segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Anothe Brick in the Box



Pirando a cabecinha estavam as felizes crianças que puderam desfrutar do brinquedo mais interessante dos anos 90, ao menos na minha opinião: invenção dinamarquesa, o Lego foi assim chamado pela aglutinação dos termos "leg" e "godt", que compõem uma expressão que poderia ser traduzida como "brincar bem". Criado na década de 30, ganhou o mundo nos anos 60, chegando ao Brasil na década de 80.

Além do diferencial de estimular um uso mais abrangente da criatividade, dando noções de espaço e modelos tridimensionais, permite que qualquer criança se torne arquiteta ou engenheira de um mundo particular. Mundo que, com alguns períodos de rotação do mundo real, acaba sendo modificado e o brinquedo perde seu caráter lúdico. Mas nem por isso precisa ser abandonado:



É uma ferramenta usada por algumas "crianças maiores", em universidades, no ensino de engenharia e mecatrônica. Mas se você, como eu, cresceu e não "brinca" mais com os tijolinhos, pode doá-lo a alguém que queira construir bons momentos de infância com ele. Como o próprio Lego ensina, as peças que se encaixaram em uma brincadeira podem ser doadas a várias outras.


Digníssima arte em Lego:

Videoclipe "Fell in Love With a Girl", da banda norte-americana "The White Stripes".

http://www.youtube.com/watch?v=q27BfBkRHbs


Esculturas de Nathan Sawaya

http://www.brickartist.com/gallery.html

sábado, 20 de agosto de 2011

Tecendo Mudanças



Pessoas são muitas vezes usadas como parte de um sistema, de uma causa maior. Precisam suprimir alguns de seus anseios e desejos individuais em prol de um bem comum, de interesses que podem ir além de sua compreensão. Prendem-se à rotina de estudos e trabalho, raramente para seu próprio progresso ou pela vontade de prosseguir na própria evolução psicológica: são impelidas pela necessidade de ganhar mais e trabalhar menos, ou simplesmente em condições menos extenuantes e desagradáveis que as do emprego anterior.

Em busca de um tratamento mais digno por parte da sociedade, da valorização do próprio esforço (recompensado por melhores salários), muitos abandonam o conforto e as certezas e vão ao encontro de novas oportunidades. Sabendo disso, alguns contratantes aproveitam a ingenuidade e a inexperiência alheia, aliciando profissionais em potencial, para que se tornem, não mais engrenagens, mas peças de um tear.

Há mais de duzentos anos, a escravidão foi abolida, não só no Brasil. Mas recentes inspeções em ateliês de fornecedores da empresa Zara, foram encontrados trabalhadores em situação de escravidão.



Dos 51 trabalhadores, 46 eram oriundos Bolívia e estavam clandestinamente no Brasil. Os demais eram brasileiros. Começavam seu expediente às sete, terminando-o às 21 horas. Recebiam vinte centavos por peça produzida.



No local, além de produtos Zara, foram encontradas peças das grifes Cobra D'agua, Billabong, Brooksfield, Gregory, Tyrol e Ecko.



O tear manual já foi usado em ato pela liberdade, quando Gandhi, ao pregar a libertação indiana do povo inglês, decidiu vestir-se com o tecido produzido por si mesmo. A roupa, que desde a Antiguidade representa status, seria a mesma entre ricos e pobres, diminuindo a discriminação pela indumentária. Sugeriu aos seguidores que fizessem a própria vestimenta: a roupa comprada era produzida em indústrias inglesas. Deixando de consumi-la, haveria um enfraquecimento da indústria britânica, fomentando a indústria têxtil indiana, que estava em crise. Gandhi afirmou que não havia beleza em um tecido causador de sofrimento.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Leve a Consciência Leve



Ação aparentemente banal, a de encher um carrinho de supermercado. A forma moderna de caçar e coletar, sem a necessidade de sujar as mãos de sangue. Mas a embalagem esconde, além do conteúdo, os processos de produção. Não é mais um texto sobre alimentos e derivados de animais. Trata-se de produtos testados em animais, excluindo aqueles da área médica, que em muitos casos precisam ser testados em animais. Refere-se aos cosméticos, produtos de limpeza e outros itens de supermercado, que muitas vezes não precisam ser testados em animais.



Como a imagem deixa claro, há empresas que não realizam testes em animais, sem que seus objetos de produção e venda tenham qualidade inferior. No caso dos cosméticos, podem ser citadas as empresas Nivea, O Boticário, Natura, Nazca, Davene, Ox, Contém 1g, L'aqua di Fiori, Impala, Niasi, Embelleze, Revlon, Avon, Victoria Secrets e outras. Há alguns fabricantes de produtos de limpeza, como Ypê, e de acessórios de higiene oral, como Condor, também não testam seus produtos em animais.

Por que a preocupação? Testes em animais são bastante agressivos, pois tem como objetivo avaliar a sensibilidade à exposição a determinadas substâncias, aplicadas em qualquer parte do corpo (olhos e pele, principalmente, no caso dos cosméticos e produtos de limpeza). Sem imagens dos testes aqui. A idéia é chamar atenção para o problema e apesar de saber que imagens são muito mais marcantes, prefiro apenas usar "a vida secreta das palavras" aqui. As imagens são realmente tristes e comoventes. Não vou postá-las: é mais fácil querer ignorá-las (fechar a janela do blog) que dar atenção às palavras que as expliquem. Sem elas, talvez eu consiga atenção por mais tempo para a causa.



Vamos começar pelo teste de irritação ocular (draize eye test), realizado principalmente em coelhos, pois são animais baratos e dóceis (de fácil manejo). Os animais, conscientes, recebem aplicação dos produtos em seus olhos. Os testes podem durar de 72 horas a dezoito dias. Talvez nem precise dizer, mas os animais sentem dores extremas. Os efeitos nos olhos vão de úlceras à cegueira. Os coelhos são sacrificados (não, nesse caso não vou empregar a palavra "eutanasiados", pois é sim um sacrifício) para que sejam avaliados outros efeitos em seu corpo.

Há também a avaliação de irritação dermatológica, na qual o pelo do animal é removido (tosado) e sua pele é exposta. Comumente, usa-se fita adesiva, aderia à pele e arrancada posteriormente, diversas vezes, até que a pele do animal esteja em carne viva. Observam-se efeitos de ulcerações, descamações e outros.



Somando-se aos supracitados, há o teste LD 50, que avalia a dose letal de algumas substâncias. Produtos, como amaciantes, são introduzidas nos animais por meio de uma sonda gástrica, a qual pode causar morte por perfuração. Além de cabras, podem ser usados coelhos, ratos, macacos e gatos. A prática consiste em encontrar a dose responsável pela morte de metade dos animais avaliados. Ao fim do experimento, os animais sobreviventes são mortos.

Existem também experimentos de comportamento, armamentos, programas espaciais, colisões e os da área médica e odontológica. Em alguns casos, são feitas avaliações de substâncias não mais "potencialmente tóxicas", mas cujos efeitos já são conhecidos. Busca-se apenas encontrar a quantidade a ser disponibilizada ao consumidor, sem matá-lo (aliás, matá-lo sim, mas progressivamente): Há testes referentes à ingestão de álcool e tabaco. Cobaias são forçadas à embriaguez e inalação de fumaça de cigarro (em procedimentos separados, mas nem por isso menos cruéis ou desnecessários).



A vida é feita de escolhas, não só a sua, mas também a de outras pessoas e animais. Os rótulos e embalagens nem sempre têm todas as informações que desejamos. No caso dos testes, é preciso buscar em outras fontes. Apesar do "empenho", pode ser interessante ter a consciência mais tranquila, deixando de financiar o sofrimento. O bem-estar oferecido aos animais poupados pode chegar também ao consumidor.

domingo, 14 de agosto de 2011

Aos Pais



O primeiro lar, a primeira (e mais importante) luta pela vida. Um encontro entre duas pessoas promoveu um encontro entre gametas. “Filhos feitos de amor”, disse Tony Garrido. O amor é capaz de gerar uma família.

E mantê-la. Adaptar-se à nova rotina, de tarefas nem sempre tão agradáveis. Se perpetuar a espécie fosse tarefa fácil, não precisaria ser recomendada na bíblia. E são essas tarefas que acabam preenchendo boa parte do tempo destinado às paixões da juventude. O bar e o futebol com os amigos saem de cena para a vinda de atividades lúdicas. A vida se torna tão pacata quanto agitada. Aí surgem novos hábitos e preferências, tanto pelo tempo dedicado às novas atividades quanto pelo tempo que passa e modifica a mente e o corpo. O cinema é gradativamente substituído pela televisão e os jantares românticos tornam-se mais escassos em detrimento dos lanches e pizzas em família. Surgem preocupações... com estudos, planos de saúde, previdência, aposentadoria, finanças, aluguel.

Mas, de algum modo, aprende-se a amar tudo isso. Aprende-se novamente a brincar e a apreciar a magia de coisas antes despercebidas. A partilhar da visão das coisas de quem as observa pela primeira vez. A ensinar e perpetuar antigas brincadeiras, como empinar pipa e jogar pião e futebol de botão. E em algumas situações, como no ensinar a andar de bicicleta (com quedas e joelhos ralados), mostrar (e lembrar) o valor da coragem e da perseverança. Do levantar após cair, ainda que uma nova queda seja iminente, como quando um pequeno ser humano dá os primeiros passos na direção de braços maiores, mais fortes e abertos.

O que antes era banal, torna-se novo: palavras e gestos são expressos pela primeira vez pelo recém chegado ao mundo. São assim tão simples quanto especiais. Acompanhar o progresso de um novo ser pode ser entendido como um privilégio, do qual nem todos têm a coragem e a sensibilidade para desfrutar. Já dizia um geneticista, pais de crianças especiais tornam-se pais especiais.

Para o filho, o que antes era novo, torna-se banal, como aquelas frases e provérbios... Todo pai tem as suas citações favoritas, que invariavelmente se repetem. O tempo passa vêm o tédio e a rebeldia da adolescência. Por mais que sejam amados, os filhos sempre crescem e percebem que os adultos, incluindo os pais, não são perfeitos. Mas nem por isso deixam de ser heróis.

Às vezes é preciso ficar só. O anseio por privacidade e as obrigações com o mundo externo ao lar muitas vezes levam a certo isolamento. Mas é ele que nos ensina a sentir saudades. A pensar com carinho naqueles que amamos e a valorizar o tempo de convivência.

“Um homem deve ser belo aos 20, forte aos 30, rico aos 40 e sábio aos 50” (Provérbio árabe). Ser pai é com certeza uma forma de adquirir sabedoria: a casa clama sempre por novos consertos e os arranjos tão criativos e improvisados que só os pais sabem fazer.

Apesar de todo o trabalho e as dificuldades para criar e manter uma família, a felicidade é perpetuada com sua existência. Enxerga-se prazer em coisas simples, como saber que a prole está bem. E sempre inventar uma nova forma de se divertir, com ou sem sua companhia.

Feliz dia dos pais!

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Idoneidade de Papel



Mais um tijolo para o muro das lamentações. Melhor então que seja ecológico.



Sem lenço e sem documento não se deve andar, apesar do perigo de assalto iminente. Documentos são essenciais em várias situações e parte-se sempre do princípio de que somos desonestos: é preciso apresentar documento com foto, histórico escolar, título de eleitor com comprovante de participação na última eleição. Experimente tirar uma cópia autenticada de uma cópia de um documento, sem que o original esteja com você: impossível. É preciso provar que a cópia que você fez é realmente uma cópia, e não uma tentativa de "burlar o sistema". Do mesmo modo, além de mostrar seus documentos (sem malícia), é necessário inserir sua impressão digital no cartão-resposta de vestibulares e (em alguns) informar se você tem um irmão gêmeo.

Tudo para inibir a "corrupção", é compreensível. Mostra-se um "atestado de veracidade" emitido por determinada instituição pública. Porém, para não falar na facilidade em produções caseiras facilmente aceitas em fiscalizações (portas de boate, por exemplo), o sistema emissor de tais atestados não é imune à corrupção. É possivelmente mais desacreditado e suspeito que qualquer cidadão comum. Teríamos mais motivos para desconfiar de nossas instituições que de pessoas desconhecidas.

Fatos "suspeitos" em vestibulares e concursos são relativamente comuns, além de denúncias de fraudes e vendas de gabarito. Há diversos relatos de exceções à proibição do uso de calculadora ou da eliminação do candidato em caso de toques de celular. Eleições são permeadas de alianças e propagandas incoerentes, além de financiamentos (para campanhas, por exemplo) que muitas vezes superam o faturamento do candidato durante todo o seu possível mandato.



Você tem o direito de votar, mas muitas vezes isso não influencia o resultado das eleições. Não, de modo algum devemos anular o voto ou votar em branco.



Mas é desestimulante ver corruptos reeleitos. O poder de voto, uma arma contra maus políticos, acaba apontada para os próprios eleitores, que elegem muitas vezes representantes que definitivamente não se importam em melhorar sua vida. É quase um escárnio sermos portadores de título eleitoral.

No caso do "povo eleito", documentos que comprovem a desonestidade ou as más intenções de alguns são simplesmente ignorados. A impressão que se tem, às vezes, é de que apenas o "cidadão comum" precisa provar sua "idoneidade". Se provado que alguém é realmente infrator, os documentos perdem a importância: afinal, quanto mais corrupto, maior a tendência a ser poderoso. Quem realmente tem poder não precisa se submeter à lei. Portanto, a utilidade dos documentos está restrita aos inocentes. Não só no sentido de isenção de culpa em determinado crime, mas também no sentido de ingenuidade, que levaria à submissão e ao não questionamento dos procedimentos comuns.

Contudo, ratificando minha inocência, não tenho sugestão melhor que a apresentação de documentos para uma melhor identificação de seres humanos. Diria apenas que é frágil e seria mais inteligente implantar outro sistema, como o baseado na fotografia da íris. Reconheço que implicaria altos custos e um período relativamente extenso de adaptação de diversos setores. Mas mesmo com a adaptação, haveria a possibilidade de "sabotagem" de um banco de dados em que as fotografias de diferentes cidadãos fossem catalogadas.

Talvez mais importante que a fiscalização de documentos seja a de indivíduos responsáveis por instituições públicas, e a criação (e execução) de leis mais contundentes quanto aos casos de corrupção.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Muro das Lamentações



Iniciou-se o Ramadã, mês de jejum dos muçulmanos, período destinado também a muitas orações e mais atenção às escrituras sagradas (no caso, Alcorão). Mas você, pessoa distinta e culta (obviamente por fontes de conhecimento diferentes deste blog) percebeu que o texto não é relacionado à cultura islâmica, e sim a uma peculiaridade judaica: o muro das lamentações.

Uma breve história do muro: Resto (i)mortal do segundo templo judaico destruído (construído em substituição ao primeiro, literalmente derrubado por opositores, os babilônios). O muro teria "sobrevivido" porque os romanos, sob o comando de Tito, teriam deixado a relíquia como forma de lembrar os judeus da destruição de seu segundo templo. Talvez por sua origem "destinada" a lamentações, o muro tornou-se local de peregrinação para os judeus, que tradicionalmente depositam papéis com pedidos nas fendas entre os tijolos. No local também são realizadas orações.



Lembrando Pink Floyd, em "Another Brick in The Wall", o sistema (não só o educacional) tenta atribuir padrões às pessoas, talvez apenas por questões de registro e organização. Já dizia Raul, "quem não tem papel dá o recado pelo muro" (verso de uma das versões da música "Como Vovó Já Dizia") e "eu também vou reclamar" (é, fui dominada pela vontade de reclamar, sem que isso se torne reclamação de outra pessoa. Logo a reclamação não será feita ao vivo e sim aqui pelo blog mesmo).
Eis que fiz do texto a seguir o meu "muro das lamentações".



O relógio nas mãos de Raulzito, na imagem, já lembra algo incontrolável, porém controlador: o tempo. Claro, poderia me organizar melhor e controlá-lo (ainda que ligeiramente), mas a atividade foge à minha natureza de procrastinação. A primeira reclamação teria a ver com procrastinação, estudos e o posterior arrependimento. Contudo, falar sobre o tempo me lembra de que "não temos tempo a perder". Possivelmente, a pior forma de desperdiçar o tempo é usá-lo para reclamar. Portanto, tal qual o Muro de Berlim, meu muro das lamentações há de ser demolido, ao menos momentaneamente, em meus pensamentos. Sem que sua história desapareça, pois apagar o texto seria ago digno de mais uma (e só minha) lamentação.