sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Modelos em escombros

Nesta semana foram divulgadas as imagens de um calendário produzido com modelos do Reino Unido: fuzileiros navais após operações em países asiáticos. Perdas físicas são visíveis, apesar do entusiasmo e da determinação aparentemente perseverantes nos guerreiros, em cenas de práticas de esporte e exercícios em academias. O fotógrafo responsável afirmou que a intenção foi mostrar que "há aspectos positivos na guerra".

Na guerra, corpos e mentes saudáveis são lesados pelo aparato desenvolvido para atingir "o inimigo". O "inimigo", como se vê, é qualquer forma de vida acertada pelo arsenal, não importando a que exército pertença. Pessoas de diversas faixas etárias, animais selvagens ou domésticos, lavouras, todos estão sujeitos à ação dos armamentos. Ainda que voltados a determinados segmentos, como o agente laranja, - desfolhante usado no Vietnã, para facilitar a visualização aérea de possíveis alvos - podem ter efeito catastrófico quando em contato com os demais: o agente em questão causou impactos à vida dos humanos que tocou, além de aumentar as chances de má formação em seus descendentes.

Se há algo de positivo nas conseqüências de uma guerra, especialmente para os soldados, talvez seja a percepção de que a destruição não tem farda: afeta tanto quem tenta causá-la quanto quem dela tenta fugir. Há a chance de surgimento de alguma empatia após essa conclusão: o indivíduo ferido de forma física ou emocional (inclusive pela morte de parentes ou companheiros de batalha) pode imaginar um "oponente" na mesma situação. Infelizmente, essa empatia, se não servir de estímulo aos anseios pela paz, é "consolo" para os rancorosos: seu sofrimento seria semelhante ao dos adversários.



O calendário então é uma forma de conscientização: registro da duração de um ano, em toda a sua "densidade", alusão aos desafios diários da vida dos ex-combatentes. Ex-combatentes? Não: presos a uma eterna batalha de superação, dependentes de um arsenal tecnológico e estratégias para o desvio de arrependimentos e péssimas lembranças do confronto. As fotos são o reflexo de que, diante de um confronto armado, mesmo os mais experientes, fortes e treinados são vulneráveis. Foram produzidas na unidade de Hasler, dedicada aos cuidados com os militares feridos. Na delicadeza das mãos de enfermeiros e fisioterapeutas recuperam-se "corpos sarados" incompletos e mentes deprimidas ou ligeiramente doentes.

Quando oficiais são vítimas de percalços, certas autoridades são mais facilmente sensibilizadas, criando instituições para cuidar dessas pessoas. Os mesmos órgãos são acessíveis a pesquisadores e empresas, não necessariamente conterrâneos, que ali desenvolvem soluções para aumentar o conforto e a mobilidade dos indivíduos. As soluções apresentadas tornam-se disponíveis a vários cidadãos acidentados, portadores de deficiência ou algum problema motor. Nesse caso, a interação entre pessoas diferentes, educadas ou não para pensarem da mesma forma, atende interesses convergentes. Daí poderia vir a mensagem de esperança que o calendário quis transmitir. Portanto, mais útil que sua presença na parede dos civis seria sua existência nas mesas dos gabinetes de políticos, para que as conseqüências de uma guerra e da união entre pessoas sejam sempre lembradas.

Fotos usadas no calendário dos fuzileiros ingleses
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/11/111109_fuzileiros_galeria_fn.shtml

Sugestão de filme sobre a "apologia" à guerra:

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