arsenal tecnológico e estratégias para o desvio de arrependimentos e péssimas lembranças do confronto. As fotos são o reflexo de que, diante de um confronto armado, mesmo os mais experientes, fortes e treinados são vulneráveis. Foram produzidas na unidade de Hasler, dedicada aos cuidados com os militares feridos. Na delicadeza das mãos de enfermeiros e fisioterapeutas recuperam-se "corpos sarados" incompletos e mentes deprimidas ou ligeiramente doentes.

Quando oficiais são vítimas de percalços, certas autoridades são mais facilmente sensibilizadas, criando instituições para cuidar dessas pessoas. Os mesmos órgãos são acessíveis a pesquisadores e empresas, não necessariamente conterrâneos, que ali desenvolvem soluções para aumentar o conforto e a mobilidade dos indivíduos. As soluções apresentadas tornam-se disponíveis a vários cidadãos acidentados, portadores de deficiência ou algum problema motor. Nesse caso, a interação entre pessoas diferentes, educadas ou não para pensarem da mesma forma, atende interesses convergentes. Daí poderia vir a mensagem de esperança que o calendário quis transmitir. Portanto, mais útil que sua presença na parede dos civis seria sua existência nas mesas dos gabinetes de políticos, para que as conseqüências de uma guerra e da união entre pessoas sejam sempre lembradas.

Fotos usadas no calendário dos fuzileiros ingleses
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/11/111109_fuzileiros_galeria_fn.shtml

Sugestão de filme sobre a "apologia" à guerra:

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Reitoria e mídia ocupadas



A atuação de policiais no campus da USP – Universidade de São Paulo – divide opiniões... Entre os próprios alunos e poucos indivíduos que buscam uma versão dos fatos diferente da relatada pela maioria dos jornais. Várias pessoas não têm divergências de opinião, já que aceitaram a visão pré-fabricada por determinados meios de comunicação: Taxaram de “vagabundos” e “maconheiros” os manifestantes, sem ao menos tentar descobrir as causas dos protestos e confrontos com a polícia. Claro, eu também não estava lá nos dias em que tudo aconteceu, mas creio que seria interessante fazer algumas considerações.

A “incompatibilidade” entre o movimento estudantil e os policiais é antiga, tendo sua maior expressão no período da ditadura militar. A época é referência para o ativismo de hoje, constantemente interpretado como “rebeldia sem causa”, já que aos olhos de muitos a democracia e a liberdade de expressão já estão devidamente estabelecidas e não há razão para ações tão contundentes.

Atitudes nos protestos nem sempre são condizentes com os ideais pregados: a democracia e a liberdade defendidas são “postas à prova” quando ocorre a depredação do patrimônio público ou a “libertinagem” em relação às substâncias consumidas no campus. Ideologias libertárias e propostas de novas políticas quanto à descriminalização das drogas (por exemplo) tornam-se pretexto para que limites de conduta em ambientes públicos sejam testados. Tais excessos, como o vandalismo, podem ser pretexto para ações mais rígidas por parte de administradores e governantes. O anseio por mudanças, se expresso de forma irresponsável, pode lesar conquistas anteriores dos alunos e lesar a liberdade nas dependências do campus: a presença policial, antes com o intuito de evitar furtos e assaltos, pode começar a inibir também debates e conversas potencialmente subversivas, num ambiente que deveria ser livre para qualquer discussão, sob a alegação de que manifestações assolam a estrutura do campus, (financiada por dinheiro público).

A polícia militar (teoricamente) foi direcionada às instalações da universidade para diminuir a violência (incluindo assassinatos, como o de um estudante de economia, em maio deste ano). Segundo alguns alunos, há abusos por parte de policiais, como a abordagem de estudantes deitados nos gramados ou a revista de trabalhadores que “olham feio” para os policiais, ao andarem pelo campus. Professores da instituição também não estão imunes a procedimentos semelhantes.

Professor Luiz Renato Martins apóia a ocupação da USP
http://www.youtube.com/watch?v=8MTAcnr-LaQ&feature=share

Apesar dos excessos cometidos pelos estudantes, seria justo dar-lhes a chance de explicar as causas da revolta, freqüentemente atribuída somente à luta pelo direito de consumir entorpecentes nas dependências da universidade. Além disso, enfrentar a tropa de choque oferece riscos como o contato com sprays de pimenta, balas de borracha e cassetetes. Seria o direito de fumar maconha na USP o suficiente para impelir a permanência no prédio da reitoria? Ou há mais razões para os pedidos de negociação quanto ao policiamento no campus e a substituição da polícia militar por uma “guarda treinada”, sendo a detenção de usuários o “estopim” da revolta?

"O uso de drogas nunca fez parte da pauta do movimento"
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/11/entenda-ocupacao-feita-por-alunos-em-predios-da-usp.html

É pertinente buscar informações em fontes distintas, para que as conclusões não surjam apenas de uma das versões dos fatos. Já dizia a publicidade da Pepsi: questione!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Boca livre

O soteropolitano Gregório de Matos, considerado o maior poeta barroco brasileiro, era chamado "Boca do Inferno", por seus protestos rimados feitos em praça pública. Escárnio inteligente: humor politicamente incorreto no século dezessete.



Muito antes dele, como surgimento do teatro grego, havia peças denominadas comédias. Nelas, tudo poderia ser satirizado e era comum esse tipo de apresentação ter caráter político.



Gregório também viveu séculos antes da ditadura militar, de modo que podia gozar de liberdade de expressão (para gozar de todo o resto). A censura impedia protestos de forma direta, induzindo artistas a "disfarçar" aquilo que queriam dizer. Só os atentos captavam as mensagens que as autoridades deixavam passar na fiscalização. Assim, no período destacaram-se compositores inteligentes, como Chico Buarque, cujo cálice foi afastado com a abertura política, ao fim da década de oitenta.



Geraldo Vandré foi mais direto na canção "Pra Não Dizer que Não Falei das Flores", sendo duramente perseguido.



A censura aos meios de comunicação, no Brasil, teoricamente teve seu fim quando os militares deixaram o poder. Hoje o conteúdo a ser exibido precisa do alvará de editores e patrocinadores dos programas. Há sempre o risco de desagradar pessoas influentes e o problema tende a ser resolvido judicialmente, com aplicação de multas e indenizações.

Foi o que ocorreu com o comediante Rafinha Bastos, durante o "CQC" ("Custe o que Custar", exibido ao vivo, às segundas feiras, na Band). Anteriormente criticado por "apologia" ao estupro, afirmando que "quem estupra mulher feia merece um abraço", em sua última aparição no programa, Rafinha brincou com a gestante Wanessa Camargo, dizendo que "comeria" a cantora e seu bebê. A insinuação foi feita após comentário do jornalista Marcelo Tas, seu companheiro de CQC, de que Wanessa estava muito bonita grávida.

A piada sobre estupro rendeu a Rafinha o dever de se explicar ao Ministério Público, mas nem por isso a emissora excluiu o humorista de seu programa. Já o comentário sobre Wanessa, que em minha interpretação foi que Rafinha teria relação sexual com Wanessa estando grávida (assim transaria com a moça e o bebê simultaneamente), desagradou patrocinadores: Ronaldo Nasário (o "Fenômeno") telefonou à emissora para reclamar do conteúdo. O outro apresentador do CQC, Marco Luque, que tem um contrato com a Claro (sendo colega de Ronaldo) é conhecido de Wanessa e seu marido. Luque, apesar de rir da piada de Bastos ao vivo, publicou nota criticando a piada. Pesquisas com internautas constataram que a brincadeira do comediante foi altamente reprovada. Pela repercussão, é provável que minha interpretação da piada tenha sido muito ingênua ou otimista.



O fato é que, além de ter sido afastado do programa, o apresentador deixou de ter uma de suas matérias exibida, na semana seguinte: era uma conversa com crianças para saber o que pensavam sobre política e economia (foi anunciada em seu twitter). O CQC, sem Rafinha na bancada, não exibiu a reportagem, talvez para não mostrar a imagem do apresentador, "desgastada" após o incidente com a cantora. Já diziam os mafiosos: "abra a boca e a carteira com cautela". Alguns jornais afirmam que Rafinha Bastos pode ter que pagar uma indenização de cem mil reais ao casal, além de poder ser submetido a três anos de reclusão.

Mais reprovável que a atitude do humorista é a de querer punir com cadeia alguém que faz uma brincadeira em um programa ao vivo. Por pior que seja a piada (não só a feita por Bastos), uma suspensão na atração televisiva, o pagamento de uma multa (em valor que não precise chegar a cem mil reais) ou uma retratação seriam suficientes, em minha opinião. Detenção seria uma punição extrema, que além de exagerada para o caso (a meu ver), traria medo a outros profissionais da comunicação e do humor.

A repressão militar teoricamente não afeta mais a mídia. Mas talvez seja útil preservar a "censura do bom senso", medir as palavras quando dirigidas a um grande público. No caso de Rafinha, o humor "politicamente incorreto" é desnecessário, exagerado, chegando a ser grosseiro. O politicamente incorreto poderia ter apenas um caráter ativista, de protesto contra instituições ou líderes (por motivos justificáveis), mas tornou-se "obsessão" de alguns comediantes, possivelmente para atrair mais atenção. Humor inteligente não significa humor grosseiro: pode partir de observações, constatações, um sarcasmo mais leve e sutil. Do mesmo modo, quando desagradar alguém, deve haver negociação. A repressão para profissionais da comunicação também não precisa ser grosseira ou exagerada, como o cárcere. Por mais que se queira evitar a "libertinagem de expressão", deve ser mantida a liberdade de expressão.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O boticário

Dezoito de outubro: dia do médico. É considerado o protagonista da área da saúde, creio que não faltarão homenagens. Portanto, o texto de hoje tratará de um dos "coadjuvantes".. talvez não tão coadjuvantes assim. Por muitas vezes estarem atrás de um balcão, ou distantes do público, em laboratórios e farmácias, podem ter seu trabalho despercebido... o que de modo algum significa que seja menos importante (ou que aquilo que os clientes fazem ou consomem passe despercebido). São os farmacêuticos.

Farmácias estão por todo o lugar, em excesso tantos nas cidades de praias agitadas (oásis da juventude) quanto em comunidades nas quais os idosos predominam. São a primeira opção para obter material para curativos, remédios para compensar os excessos nas comemorações e aqueles materiais que constantemente são esquecidos na hora de arrumarmos as malas, mas que nem por isso são menos importantes: escovas de dente, absorventes, produtos de higiene pessoal e itens comuns em "pit stops" femininos, como maquiagens, escovas de cabelo e materiais para cuidar das unhas... Sem esquecer as lâminas de barbear (muitos homens tiram férias desses objetos quando estão em recesso, mas sempre há aqueles que preferem manter-se sem barba). Farmácias são a primeira alternativa para a compra de vários produtos, se não houver nenhum mercado ou loja de conveniência (de posto de gasolina) por perto. São o parada obrigatória para indivíduos alcoolizados, mães apreensivas com a febre dos filhos e até os que buscam benefícios estéticos, como furar a orelha ou adquirir tinta para os cabelos.

O que passa por suas mãos é visto, anotado... fica registrado no fechamento do caixa.
Podem existir câmeras de segurança. O farmacêutico sabe o que você foi comprar, sendo algo capaz de ser transportado sem constrangimento em carrinhos de supermercado ou de natureza mais sigilosa... aquele tipo de mercadoria que é constantemente embalada em saquinhos plásticos e embrulhos de papel pardo. Talvez haja alguma empatia nisso... Deve ter sido uma prática adotada por saberem como os clientes se sentem "traficando", fugindo da fiscalização, quando obtêm algo do qual outras pessoas não precisam (nem devem) ter conhecimento. Vai ver alguns desenvolvem a mesma ética, em relação aos segredos da clientela, que alguns padres afirmam ter no confessionário.
Compram-se:

Lactase



Métodos contraceptivos



Lubrificantes





Remédios para "adversidades" não muito respeitadas socialmente











Além das vendas, normalmente incluindo descontos, esses profissionais de jaleco também têm a função de produzir novos medicamentos e encontrar soluções com menos efeitos colaterais para a solução de problemas fisiológicos. É preciso estudar vegetais (fitoterápicos) e minerais (além do organismo humano) e conhecer as propriedades da combinação de reagentes (entre si e sua ação no corpo humano). É preciso força para macerar plantas e delicadeza para manusear pipetas. Há o cuidado para evitar contaminações e trocas de exames em procedimentos laboratoriais. Produtos vendidos são continuamente observados, para que prazos de validade sejam respeitados e lotes com algum erro na fabricação sejam recolhidos.

Seria justo mencionar os demais profissionais da área biológica: biólogos, nutricionistas, dentistas (ou cirurgiões dentistas, como preferirem), enfermeiros, auxiliares de enfermagem, agentes de saúde, fisioterapeutas, educadores físicos, psicólogos e os próprios médicos. A todos esses, parabéns pelo papel que exercem e por promoverem a qualidade de vida humana, diminuindo o sofrimento nos momentos em que a fragilidade humana é constatada e evitando que mais pessoas passem por situações semelhantes.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Ciência da vida



Era assim que chamava a matéria que lecionava. Tinha aparência nipônica, apesar de, segundo ele, ser descendente de índios e franceses. As diferenças que caracterizavam esse profissional já começavam por aí.

Natural de Santos - SP, tem um inegável sotaque paulista, que não agrada tanto os cariocas, como eu. Mas era impossível não se deixar hipnotizar pela forma como ministrava suas aulas, interessantes, divertidas e que transbordavam conteúdo. Duravam pouco menos de uma hora, mas nela absorvia-se muito mais do que em muitas aulas de tempo maior em faculdades. Comentários inteligentes e bem humorados completavam aquela odisseia do conhecimento, que preenchia estudantes e lotava salas de aula de cursinhos.

Era possível notar um entusiasmo e uma genuína vontade de viver, num sorriso constante e um olhar determinado. Atencioso, mas afirmava ter uma instabilidade de atenção que o deixava agitado, sendo inclusive motivo para apanhar de sua mãe. É, ele era espontâneo a ponto de falar sobre a própria vida na aula. Talvez por isso nós, alunos, chegávamos a confundi-lo com um colega ou amigo, na relação de afeto que acabávamos desenvolvendo por esse adorável ser humano.

Mas essa proximidade pode ter sido confundida por alguns com o descaso e a intimidade exacerbada. Por alguma razão, o educador foi desafiado pelo comportamento de alguns alunos e foi forçado a abandonar o cargo que exercia.

Desceu do tablado, palco de grandes artistas, que têm a habilidade de manter o olhar do público focado em sua performance, conseguindo a proeza de deixá-lo ansioso pela próxima apresentação. Há de continuar a viajar pelo mundo, nadando com os tubarões (agora só no sentido literal), descobrindo lugares e pessoas. Seguirá aprimorando a própria sabedoria, mas não mais a transmitindo do mesmo modo. A biologia descreve a arte da adaptação e esse profissional vai buscar um novo nicho, possivelmente um novo habitat, para encontrar o equilíbrio e desfrutar da ciência da vida.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Acendendo a discussão



Este ano foi lançado o documentário Quebrando o Tabu, disponível gratuitamente esta semana no site de um famoso provedor de internet. Produção do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (protagonista), do apresentador Luciano Huck e da produtora Spray Filmes.



Baseado em estatísticas e depoimentos de usuários, detentos, policiais e políticos, o filme abre a discussão evitando moralismo e antigos paradigmas, abrangendo aspectos socioculturais (incluindo povos pré-colombianos e a contracultura californiana, nos anos 60). São debatidas a subversão adolescente, o caráter político do uso de drogas para "negar convenções" e as conseqüências da proibição e do uso indiscriminado.

O cenário geopolítico estadunidense, com seus aspectos históricos e as circunstâncias (pertinentes ao assunto) encontradas por Jimmy Carter e Bill Clinton, ao assumirem o governo, são comentados pelos próprios ex-presidentes. Manifestam-se autoridades europeias de Portugal, Suíça e Holanda. França e Itália têm sua situação analisada. Há depoimentos sobre a força do narcotráfico na Colômbia e no México, além de um relato do ator Gael Garcia Bernal sobre o consumo de drogas e sua repercussão.



No Rio de Janeiro, há espaço para presidiários que tiveram algum tipo de envolvimento no tráfico falarem sobre o tema. O doutor Drauzio Varella descreve experiências na penitenciária feminina e o impacto da detenção nas famílias. São ouvidos o líder do projeto comunitário Afroreggae, especialistas em segurança pública e o escritor Paulo Coelho, que fala sobre as próprias vivências relacionadas às substâncias ilícitas.



O assunto constantemente censurado é explorado em conversas com adolescentes em escolas, que falam sobre a curiosidade e os possíveis impactos da venda sem tantas restrições. Visitam-se centros de tratamento de dependentes químicos e laboratórios de uso medicinal da Cannabis sativa. Os responsáveis são entrevistados.



Chega-se à conclusão de que a repressão policial e judicial não surte tanto efeito no controle do tráfico, além de oferecer um maior poder aos traficantes. A reabilitação traz mais benefícios quando desvinculada de aspectos criminais. Nos países em que a questão foi abordada de modo menos proibitivo, com mais alternativas aos que desejam abandonar o vício, houve uma queda no uso de entorpecentes, menor índice de contaminação por HIV e menos mortes por overdose.



É sugerida a descriminalização das drogas, ou seja, a perda da associação entre entorpecentes e o cárcere. Não exclui a chance de punição, desde que o desfecho seja outro: permita recuperação do dependente químico, com assistência médica, sem que ele adquira ficha criminal. Não se cogita a legalização, como na Marcha da Maconha. Legalizar seria permitir, sem objeções, a venda e o consumo.



O documentário não faz apologia ao uso de drogas: propõe meios de redução de danos causados por elas. A responsabilidade penal não é eficiente na diminuição do problema: É preciso pensar em políticas educacionais, informativas e menos violentas para afastar as pessoas (especialmente os jovens) dos riscos da dependência química. É necessário quebrar o tabu e falar sobre o tema.

domingo, 25 de setembro de 2011

O Bom e Velho Rock in Rio

Nasceu no Rio de Janeiro em 1985 e teve como berço a Cidade do Rock, construída em Jacarepaguá para receber o evento. O palco montado era o maior do mundo e a Cidade do Rock abrigava lojas e lanchonetes. Sua repercussão deve-se ao fato de que, antes de sua existência, grandes astros do rock internacional não costumavam vir à América do Sul. A ideia era permitir que o público latino pudesse ver de perto os ídolos e apreciar "o bom e velho rock n' roll". No festival, estiveram a australiana AC/DC, os ingleses de Iron Maiden , Queen , Whitesnake, Yes, Rod Stewart e Ozzy Osbourne. Da Alemanha, vieram os Scorpions e dos Estados Unidos, James Taylor. Os brasileiros participantes foram os cariocas do Barão Vermelho (ainda com Cazuza) e Os Paralamas do Sucesso, além de Ivan Lins e Pepeu Gomes.



Após o festival, o berço do "Woodstock carioca" foi demolido, por ordem do governador vigente, por motivo de reintegração de posse. A segunda edição aconteceu no Maracanã, há vinte anos. Entre artistas do exterior, predominaram os norte-americanos, com a presença de Guns n' Roses, Faith no More, Megadeth , Queensrÿche e a cantora Debbie Gibson. O rock inglês foi representado pelos grupos Judas Priest, Happy Mondays e os cantores Billy Idol e George Michael. Os noruegueses do A-ha e os brasileiros Pepeu Gomes, Moraes Moreira, Lobão somaram-se às bandas Engenheiros do Hawaii, Sepultura e Biquíni Cavadão. Naquela ocasião, a apresentação do New Kids on the Block causou polêmica entre os fãs do "rock de verdade".



Dez anos depois, a terceira gestação do Rock in Rio contou com a construção de uma nova Cidade do Rock, no mesmo espaço em que foi fundada a anterior. Adotou-se o slogan "por um mundo melhor" e surgiu a proposta de apresentações simultâneas, em ambientes distintos, nas tendas "Brasil" (para artistas nacionais), "Eletro" (com música eletrônica), "Raízes" (de música africana) e "Mundo Melhor" (de música internacional). Na abertura do festival houve três minutos de silêncio, representando um pedido de paz mundial. O evento tornou-se fonte de recursos para projetos educacionais da Unesco em comunidades cariocas, além de incentivos ao desenvolvimento de estratégias para a preservação ambiental.

Na terceira edição, a polêmica em relação aos convocados para tocar foi maior, pois integravam a lista Sandy & Júnior, Ivete Sangalo, Britney Spears e Carlinhos Brown (o qual foi alvo de vaias e garrafas d'água).



Este ano, a cantora baiana Claudia Leitte também não foi bem recebida pelos roqueiros. Vaias e gestos obscenos partiram da platéia quando a artista instigava o público a participar de uma coreografia. Talvez alguns perguntem-se: se não estão gostando, por que não se retiram do ambiente próximo ao palco? Simples: por se tratar de um festival, os shows ocorrem em seqüência e a "vaga" próxima ao palco deve ser guardada por quem desejar ver mais de perto o músico que se apresenta no show seguinte. Ausentar-se nas apresentações indesejadas pode ocasionar a perda de um lugar "precioso" para ver o ídolo. Para os menos resistentes, apresentações "desagradáveis" são úteis para ir ao banheiro (cuja fila dura quase um show inteiro) e aos locais de venda de alimentos.

Questiona-se nome do festival, que deveria ter apenas apresentações de rock. Sugere-se a criação de outros festivais, nos quais os músicos "não praticantes do rock" possam tocar. Mas apesar das discussões, a qualidade da performance de artistas consagrados é inegável. Impressionante como mesmo os mais velhinhos mantêm um padrão de agilidade e força na manipulação dos instrumentos musicais. Há artistas como o baixista Flea (da californiana Red Hot Chili Peppers), que além de executar com perfeição as músicas da banda, dançam vigorosamente no palco. Os bons shows com certeza justificam as horas de espera.



O Rock in Rio já ocorreu em Lisboa e na edição deste ano buscou-se um aumento da segurança para os participantes. A organização proibiu a entrada com caixas, isopores, capacetes, skate, patins, guarda-chuva, jornais ou revistas, bandeiras, faixas e bebidas alcoólicas. Não são permitidas câmeras fotográficas profissionais ou equipamentos de filmagem. Recomenda-se o porte de filtro solar, óculos escuros, boné e capa de chuva. Menores de catorze anos devem estar acompanhados dos pais ou responsáveis. Os portões ficam abertos das 14 às 4h e somente nesse período pode-se permanecer no local.

Para os que, como eu, não poderão desfrutar da música ao vivo, cabe assistir ao evento com mais segurança, no conforto do lar, via televisão ou internet (alguns sites realizam a transmissão em tempo real). E torcer não só por um mundo melhor, mas também pelo sucesso do evento e performances memoráveis.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Não quero assinar



Sim, é frustrante a insistência para voltar a assinar revistas. Nada contra as publicações, gostava das matérias e das imagens. Mas fui parando de ler revistas e percebi que dificilmente leio uma inteira. Prefiro buscar informações na internet, lendo só o que quero, "em tempo real". Há flexibilidade quanto ao conteúdo: mais extenso e específico, ou mais sucinto e de leitura rápida. Com links para outras notícias, animações. Contendo ou não opiniões dos leitores, que formam discussões, muitas vezes interessantes. Não significa que as revistas estejam obsoletas... Mas creio que hoje há maior dificuldade em atrair o leitor para esse tipo de publicação.

Talvez mais gente pense assim e haja uma queda no número de assinantes de revistas. Para compensar os "desertores", as editoras mostram-se mais ativas no convite a novos assinantes. Lembro-me quando, ainda criança, só via pessoas oferecendo "um brinde" em supermercados. O "brinde" era uma assinatura de revista, pela qual o "beneficiado" pagaria, contrariando noções anteriores de "brinde" no comércio: produtos ou serviços pelos quais não era preciso pagar. Cortesia por outro produto adquirido ou serviço contratado.



Os tempos são outros e a globalização oferece o (in)desejado onde os passíveis de gastos estiverem. A ação das editoras não mais se limita aos supermercados: pode ser presenciada até em aeroportos, como o Salgado Filho, em Porto Alegre. Além de um "campo de batalha" mais extenso, a guerra da persuasão invade caixas de mensagens (e-mails... até o momento, não chegaram às mensagens de celular, como os persistentes avisos de promoções da operadora) e até mesmo o (antigo) conforto do lar (eis algo que pode ter se tornado obsoleto): o telemarketing persiste em oferecer assinaturas de revistas, recusadas tantas vezes.



Seria falta de memória da empresa, esquecendo ligações anteriores? Por que não se esquecem de telefonar para a casa de antigos clientes?

Se o objetivo é demonstrar alguma saudade (hipócrita) dos ex-assinantes, as empresas agem mal, impedindo que eles sintam saudades das revistas. A vontade de voltar a ser assinante pode aparecer a qualquer momento, mas dificilmente surgirá se a editora e a revista passarem a ser associadas à insistência em aumentar seu número de contratantes. A atitude indica falta de flexibilidade e uma tentativa de ferir a liberdade de escolha dos clientes.

Na falta de respostas para explicar o fenômeno, talvez por falta de leitura de revistas, a solução é ter paciência recusar novamente a oferta.

Olhos Fechados



O REM, banda estadunidense de Athens(Georgia), formada nos anos 80, decretou hoje o fim de sua carreira.

A trajetória do grupo começou em 1979, quando o vocalista Michael Stipes,
estudante de artes nascido em Decatur e vivendo em Athens, conheceu o guitarrista Peter Buck, funcionário de uma loja de discos. Michael é o rapaz à esquerda, na foto acima, ainda com cabelos. Posteriormente, seria mais conhecido pela imagem de terno, com uma faixa azul desenhada no rosto, na região dos olhos, usada nos shows.



Talvez pela incursão de Michael nas artes, a banda tenha como característica videoclipes exóticos, como Stand http://www.youtube.com/watch?v=AKKqLl_ZEEY&feature=relmfu. , It's the End of the World http://www.youtube.com/watch?v=Z0GFRcFm-aY&feature=related e Überlin: http://www.youtube.com/watch?v=ZITh-XIikgI&feature=fvwrel

Os dois rapazes tornaram-se amigos e passaram a dividir um apartamento. Posteriormente, numa festa, foram apresentados aos músicos que completariam a banda: O baixista Mike Mills e o baterista Bill Berry. A primeira apresentação do quarteto foi na festa de aniversário de um amigo, numa igreja abandonada. Depois vieram performances em bares e restaurantes.


Na foto, o cabeludo à esquerda é Peter, seguido por Michael e Mike (que na primeira foto é o rapaz ao lado de Peter).

A repercussão trouxe propostas, para as quais era preciso o "batismo" da banda. Após várias tentativas fracassadas , surgiu uma medida drástica: os integrantes decidiram ir a uma casa alugada e beber um litro de cachaça (cada um). Deveriam escrever com um pedaço de carvão, nas paredes, todos os nomes que viessem à cabeça. No dia seguinte, limpando as paredes, encontraram o que viria a ser adotada como nome da banda: a sigla REM (do inglês "Rapid Eye Moviment", ou "movimentos rápidos dos olhos". Não estes que você faz enquanto lê o texto, mas os do quinto estágio do sono, no qual ocorrem os sonhos). Os primeiros trabalhos tiveram ampla aceitação nas rádios universitárias.

Coincidentemente, a banda está associada ao meu despertar para o rock internacional, na pré-adolescência. E antes que seja feita uma alusão maldosa à sigla, dizendo que as músicas do grupo "dão sono", vale lembrar que mesmo marcada pelo sucesso Losign my Religion http://www.youtube.com/watch?v=if-UzXIQ5vw&ob=av3e, foi intérprete de sucessos mais "animados", como Shiny Happy People http://www.youtube.com/watch?v=iCQ0vDAbF7s e Animal http://www.youtube.com/watch?v=rBYd--pPFT4&ob=av2e



A banda chegou a fazer um intervalo após a turnê de 1988, no qual Michael dedicou-se à pesca, Michael à sua produtora de vídeo, Mike a projetos paralelos e Peter, que também toca bandolim... ao ócio criativo. O retorno trouxe o álbum mais bem sucedido da banda, lançado em 1991.

Todo sono tem seu fim e os integrantes resolveram acordar para novas possibilidades. Willian ("Bill") Thomas Berry aposentou-se da música em 1997. A banda continuou a gravar sem ele, tendo sucesso com músicas como Imitation of Life http://www.youtube.com/watch?v=0vqgdSsfqPs&ob=av3n. O último álbum, lançado em 2004, teve letras mais politizadas e recursos sonoros distintos dos anteriores. http://www.youtube.com/watch?v=Hyk-Vdd_Qrk&feature=relmfu

Em nota divulgada há algumas horas, a banda decretou seu fim.



Como sonhos que preencheram a mente de quem dorme e valem a pena ser lembrados ao acordar, as produções originais e performances notáveis merecem ser conferidas. Felizmente, ao contrário dos sonhos, puderam ser registrados de modo a preservar detalhes e seu conhecimento pode ir além dos relatos de quem imaginou.
Supernatural http://www.youtube.com/watch?v=_We6ubpUHZs&feature=relmfu