terça-feira, 6 de setembro de 2011

Tarja Vermelha

Por que esconder uma parte de nossa história?



Momento especialmente marcante da trajetória brasileira, em que civis fizeram-se soldados de uma causa maior. Sangue, suor e lágrimas fluíram junto aos anseios por liberdade e dignidade. Indivíduos merecedores de terem suas histórias narradas às gerações futuras, talvez tratados como heróis. Idealismo corajoso que levou muitas vidas, mas deu margem para que os nascidos posteriormente pudessem realmente desfrutar das suas.



O trecho da história nacional que hoje está em sigilo é possivelmente o mais interessante. Seres humanos sem fardas, unidos apenas por ideais, sem salários ou condecorações envolvidas. Dispostos a enfrentar oponentes armados, com experiência em confrontos físicos, domados para o cumprimento de ordens que dificilmente seriam obedecidas sem que houvesse o processo de adestramento e a omissão da própria consciência.

O que leva alguém a torturar outro ser vivo, sendo ele (ou não) da mesma espécie? Um adulto a mutilar ou eletrocutar alguém que, como ele, sente dor, medo e se preocupa com entes queridos? Que, por amor a eles, preferiu sofrer as conseqüências (físicas e psicológicas) de não delatá-los?

Sob as vestes de guerreiros e patriotas, estiveram aqueles que lutaram contra as manifestações mais épicas de esperança e coragem de arriscar-se por uma sociedade que, pela entrega aos conflitos, muitos não teriam a oportunidade de conhecer.

Um agressor do próprio povo luta a favor de quem? Nação, por definição, é um conjunto de indivíduos, falantes da mesma língua, com características culturais comuns. O combatente a favor da pátria não poderia ferir seus semelhantes. É válido ter um exército que protege interesses políticos, em detrimento dos civis?
Homens de roupas camufladas esconderam mais que os próprios corpos em campos de batalha: velaram lembranças importantes da nação brasileira. Tão incômodas que mesmo aqueles que das trincheiras do governo tudo observavam (e comandavam), estando hoje protegidos pela ignorância de seus exércitos de eleitores, temem perder sua proteção contra as rajadas (provavelmente só de insultos e providências administrativas) que o povo (não mais oprimido) poderia lançar.



Famílias e amigos têm o direito de saber o destino dos desaparecidos: para onde foram mandados, como e quando foram executados. Cidadãos têm não só o direito, mas o dever de conhecer a própria história. "Quem somos" e "de onde viemos" sempre foram perguntas fundamentais, que devemos tentar responder. É preciso conhecer erros e fragilidades das instituições, para que fatos lamentáveis não se repitam e a sociedade possa tomar melhores rumos. Para compor a própria formação, é necessário saber quem foram (ou são) os verdadeiros heróis e vilões.

Nenhum comentário:

Postar um comentário