sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Idéias na Cabeça

A cabeça abriga suas idéias, não só do lado de dentro dela. O corte da cabelo pode representar ideologias e já foi símbolo de status em antigas sociedades. E ainda que não tenham a força (teoricamente) contida nos fios de Sansão, seus cabelos podem ser um diferencial e uma forma de identificar você (tanto entre as demais pessoas quanto permitir que você seja reconhecido por alguns idéias).
Cabelos crescem aproximadamente vinte centímetros por ano e são alvo de modificações quando se quer "mudar o visual", estar adequado a algum evento ou (não exatamente quando se quer, mas não se recusa a) participar de um trote universitário. Conta-se que desde os tempos da escola de Ulm (antiga escola de design, em Ulm, na Alemanha) havia a tradição de deixar carecas os calouros do sexo masculino.
Ficar careca sabendo que o cabelo vai preencher novamente o espaço por ele deixado já é desagradável, segundo os "calouros burros" com os quais tive contato logo após a tosa "oferecida" pelos veteranos. Mas e quando se percebe que os fios antes abundantes começam a ficar escassos? Para evitar a calvície, egípcios passavam gordura de animais (jacaré, cobra e outros) sobre o couro cabeludo (algo nojento até mesmo para a cerimônia de recepção aos calouros, citados anteriormente). O imperador Júlio Cesar teria desenvolvido uma fórmula que continha gordura de urso, vísceras de veado e ratos queimados.



Perucas surgiram pela necessidade de proteção contra o frio, em algumas regiões, e posteriormente não foi acessório usado apenas pelos homens: Em Roma, mulheres que desejavam ser loiras eram adeptas da peruca. No período monárquico, cabeleira farta era indicativo de poder. Por questões de higiene e praticidade, optava-se por perucas. Os primeiros modelos eram feitos de crinas de cavalo e bode. Luís XIV, rei da França entre 1643 e 1715, possuía mil perucas. Seu sucessor contava com uma equipe de cerca de quarenta profissionais responsáveis pela produção de suas perucas. A Revolução Francesa foi responsável pelo rompimento com antigos costumes da nobreza e o uso desses acessórios diminuiu. Porém, em outros países, a moda persistiu. Líderes do governo americano foram adeptos e até julho de 2007, perucas eram obrigatórias para profissionais da área jurídica em tribunais ingleses.

Em 1918, a estilista Coco Chanel lançou o corte que levaria seu sobrenome.



Entre os rapazes, tornou-se popular o topete do Tintin, criado para dar um ar mais "aventureiro" ao personagem.




Nos anos 30, os cabelos cresceram um pouco mais. Penteados como o cabaret (semelhante ao da Betty Boop), mais elegante e sem volume, e moon drop, para mulheres "doces, porém decididas", eram sucesso.




Os anos 40 foram marcados pela guerra e havia dificuldade em encontrar cabeleireiros. Mulheres optaram pelo uso de lenços e preenchimento dos cabelos com cachos.

Em 1947 surge o "New Look" de Christian Dior e os anos 50 trouxeram de volta a "feminilidade" e o "luxo". Os cortes eram mais curtos, com franja ou mecha caída na frente do rosto, para um ar mais "juvenil". Não havia mais a escassez de cosméticos do período de guerra e tinturas, alisadores e fixadores tiveram seu auge. Coques e rabos-de-cavalo tornaram-se populares.



Os anos 60 trouxeram o estilo "diva", com cabelos mais longos e volumosos, com franja. O visual em questão era chamado "moon girl", com roupas e acessórios (ligeiramente) semelhantes aos espaciais. No Brasil, uma das adeptas era Wanderlea, da Jovem Guarda. Brigitte Bardot preferia o estilo "sexy", com coque e mechas caídas no rosto. Havia também o London Swing (usado pela Mulher Maravilha) e o Chelsea Girls.





Com a beatlemania, também nos anos 60, rapazes imitaram os beatles nos cortes de cabelo.



Salsicha, do Scooby-Doo, nasceu em 1969 e aderiu.




O black pride ("orgulho negro") surge em 1967 e lança a moda do black power.



O rastafarismo nasceu na década de 20, mas a popularização de dreadlocks (ou rastafári) ocorreu apenas em 1979, após sua aparição em um filme. O rastafarismo não permite que os cabelos sejam cortados ou penteados e estes ficam com a aparência dos dreadlocks.





A moda hippie ganhou força nos anos 70, após Woodstock. Os cabelos eram expressão da liberdade incentivada pelo movimento e portanto não havia "obrigação" de penteá-los ou cortá-los. Flores enfeitavam as cabeleiras, talvez na tentativa de simbolizar o "paz e amor".



Nessa década, homens "não-hippies" aderiam à moda do topete e brilhantina.



O movimento punk adotou o corte de cabelo moicano, em referência aos índios moicanos: estes preferiam a morte à dominação pelo homem branco e o movimento punk é baseado na oposição à "dominação" pelo sistema vigente. O moicano é normalmente "penteado" em leque (fios "unidos", como em uma crista) ou spike (cabelo "dividido" em "espinhos").







Nos anos 80, estiveram na moda as permanentes, amplamente divulgadas pela TV. Em contraste com os cabelos volumosos, nessa década o movimento skinhead teve suas primeiras manifestações no Brasil. O termo skinhead é uma alusão à cabeça raspada.





"Short hair removes obvious feminity and replaces it with style" ("cabelos curtos substituem a feminilidade óbvia por estilo"), disse Joan Julian Buck, em 1988. E a liberdade de estilo imperou nas décadas seguintes. Nos anos 2000, a tendência emo conquistou pré-adolescentes.



Em 2002, o pentacampeonato da seleção brasileira difundiu o corte de cabelo de Ronaldo Fenômeno. Talvez uma homenagem ao Charlie Brown... Ou uma forma de ter cabelo na posição em que os calvos não têm.





Anos depois, a moda colorida trouxe de volta os exageros cromáticos da década de 80 e o corte "punk sertanejo" usado por duplas no começo dos anos 90.





Há espaço para todas as tribos e você é livre para se expressar. Mas ao contrário dos pensamentos, que ficam restritos à parte interna de sua cabeça (a não ser que você fale, escreva ou desenhe), o "cérebro pelo lado de fora" (definição de moda de Alexandre Hercovitch) ajuda em sua identificação. Esta pode ocorrer tanto por sua tribo e pessoas que tenham gostos semelhantes aos seus quanto por opositores. E o mesmo "comportamento capilar" que agrada a uns pode fazer com que você seja discriminado por outros. E aí a chapa(inha) pode esquentar.

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