sábado, 9 de julho de 2011

Formato FastA dos Pensamentos



FastA é uma forma de representação de sequências de nucleotídeos ou peptídeos, em formato de texto, usada na bioinformática. O texto de hoje não é sobre bioinformática, mas sobre uma a forma de arte que combina a capacidade de abstração à de expressão, sem a necessidade de cálculos ou representações matemáticas. Envolve transcrição e um mensageiro, mas não o RNA. Trata-se da escrita, que posterior às pinturas rupestres e ao desenvolvimento da fala, tornou-se forma significativa de acúmulo e transmissão de conhecimentos, tão vitais à ciência e (até mesmo) às áreas do conhecimento "rivais da literatura": engenharia e matemática.


Estima-se que a escrita tenha surgido em 3500 a.C., para o uso da matemática "financeira" e da contabilidade: era usada para registrar pagamentos de impostos e quantidades de mercadorias. Adquiriu diferentes conformações e complexidades, com diferenças em símbolos gráficos utilizados por diversos povos e o surgimento da pontuação, entre outras modificações. Pode-se dizer que se tornou mais complexa... principalmente no "declínio" da caligrafia, ligeiramente acentuada pela disseminação da máquina de escrever e da informática. Caligrafia é uma palavra de origem grega. "Cali" significa "bonito" e "grafia" representa "escrita" ou "registro". Mesmo assim, a palavra é usada tendo o mesmo sentido de "grafia", para representar um padrão de letras bonito ou feio (talvez este devesse se chamar "cacografia", pois "caco" significa "feio" em grego). A teoria mais aceita para o fato de escrevermos da esquerda para a direita é a que assim evitaríamos passar a mão sobre aquilo que escrevemos, "danificando" a escrita. Para não dizer que esquecemos os canhotos, vale lembrar que as escritas chinesa, japonesa, árabe e hebraica (usada pelos judeus) são feitas da direita para a esquerda.

Como qualquer forma de expressão ou de ciência, há aqueles que dela se utilizam com maior habilidade: escritores. É sobre alguns desses artistas (e suas obras) que falarei hoje.

Diria que alfabetização foi a maior herança deixada a mim pela educação básica. Fazer contas não foi algo tão marcante, nem sei dizer se aprendi antes ou depois de escrever. Aliás, dizer que aprendi pode ser demasiadamente otimista, se observar minha atual (falta de) habilidade para cálculos. Comecei a gostar de ler com histórias em quadrinho, mais especificamente da Turma da Mônica. Ganhei com elas alguma fluência e parti para os livros. Não lembro qual foi o primeiro livro que li, mas acredito que tenha sido um desta série:



Seria injusto não citar os de conteúdo mais denso (e que realmente fizeram a minha cabeça) e vieram depois, com os das séries do "Castelo Ra-tim-bum",



"Onde está Wally?",



Manuais da Turma da Mônica...



"Salve-se Quem Puder" e "Bruxa Onilda".



Falando em "bruxa", há outro livro bem interessante (inteligente e divertido), chamado "Manual Prático de Buxaria - em 11 lições", de Malcolm Bird. Foi um presente da minha mãe, quando fomos a uma livraria no Shopping Recreio, no Rio. O livro é tão bom quanto a lembrança que tenho daquele momento.



Posteriormente fui apresentada ao “Diário de um Adolescente Hipocondríaco"...



E o de sua irmã, Susie. Vieram a série “Obrigado Esparro”, de vários autores...



E os dois volumes de "Diário de um Magro", de Mário Prata, cujo título é um trocadilho com "O Diário de um Mago" (na época, desconhecido por mim), de Paulo Coelho.



O politicamente incorreto, como “Vizinho”, de Castelo, aliado a obras de humor ligeiramente sarcástico, como “Caçando Príncipes e Engolindo Sapos” (e a versão masculina, “Procurando Princesas e Encontrando Bruxas”), foram predominantes nesse período. Eram livros para adultos ou adolescentes, divertidos e de linguagem leve e simplificada. Parecia a melhor opção na época, já que não havia, como hoje, tantos livros voltados ao público entre nove e dez anos. Mas, voltando às origens, vieram este ano “A Vida Sexual da Mulher Feia” e “Dez(quase) Amores”, de Claudia Tajes (foto abaixo), de estilo semelhante aos comentados acima.



Aos onze, veio a série “Harry Potter”, de J.K.Rowling, “viciante”, se comparada às obras literárias que conheci anteriormente.



Gostei de "Depois Daquela Viagem", de Valéria Piazza Polizzi, que conheci na época.


Nesse período, tive o primeiro contato com os livros de Luis Fernando Veríssimo, em “Comédias para se Ler na Escola”.



O “Veríssimo pai” (Érico, à esquerda na imagem acima) surgiu em minha vida anos depois, na preparação para um vestibular, em que li “Incidente em Antares”. Ambos os “Veríssimos” escrevem de forma divertida e inteligente, mas sendo mais velho, Érico exige de seus leitores também mais “experiência de vida”, para compreender sua linguagem complexa e as alusões à história (Getúlio Vargas e até artistas como Hieronymus Bosch), além de mais “maturidade” para ler até o fim um livro consideravelmente mais extenso. E talvez por isso, mais marcante.

O vestibular também foi importante na transição de obras “adolescentes” para as “mais sérias”, como narrativas envolvendo problemas sociais. Houve exceções, como “Brasileiros Pocotó”, de Luciano Pires, que li aos quinze. Mas só o vestibular nos obriga a ler obras de teor “depressivo” como “Homens e Algas” (Othon D’Eça) e “A Vitrina de Luzbel” (Aulo Sanford de Vasconcelos). “Relatos Escolhidos” (Silveira de Souza) é um livro bastante deprimente, mas ainda pode ser “salvo” por um de seus contos, denominado “O Olho de Deus”. “O Guarda-roupa Alemão”, de Lausimar Laus, pode não ser tão “trágico”, mas também não pode ser descrito (por mim) como algo digno do tempo necessário para ser lido.



Vale citar o sofrível Macunaíma, de Mário de Andrade.
Apesar de muito bem falado, “Eles Não Usam Black-tie” (de Gianfrancesco Guarnieri) não me agradou muito.



Nunca tinha lido um livro inteiro de poesia, mas o vestibular instigou a leitura de “Quintana de Bolso” e de “O Código das Águas” (agradou-me bem menos que o Quintana, na imagem acima), de Lindolf Bell. Apesar das belas frases encontradas em alguns dos poemas, é uma obra bastante subjetiva (quase surrealista em alguns momentos). Vinícius de Moraes foi um dos poetas que tiveram livros nessa lista, anos antes, mas não li sua “Antologia Poética”.



Mas apesar das obrigações, as obras literárias do vestibular (especialmente as da Universidade Federal de Santa Catarina) trouxeram também prazer e uma transição “mais leve” que a supracitada para livros mais “adultos”. Entre os livros que gostei, podem ser citados “Relatos de Sonhos e Lutas” (de Amílcar Neves), “Encontro de Abismos” (Júlio de Queiroz), “O Pagador de Promessas” (Dias Gomes) e "A Mulher que Escreveu a Bíblia", de Moacyr Scliar (abaixo).



Também não posso reclamar de "Menino de Engenho", de José Lins do Rego.



Ariano Suassuna é o autor de “O Auto da Compadecida”, que despertou minha curiosidade quando assisti ao o filme homônimo. Mas só fui ter contato com seus textos quando “O Santo e a Porca” foi tema de vestibular.





“Dois Irmãos”, de Milton Hatoum (foto acima), relata a vida de descendentes de imigrantes libaneses no Amazonas, de forma cativante e interessante. Aliás, o verbo “cativar” traz à tona a citação “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, da obra de Antoine de Saint-Exupéry: O Pequeno Príncipe. Apesar de saber que é curto e considerado excelente, nunca o li. Talvez por nunca ter sido parte de lista de livros para o vestibular...



Após a transição, os quadrinhos fizeram nova aparição, com o sarcástico “Vida de Estagiário”, de Allan Sieber. Os marcantes "Marley e Eu" surgiram e "O Diário de Anne Frank" (abaixo) chegaram às minhas mãos.



Vieram”Quem Somos Nós?” (vários autores), muito esclarecedor e otimista quanto às possibilidades de interferência e mudança na própria vida, e dissertações de pensadores como Nietzsche (“Ecce Homo”) e Freud, com “O Mal-estar na Cultura” e “O Futuro de Uma Ilusão”. Seguindo a linha de mudança de paradigmas, chegou a mim, por recomendação e empréstimo, “Deus – Um Delírio”, de Richard Dawkins, o qual ainda estou lendo.



Diria que ler é uma das melhores formas de ter novas perspectivas e aprender sobre determinados assuntos, conhecer correntes filosóficas e mentalidades vigentes em determinados períodos da humanidade. Surgem novas visões de mundo e de situações específicas. Pode ajudar na formação de uma personalidade mais reflexiva e justa, influenciando até na maturidade. Ganhar vocabulário ou mais fluência em uso de pontuação é só uma conseqüência. Desse ganho surge a possibilidade (ou o prazer de) escrever. Possivelmente a necessidade de continuar escrevendo e o desejo de fazer da “engenharia das palavras” um meio de construir a própria felicidade. Escrever é a chance de ser conhecido por suas idéias antes de ser julgado por aparência.

Apesar da fama de suas obras, o escritor normalmente goza do privilégio de manter o anonimato e a privacidade na multidão. Características essenciais ao seu posto de observador atento e discreto, para que possa refletir e fazer das letras um meio de projeção e registro da própria consciência. Que nem todos vão ler, visto que é preciso haver o “processamento” adequado das informações. Às vezes laborioso e lento, mas não impossíveis de alinhar a semelhanças no próprio banco de dados. E assim moldar pensamentos divergentes, homólogos ou análogos.

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