segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Aos mestres

Educa..dor! Sim, não poderia haver sufixo melhor para o cargo, no momento em que vivemos. Faltam salários decentes, planos de carreira, incentivos e o devido reconhecimento aos profissionais da educação. Muitas vezes, há incompreensão e descaso por parte de alunos e pais desses alunos. O professor fica desamparado, sem apoio da diretoria e de políticas mais justas.


Ainda assim, os mestres não desistem e continuam a desenvolver soluções para os problemas do cotidiano.


Permanecem inventivos, fascinados pelo conhecimento e por novas maneiras de transmiti-lo aos seus discípulos. Mesmo que poucos estejam interessados ou demonstrem fé no conteúdo explanado e em sua existência no mundo em que vivem. 

Nem sempre é fácil crer nos ciclos, moléculas, histórias, reações e movimentos de partículas ou corpos extensos. O aluno pode apresentar certo ceticismo, como provavelmente os mestres um dia fizeram. Passado o período de "catequização" do aluno, é preciso encontrar meios de fazê-lo assimilar e memorizar o conteúdo. Aí entram os inesquecíveis macetes, exemplos e brincadeiras, que deixam o conteúdo mais atraente, divertido, simples e crível. Os mais habilidosos nessa arte são recrutados para missões altamente complexas, como integrar equipes de regate em cursinhos e heroicamente fazerem você atravessar as barreiras dos vestibulares.


Há os motivadores, que despertam nos alunos a autoconfiança e a coragem de batalhar por seus sonhos. Alguns até os ensinam a escrever o próprio destino, incorporando uma nova temática às suas vidas.


Outros são capazes de  mudar o rumo de uma nação e inspirar jovens de origens e dificuldades semelhantes, em todo o mundo, a conseguirem a própria ascensão. 








Os docentes, além de bons palestrantes (e um pouco artistas), devem ficar atentos às características e necessidades de seu público. Notar diferenças e construir novas abordagens, para alunos mais "niilistas", disléxicos ou excepcionais. É preciso paciência e sensibilidade... inclusive para de vez em quando fugir um pouco do assunto da aula e falar sobre o que os alunos querem ouvir.


Mas muito já foi dito, acabou-se o nosso intervalo. É hora de deixar o mestre aproveitar o pouco tempo livre do qual dispõe e cuidar de seus afazeres. Feliz dia do professor!

domingo, 14 de outubro de 2012

Carpinteiros do Universo

Tanto a se fazer e viver.. 

Tanto a ser dito, divulgado, denunciado... Votado, vetado, extirpado.
Mundo carente de consertos, ajuda, disposição para fazer o que qualquer um poderia, mas poucos fazem. Coragem de enfrentar o sistema e os que nele se estabeleceram e recusam-se a sair, dando a outros a oportunidade de tentar fazer melhor. Pensar em tudo o que deveria ser mudado (e no quão extenuante seria causar essas mudanças) traz um desânimo..


Complicado abandonar a rotina e a zona de conforto. Há sempre o medo da sobrecarga e do não cumprimento de obrigações estabelecidas... Vem daí a fuga da formação de vínculos com grupos de pessoas que, às vezes, têm as mesmas vontades e ideais que você. 

Ajudar requer esforço, tempo, tolerância. Leva à frustração com uma sociedade muitas vezes despreocupada, egoísta e insensível quanto às questões que para você não devem ser ignoradas. Surge a decepção com outros seres humanos que contribuem com o aumento do problema, abandonando e maltratando animais, jogando lixo em locais inadequados, violentando mulheres e crianças ou agindo de qualquer modo que piore o que seu projeto tenta combater. Há o estresse de conviver com problemas, além daqueles já existentes em sua moradia ou atividade profissional. Há também os desafios da convivência com seus colegas de projeto e divergências de opiniões.

O dinheiro talvez não compre a felicidade, mas é fundamental para suprir as necessidades das instituições. Na maioria dos casos, é preciso dinheiro para sustentar a própria gentileza e a solidariedade aos demais. O dinheiro compra (e aluga) espaço, funcionários, energia elétrica, água.. e tudo o que um abrigo (clínica, escola ou qualquer projeto social) exige. Na falta dele, vêm os pedidos de doações, nem sempre bem recebidos/compreendidos pelo público. 

Mas nem tudo está perdido! Se você deseja contribuir com um mundo melhor, sem "levá-lo nas costas", pode tomar atitudes simples e bastante relevantes:

Doe sangue e cadastre-se como doador(a) de medula óssea. Há baixíssima possibilidade de compatibilidade entre pessoas de diferentes famílias.. portanto, se for descoberta compatibilidade entre você e alguém à espera da doação, não recuse o procedimento: submeta-se e ajude. Dificilmente outra pessoa poderá substitui-lo(a) nessa situação.




Ajude instituições, principalmente as menores, aí de sua cidade. Se preferir não doar dinheiro diretamente, forneça materiais (alimentos, produtos de limpeza e higiene pessoal, roupas, etc). Incentive aqueles que têm coragem e disposição para aquilo que deveríamos fazer. Vale ressaltar que, sem doações, tempo e trabalho dos voluntários não serão suficientes para manter a atividade do grupo (causando seu fim e o agravamento de problemas sociais e ambientais amenizados pelo projeto).



A culpa das mazelas do mundo pode não ser diretamente nossa. Mas o interesse pelas soluções, a busca por informações e a tomada de atitudes mais conscientes e proativas são deveres de todo cidadão. 

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A César o que é de César


Na semana em que o texto "Por quem os sinos dobram?" comemora um ano de aniversário, o jornal Zero Hora divulga a perda do cargo e a condenação à prisão do reitor Antonio César Gonçalvez Borges.  










Marcada em laranja, a pessoa que vos fala, há mais ou menos um ano na reitoria ocupada.


Não posso dizer que a ocupação surtiu tanto efeito. Não sei nem se conseguimos chamar muita atenção para a causa. Mas o que foi publicado hoje responde as críticas da época: não estávamos errados.





terça-feira, 22 de maio de 2012

SiCKO Killer


Michael Moore mais uma vez põe o dedo na ferida dos EUA: sai da sala de espera e faz um exame no sistema de saúde do país.  

Na produção indicada ao Oscar de melhor documentário em 2006, ironia e sarcasmo, sem doses homeopáticas, são parte do tratamento dado aos planos de saúde estadunidenses. Os serviços públicos não ficam imunes e são comparadas amostras oriundas do Canadá, da Inglaterra, da França e de Cuba. 

Ao analisar os materiais e fazer o diagnóstico, o protagonista se mostra sensibilizado pela causa das pessoas com quem se depara e incrédulo com as discrepâncias entre sistemas de saúde pública nos  países que visita. Entre os depoimentos coletados está o de um político que receita o voto inteligente, por parte dos mais necessitados, como profilaxia contras as patologias crônicas sociais e administrativas. 



O filme é um convite à reflexão e às mudanças, preferencialmente antes de ficarmos presos à maca e não termos mais forças para remediar a situação.

Música que rendeu o trocadilho do título da postagem acima:
Psycho Killer, da nova iorquina Talking Heads:
http://www.youtube.com/watch?v=l5zFsy9VIdM

terça-feira, 15 de maio de 2012

"A fé que você deposita em você e só."



Enquanto alguns religiosos afirmam a existência de ex-gays (e outras transformações promovidas pela fé) , Fábio Marton define-se como um ex-crente. Seu livro, "Ímpio - O Evangelho de um Ateu", traz memórias de sua vida de crente, no interior de São Paulo e na capital paranaense. 

O jornalista participou do Programa do Jô e sua entrevista foi considerada uma das mais divertidas, segundo usuários do YouTube. 

Entrevista de Fábio Marton no Programa do Jô



Foi assim que a descobri e assisti. Fiquei interessada no livro, que tive a felicidade de encontrar na Feira do Livro, em Joinville.

O autor descreve comportamentos e pensamentos, em vários momentos de seu desenvolvimento, mediados pelo ensino religioso que recebeu. Divagações, dúvidas, dificuldades, surpresas, a paixão por ciências e a descoberta do rock permeiam um relato de busca de por conhecimento e uma verdade capaz de nortear a própria existência. 

O menino Fábio cresceu, tornou-se independente e alcançou a realidade que desejava, sem que para isso tivesse de esperar pela chegada aos céus. A aceitação do mundo como ele é, sem a permanência num universo paralelo por boa parte do tempo, contribuiu para melhorias na vida terrena do paulistano. Se efêmera, ao menos dela se tem certeza e durante muito tempo (na maioria dos casos), não há como dela fugir. Ao abandonar a procura por milagres, Marton pode se desfazer da cruz de paradigmas que carregava e de seu jejum de relacionamentos (afetivos e amorosos). Foi adotada, em palavras do jornalista, "a fé em se tentar algo sem saber aonde aquilo pode levar, que é a coragem".

Sarcasmo e ironia são traços da obra, além das constantes explicações sobre rituais e a criação de certas igrejas, divergências entre seus membros, origens das ramificações e estratégias de "marketing" de pastores. "Basta um cachorro para segurar duzentas ovelhas."



domingo, 29 de abril de 2012

Focando o olhar desviado


"Olhe nos meus Olhos" trata-se de uma oportunidade de perscrutar o mundo a partir da sensibilidade e percepção de um portador da síndrome de Asperger. Frustrações da infância e dificuldades no entendimento de sutilezas (determinantes) no mundo corporativo são descritas por John Elder Robison, que só aos 40 anos foi diagnosticado como Asperger.

Morador de uma pequena cidade estadunidense, o menino John tinha pouca interação com outras crianças, que preferiam não brincar com ele. Os adultos não o consideravam menos estranho e o jovem foi constantemente reprimido por seu comportamento inadequado. A falta de entendimento das questões humanas não se mostrava no relacionamento com as máquinas e as habilidades para consertos e aprimoramentos tornaram-se convites para a prestação de serviços. John foi contratado e reconhecido por seu talento e determinação, ocupando diferentes cargos em ramos distintos.

Crises no âmbito familiar permearam sua adolescência e parte da vida adulta, aliando-se à rejeição de um mundo externo desconhecedor das peculiaridades de pessoas como John. A capacidade de resiliência do autor é notável e o diagnóstico tardio fez com que ele, já mais experiente, pudesse compreender e explicar seu comportamento (além de sensações e pensamentos) em episódios anteriores.
Entrevista recente do autor: (em inglês)
http://www.thetowerlight.com/2012/04/qa-with-author-john-elder-robison/

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Quem espera sempre...



Cansa! A espera é quase uma irmã siamesa do tédio e raras são as situações em que estes componentes do lado negro da força estão desvinculados. A demora instiga a ansiedade, para que ela termine e o que aguardamos resolver chegue logo ao fim. Vem quase sempre acompanhada de incertezas do porvir(incluindo quanto tempo ela há de durar) e se regada ao medo, é desesperadora. Aliás, o medo só existe durante a espera: pelo fim ou pela chegada de um problema. O medo é reflexo de se conhecer a chance do sofrimento surgir ou se perpetuar.



Um banco de reservas é uma boa representação dos sentimentos de espera. Pode-se deduzir pelos lábios mordidos e cenhos contraídos que atleta nenhum prefere estar ali, nem mesmo num momento da partida em que a derrota seja inevitável. Sente-se impotente diante dos erros do time e dos acertos do adversário. Quer melhorar o placar. Os olhares fazem o que o todo o corpo deseja fazer: entrar em campo/quadra. Creio que em cada ocupante dos bancos haja sensação de que algo mais poderia ser feito pela equipe e esse algo poderia vir de si mesmo. Aliada à vitória, a espera acumulada é o combustível para que os jogadores se levantem apressadamente no final de uma partida, correndo ao encontro dos companheiros que participaram ativamente da competição.

A espera é algo tão assustador que filmes de suspense baseiam-se amplamente nesse recurso, com seus enquadramentos de expressões faciais de tensão quanto ao perigo iminente. A cena que causa mais medo ao espectador não é necessariamente aquela em que o assassino aparece armado e começa a atacar a vítima: muitas vezes é aquela em que os "inocentes" tentam fugir e ficam olhando ao redor, prevendo o desfecho daquela perseguição. A espera também ocorrer por pouquíssimo tempo, no intervalo em que o algoz é visto por sua presa. Com opções restritas, ela opta por gritar até o início do contato físico, ou até que gritar ainda lhe seja possível.

Uma imagem digna de capa de CD de banda de rock "agressivo", para mostrar o quanto seus integrantes "conhecem a dor", sendo então roqueiros mais respeitáveis... (tese defendida pelo cantor Lobão, que participando de um programa na TV, afirmou: "quanto mais adereços soturnos e ameaçadores, mais roqueiro você vai aparecer diante do seu meio social.") Se esquecida pelas bandas de metal ou rock progressivo, a "passividade inquietante" foi devidamente reconhecida pelo grupo carioca O Rappa, como um bom nome para um álbum com músicas de caráter reflexivo sobre as mazelas da sociedade: "O silêncio que precede o esporro".



O tema seria igualmente bem aproveitado com as imponentes sentenças "os minutos antes de apresentar seminário", "a véspera divulgação da lista de aprovados no vestibular", "as horas anteriores ao teste de autoescola" e outras frases de conteúdo sádico, possivelmente censuradas pelas gravadoras ou produtoras de filmes de terror para que mentes mais sensíveis pudessem continuar saudáveis.

Infelizmente, o "repouso forçado" não pertence somente aos filmes de Hithcock ou aos intervalos comerciais de programas que tragam alguma notícia (aquela mesmo, que todos querem assistir e que sempre vão passar no próximo bloco, mas só aparecem no fim do programa). A vida nos impõe muitos bancos de reserva: torcida pelo abandono de vagas dos que passaram em concursos (para que existam vagas remanescentes e outros candidatos possam ocupá-las), a chamada para uma conversa séria, o período que passamos sentados à procura avisos para embarque ou desembarque. Ainda que, sabendo da efemeridade da própria existência, o ser humano tente arduamente abreviar a espera e desenvolva as mais variadas tecnologias para apressar o ritmo dos acontecimentos.

Depois de algum tempo, a calmaria deixa entediado até o viajante sobrevivente de tempestades e condições ambientais extenuantes. O desconforto da espera, se não vem da dúvida ou do medo do sofrimento, vem da certeza de que o tempo corre (algemada ao punho ou permeando pensamentos diários) e de que não viveremos para sempre: temos medo de desperdiçar o tempo e pressa para experimentar o que suas frações têm a oferecer.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Escritores do próprio destino

A atriz Hillary Swank, após as atuações em "Menina de Ouro" e "P.S.: Eu te Amo", mais uma vez protagonizou um relato comovente: a história real de uma professora disposta a incentivar os alunos a melhorar a escrita do próprio destino.

A palavra "caligrafia" vem do grego. "Cali" significa bonito(a) e "grafia" é o mesmo que escrita ou registro. Portanto, pode-se dizer que a "grafia" tornou-se "caligrafia", após a intervenção da profissional, que tinha como objetivo fazer seus alunos enxergarem seus dilemas e desejos, enquanto contavam-nos aos demais: cada aluno foi convidado a escrever um diário, cujo conteúdo poderia ser compartilhado.

Num ambiente em que as diferenças étnicas e o preconceito ditavam o comportamento hostil dos alunos, atividades como uma dinâmica em que semelhanças foram apontadas serviram para estabelecer uma relação de respeito (e posteriormente amizade) entre a turma.



A dedicação e o trabalho árduo da educadora apresentaram resultados muito além dos esperados. Os jovens passaram de excluídos a empreendedores (quando arrecadaram dinheiro para um de seus projetos) e administradores de sua vida.

"Escritores da Liberdade" traz uma visão otimista e inspiradora da capacidade que cada indivíduo tem de aliar conhecimento a transformação. Motivador para qualquer educador, não só os profissionais da educação: somos todos educadores, já que nossas atitudes tornam-se exemplos (bons ou ruins) e nossa conduta dita as respostas dos indivíduos que conosco convivem. Indiretamente, interferimos no comportamento alheio.



O judoca Flávio Canto, ao comentar um projeto social no qual trabalha, disse que "passado não é destino". O filme, resumidamente, demonstra o processo que deu o nome à ONG de Flávio Canto: reação.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Olhar desbotado

O filme nacional "Olhos Azuis" traz um olhar nada celeste sobre as barreiras à imigração legal.



Imigrantes latinos são retidos na Alfândega do aeroporto JFK, para que Marshall, chefe do Departamento de Imigração, possa fazer sua "festa de despedida", antes da aposentadoria. O sarcasmo do chefe inicialmente diverte os colegas Sandra e Bob, que disputam o cargo a ser deixado por Marshall.

O brasileiro na alfândega:



Nonato graduou-se em História pela Universidade Federal de Pernambuco e teve dificuldades em se sustentar como professor. Pai da menina Luiza (não aquela que foi ao Canadá), decidiu trabalhar no exterior para conseguir mais dinheiro e enviar para a família no Brasil. Obteve sucesso como empreendedor, fornecendo refeições para trabalhadores noturnos.

Foi ao Brasil visitar sua família e teve surpresas ao passar pela alfândega, ao tentar retornar aos Estados Unidos. Como historiador e imigrante legal, critica a "recepção" norte-americana e as situações pelas quais precisa passar para viver no exterior. Torna-se porta-voz de todos aqueles que buscam uma vida melhor fora do país de origem. Considerações interessantes também são apresentadas por uma bailarina cubana, que vai aos EUA a convite de uma companhia de dança, e pela brasileira Bia, que ajuda Marshall em sua jornada pelo Brasil, determinada por um trágico incidente.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Letrinhas da SOPA

"Old pirates, yes they rob I" ("piratas antigos, sim, roubaram-me"), disse Bob Marley referindo-se aos que lucraram com antigas colônias de exploração (países como a Jamaica, terra natal de Bob). Pois agora, os "piratas" em questão (ou corsários, já que contam com o apoio governamental) desejam proteger a fortuna (financeira e cultural) que construíram e saquear a liberdade de compartilhamento de conteúdo na internet.

A internet é um recurso interessante para que todos tenham acesso à informação de modo rápido e gratuito. Torna inexistentes distâncias intercontinentais e fronteiras, dispensando também aduanas e uma fiscalização mais rigorosa. Não há revistas, nem cota de importações. Um imenso Duty Free livra consumidores não só dos impostos, mas também de taxas de aquisição dos produtos. Estes preenchem a bagagem cultural dos usuários, podem instigar-lhe reflexões e o entendimento da realidade de outras nações: comparações importantes para que tomemos atitude, seja ela a de imitação ou ações para que o demonstrado não se repita onde vivemos. Sensibilização, empatia e ativismo podem partir do material disponibilizado.

Sites de "distribuição" de informações (de todo o tipo, não apenas as "eruditas") são uma ferramenta de mídia em que qualquer pessoa pode atuar: não há a passividade exigida pela televisão, da qual somente recebemos conteúdo. Internautas têm o poder de criticar, elogiar e questionar um material, discuti-lo em fóruns, falar diretamente com o autor da publicação. Qualquer cidadão pode postar um vídeo registrando problemas em sua comunidade, divergências entre a realidade e o discurso de representantes. Todos são livres para falar a um grande público, mostrar sua criatividade, divulgar o que desejarem. Dividir boas experiências... inclusive músicas, seriados e filmes.



Aí estaria o problema: o milagre da multiplicação do material "protegido" por direitos autorais. A propriedade intelectual deixou de ser "propriedade": é distribuída sem restrições. O beneficiado não precisou pagar pelo que recebeu, mas o mesmo não ocorreu com produtores de filmes, músicas, livros e softwares: artistas, editores e todos os envolvidos num processo de criação deixam de receber por parte do que produziram: Livros, CDs e DVDs que seriam comprados são simplesmente obtidos por download. Profissionais envolvidos perdem o dinheiro útil para quitar dívidas de produções anteriores e na realização de novas produções. Sabemos o quanto é difícil viver de arte ou apostar na ideia de um novo produto a ser lançado, como fez Steve Jobs (aquele mesmo, da Apple). É preciso buscar patrocinadores e honrar compromissos, convencer os demais de que aquilo em que se acredita trará resultados positivos, sendo então digno de confiança e investimentos. Ninguém, nem mesmo os criadores, têm a certeza de que a empreitada dará certo. Corajosamente arriscam ao pensar nas possibilidades. Portanto, é justo oferecermos mais que o aplauso e a admiração, pagando pelo serviço prestado.

Apesar de interessante para os produtores como publicidade de um trabalho executado (para que muitos conheçam as obras e passem a acompanhar seus idealizadores), o compartilhamento sem tarifas tem as mesmas conseqüências da pirataria. Assim, autoridades dos Estados Unidos propuseram a SOPA (Stop Online Piracy Act - "Paralisação da pirataria na internet") e o PIPA (Protect IP Act - "Ato de proteção à propriedade intelectual"). As medidas favorecem produtores, mas assolam a liberdade de disseminação de conteúdo na internet. Preveem rigorosas punições aos "Robbin Hoods" da internet, além do fechamento de sites de compartilhamento (como YouTube) e download (Megaupload - já fora do ar - Rapidshare, 4Shared e Pirate Bay). O Google terá restrições e pode ser punido se um site de compartilhamento aparecer como resultado da pesquisa efetuada. Estima-se que 70% dos resultados de busca no Google seriam omitidos.

Entre opositores estão Tim Berners-Lee (inventor do World Wide Web - WWW), Mark Zuckerberg (do Facebook) e os responsáveis por organizações como Twitter, Google, Yahoo!, LinkedIn, Mozilla, Zynga, Wikimedia, Amazon e eBay.

A rede televisiva CBS, a produtora Walt Disney, Universal Music Group, Toshiba e Wal-Mart são favoráveis às medidas. A Eletronic Arts (criadora de jogos como The Sims e Simcity) e Sony retiraram seu apoio após protestos, que também foram suficientes para suspender a votação das propostas.