domingo, 27 de fevereiro de 2011

O Corajoso Veneno do Escorpião



Ressaca cultural, depois de uma sessão de cinema que começou às 22h10min da noite de ontem e ainda não terminou. Eu dormi sim. Mas o filme ainda está passando em minha cabeça. Não pelas cenas de nudez ou sexo, nem as das peculiaridades dos clientes e programas. O que se sobressaiu foi drama pessoal de uma garota que teve oportunidades de estudar e se tornar "mais uma" em uma sociedade de aparências, consumo e status, mas fugiu dessa programação para viver outros tipos de programa. Conseguiu independência, sem limites e sem regras. O drama mostra como amizades podem ser frágeis à falta de comodidade ou benefícios e como drogas e perda do autocontrole podem ferir uma vida em formação.
O filme me lembrou Trainspotting (filme britânico de 1996) nesse sentido. O nome Trainspotting significa trilho (de trem) em inglês. Pode ser uma referência ao encaixe de pessoas em uma trilha, percorrendo o mesmo trajeto realizado por outros. Como vagões, as pessoas não fazem os próprios caminhos, apenas cumprem o que foi estabelecido. Não experimentam, não inovam. O filme revela a rotina de jovens dependentes químicos, que se decepcionam com o sistema.




A menina que deixou o bullying (na escola e em casa) para se tornar uma prostituta de luxo foi muito bem representada por Deborah Secco. A atriz foi capaz de mostrar a densidade psicológica em várias situações, mesmo em cenas de nudez, em que o corpo dos atores costuma ser o foco de atenção. O olhar de Bruna se destaca e transmite ao espectador os sentimentos de uma classe tão desvalorizada e maltratada pela sociedade: as prostitutas, que não vivem apenas em países emergentes, como mostra a série "A Profissão mais Antiga do Mundo", exibida no canal GNT.
http://ocanal.org/2011/02/05/gnt-exibe-documentario-que-investiga-prostituicao-sob-perspectiva-historica-2/

E assim como no documentário, a maior lição trazida pelo filme é a de não discriminar seres humanos por sua profissão ou escolhas em períodos conturbados ou de inexperiência. Por que condenar aqueles que optam por viver de forma mais intensa ou polêmica que a sua, quando estes não lhe roubam ou fazem algum mal?
Bruna Surfistinha deixa claro que a vida é feita de escolhas. Pode-se ser mais um, encaixar-se em um sistema previamente determinado, de estudos e trabalho com carteira assinada, no qual muitas vezes estão os reais vilões. É possível ousar e errar sem arrependimento, pois fazer o que realmente se quer envolve riscos. Assim se aprende e muito, mas pode trazer a si mesmo uma carga maior de sofrimento e más recordações. Mas as diretrizes de cada ser humano só dependem de sua busca por conforto e do alívio da própria consciência. A sociedade define paradigmas sobre o que é certo ou errado, mas na formação de cada um, eles se tornam apenas sugestões.

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