sábado, 12 de junho de 2010

Pára-quedas

Ah, que saudades da minha...sétima casa. E foi pensando nisso que saiu esta:

(Por enquanto, nada de reforma ortográfica por aqui)

O vôo estava quase lotado. Era a segunda linha que partiria naquela direção.
Passageiros apressados dirigiam-se às portas, sem exatamente saber se desejavam partir. Mas era uma das últimas oportunidades de embarcar no novo mundo, de pessoas desconhecidas, experiências inimagináveis e infinitas possibilidades. Passaporte disponível apenas para os insanos; dispostos a abandonar a segurança do território já demarcado e reconhecido e partir rumo ao inimaginável. Talvez maior que a vontade de ir fosse o medo de perder a chance. E foi essa a razão de embarque de alguns.
Levando apenas memórias, sonhos e a personalidade ainda passível de transformações, eles partiram. Não era o primeiro vôo de alguns, mas em todos os viajantes havia certa apreensão.Como não temer os monstros invisíveis, que nos afrontam desde as grandes navegações?
A aeronave partiu, deixando rastros e saudades. Meses demorariam até que muitos fizessem o percurso inverso. Mas era tarde para descer do avião e cedo para desistir da viagem.
Às paisagens misturavam-se lembranças e reflexões. Cada indivíduo permanecia em seu universo secreto e intocável de pensamentos. Olhares curiosos dirigiam-se às janelas. E a cada mudança brusca de cenário, os ocupantes percebiam o quanto estavm distantes do conforto do lar. Mas o anseio por descobertas e vivências seduzia de modo a impedir qualquer arrependimento inicial.
Enfim, chegou-se ao destino. Fascinante pelas surpresas que viriam, preocupante pelos momentos de dor e solidão que surgiriam. Mas a bagagem abstrata que se seguiria dali e poderia ser levada a qualquer lugar compensaria qualquer sofrimento ou situação extrema. Assim era esperado.
Os ocupantes foram descendo, um a um, de pára-quedas. Sem medo do olhar dos sãos, que não fariam nada semelhante. E enveredaram-se por caminhos só considerados loucos poderiam trilhar. Tudo o que foi visto, sentido e percebido resumiria-se a palavras e fotos. Talvez alguns vídeos. As vivências só seriam realmente conhecidas por aqueles que as experimentaram. Só a estes seria reservada a sensação de voltar ao lar com um olhar diferente, para tudo e para todos. E a invasão de memórias a cada estímulo que lembrasse a viagem, pelo tempo que fossem capazes de se lembrar dela.

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